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Maria do Carmo Freitas

Aproveitando recesso escolar dos filhos, um adolescente de 13 anos e uma menina de 5, um casal amigo, resolveu visitar os pais dela, numa fazenda, no Estado do Tocantins. Ao todo seriam mais de 1.200 km a serem percorridos, num trajeto de 15 horas. 

A viagem foi resolvida meio de supetão e a expectativa em curtir uns dias tranquilos na roça, longe da agitação da cidade e do frio das Gerais, animava a mulher, que, ainda de quebra, mataria a saudades dos pais. 

A família é toda muito light. A alegria e educação faz gosto ver. O marido comunicativo, é pra lá de bonachão. A esposa é das artes plásticas e não costuma apelar com nada. Mas, segundo ela, o excesso dedo companheiro, às vezes, lhe tira do sério, e, olha que ela é calmíssima. 

Madrugada de segunda-feira, com a calma peculiar, a família adentrou no carro, um siena prata, novinho em folha e, pé na estrada. As crianças felizes porque iam rever os avôs, o marido porque ia descansar do trabalho burocrático, a mulher porque ia desligar da escola, dos alunos, da mesmice... 

Ela, com certeza, pensaria mais nas artes que a inspiraria: a bela paisagem, o rústico, o mato, o rio, a cachoeira e o aconchego da casa paterna. Assim, a viagem prometia. Na rodovia, a mulher perguntou ao marido se o tangue do carro de 45 litros, estava completo. Imediatamente, pensando no preço da gasolina, o marido respondeu que ele abasteceria num posto na qual a gasolina estivesse mais barata, à beira da estrada. A mulher começou a ficar meio encabulada, pois conhecia o excesso de confiança do marido e ela sabia que, em viagem de muito chão, não se pode vacilar, ainda mais com criança a bordo.

A cada km percorrido, ela o alertava sobre o combustível. Até que um determinado momento, um grito de mulher. Os dois ponteiros do carro se unirão. A gasolina estava no fim. O marido parou o carro assustado. "O que foi bem?". Ela ficou muda. Ele abasteceu e seguiram a viagem ainda com muito chão pela frente. 

De repente, as cidades, os lugarejos começaram a se distanciarem. Os carros que cruzaram por eles, eram escassos. Às margens da rodovia, a vegetação era de muito e gente de menos. As crianças dormiam, o marido cantava e a mulher olhava aflita os ponteiros. E, assim, sem acreditar no que viu, ela gritou: "O combustível acabou e agora?" Foi então que ele começou a ficar com medo da sua gracinha e perguntou para um homem que, por sorte, caminhava na rodovia. "Onde posso abastecer?" O homem respondeu: "Daqui a 18 km". A mulher esfriou e empalideceu. "Meu Deus!" O marido acelerou sem dar uma palavra.

Ao parar o carro no posto de gasolina, a mulher tirou o chinelo e lascou no marido e só parou por causa dos protestos da filha: "Mãe, não bate no meu pai. Mãe, não faz isso, eu gosto do meu pai, mãe, pai..."

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"Quem traz na pele essa marca,
possui a estranha mania de ter fé na vida.”

Estes versos de Fernando Brand sintetiza maravilhosamente, o ser mulher. Um ser singular e de múltiplas possibilidades. Um ser que tem o dom do amor e da emoção. Que mesmo nas adversidades, não desiste de lutar por uma vida e um mundo melhor.

No intuito de desvendar o “mundo feminino”, a mulher tem sido sujeito de estudo por parte de filósofos, sociólogos e (d) escrita em prosa e versos, por inúmeros escritores, no mundo inteiro. A escritora francesa Simone de Beauvoir, no livro, “O Segundo Sexo”, afirma que o ser mulher é uma construção, que se estabelece nas relações com o outro, nas suas experiências e vivências ao longo da vida. Também o filósofo alemão, Martin Heidgger, autor do livro “Ser e Tempo”, escreveu que o ser humano se faz nas vivências e experiências de seu tempo. No livro, “A Terceira Mulher”, o filósofo Gilles Lipovetsky, relata o percurso histórico vivenciado pelas mulheres no contexto social, cultural, político, econômico e religioso, abordando também a mulher reconhecida para procriar, perpassando pela exaltação da mulher, cantada em versos e prosa e, por fim, a mulher contemporânea, dona de si mesma.

No Brasil, a socióloga e psicanalista, Regina Navarro Lins, no livro, “A Cama na Varanda” aborda a profunda transformação ocorrida nas relações entre o homem e a mulher, a partir dos anos 60. Regina Navarro fala também da eterna busca da mulher pelo amor romântico, a repressão sexual e da manutenção de casamentos que trazem mais sofrimentos que alegria, mas, que são valores que vem de longe e prevalecem até os nossos dias, arraigados à mentalidade contemporânea. Em seu estudo, Regina aponta que, embora a moral patriarcal ainda embutida no pensamento atual, que gera muitos conflitos nas relações afetivas, sociais e profissionais, a mulher tem percebido as suas próprias singularidades, não tendo mais que se adaptar a modelos impostos de fora. Essa mulher que abre hoje, espaços para novas formas de viver, experimentando novas sensações. Um ser intelectual, integrada ao mundo. Uma mulher que se reconhece e se faz ser reconhecida como um ser capaz, tanto social quanto profissional. Um ser que, harmoniosamente, desenvolve um potencial criativo e não mais se limitando ao papel de esposa e mãe. Então, quantas mulheres cabem dentro de uma mulher? “Voltando a Simone de Beauvoir, que afirmou:” Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Cabe afirmar, ser mulher, é de fato, uma construção social, mas que se consolida a partir de suas relações interpessoais realizadas no tempo, espaço e contexto social, no qual está inserida.

Essas obras refletem o modo de ser mulher, que além de ser mãe e profissional, exerce outros papéis, vivendo os diferentes modos de ser mulher. Vale dizer que a mulher contemporânea é o reflexo das suas escolhas e das relações que estabelece com o outro, ou seja, a mulher constrói e re-constrói a sua identidade e a sua história diariamente. Então, mulheres são tantas quantas a imaginação e a fantasia permitirem, sejam elas reais e ou ficcionais.

Por isso, vale lembrar, dentre tantas, mulheres que foram modelos revolucionários e humanitários. Que transgrediram e colocaram na vanguarda o pensamento feminino. Mulheres fortes, cultas e dedicadas à causa que abraçaram. Madre Tereza de Calcutá, que se doou aos pobres, na Índia, Zilda Arns, médica sanitarista brasileira, que salvou a vida de muitas crianças, Nise da Silveira, psiquiatra que revolucionou o tratamento da loucura no Brasil, Frida Kahlo, pintora e ativista mexicana. Frida é considerada uma mulher a frente do seu tempo. Ela se transformou em um ícone do surrealismo e do universo feminino dos anos 50. Angelina Jolie, atriz americana, ativista política e humanitária, que luta pelos direitos humanos e das mulheres, Malala Yousafzai, menina, que luta pelo direito das meninas estudarem, no seu país, o Paquistão. Malala foi ganhadora do prêmio Noel da Paz, em 2014.

Na Literatura mundial e brasileira são muitas as personagens femininas, fortes, sofredoras, sedutoras e enigmáticas. Molly Bloom, no livro Ulysses, de James Joice, proporciona um passeio pela pluralidade da alma humana. Ema Barory, em “Madame Bavory”, de Gustave Flaubert, tem personalidade complexa: delicada, egoísta, dramática, ingênua... Tereza, em “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera, é um personagem que carrega dores e traumas, porém é fascinante e instigante. Na literatura brasileira, como não citar a personagem emblemática, Capitu, do livro “ Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Em Capitu cabem várias mulheres, o que faz dela umas das personagens mais incríveis já (d)escrita, da nossa literatura. Por fim, Macabéa, em “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector. Macabéa, pouco ambiciosa se entrega apropria sorte. Sua riqueza é a sua pobreza.

Dia Internacional da Mulher

Dia 8 de março, dia dedicado à mulher, é uma marca simbólica para lembrar um histórico de luta, reivindicações, conquistas e avanços, mas também para denunciar um cotidiano de exploração, preconceito, opressão, discriminação e, principalmente, da violência, que fazem vítimas mulheres, em todo planeta, sejam elas ricas, pobres, cultas, analfabetas, brancas ou negras.

A revolução Industrial e os avanços tecnológicos e científicos, que marcaram o século XX e, trouxeram mudanças significativas nas crenças e atitudes em relação à sexualidade, a liberdade sexual, que favoreceu à mulher o direito ao sexo com prazer e com o parceiro desejado. A descoberta das pílulas anticoncepcionais que permitiram a mulheres fazer sexo sem engravidar, mas não as livraram de um companheiro violento, que as exploram, humilham e as agridem, a cada instante.

O direito de votar e trabalhar não proporcionou a elas, mais dignidade no trabalho, mesmo sendo maioria nas fábricas, nas redações de jornais, rádios e tvs, nas universidades, no comércio, nos hospitais e tantos outros segmentos profissionais. As mulheres ainda sofrem uma jornada excessiva de trabalho e com baixos salários, o que comprova a desvalorização profissional, mesmo mostrando competência e criatividade. Mas, combater a violência na qual é vítima, diariamente, é principal luta da mulher, hoje, no mundo inteiro.

No Brasil, segundo pesquisa Data Folha, mais de 500 mulheres são agredidas a cada hora. A Central de Atendimento à Mulher denunciam que os 51,06% dos atendimentos correspondem à violência física e 31,10%, a violência psicológica. Esta pesquisa mostra ainda, que 70% das mulheres, sofrem violência dentro de casa. Vale dizer então, que o Dia Internacional da Mulher, além de comemorar as conquistas pessoais, culturais, sociais, políticas e religiosas das mulheres nessa trajetória histórica, serve para também denunciar a violência que assola todas elas. Que políticas públicas de apoio à mulher, sejam de fato viabilizadas. Que programas de proteção e acolhimento possam chegar a todas a mulheres, em todos os cantos do país. Que as mulheres pobres possam ter mais acesso aos exames preventivos de mamografia e do colo de útero e, principalmente, que a Lei Maria da Penha possa realmente punir os seus algozes.

Que este dia dedicado à mulher possa lembrar também as mulheres anônimas, comuns, trabalhadoras, mães, esposas, namoradas, amantes… Que as Marias, as Raianes, as Giseles, as Gabrielas... possam ser felizes, no trabalho, no amor e viver toda magia de ser mulher, colocando em prática toda a experiência que o mundo feminino lhes conferem.

Este texto eu dedico a Noida, moradora do bairro Rosaneves, que todo dia levanta às 4 horas da madrugada para trabalhar, voltando só à noite. Noida esbanja alegria e bom humor, apesar das dificuldades enfrentadas no seu dia a dia.

 

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“Eu não tenho tempo algum, porque ser feliz me consome.”

No mundo mediado pelo tempo virtual, é a agenda on-line que marca uma nova maneira de se vivenciar as emoções e valores, pois estamos diante de um sujeito que expressa os seus sentimentos e sua visão de mundo através das redes sociais. Um sujeito que direciona o seu olhar quase que o tempo todo para a tela do computador e a tecla do celular, porque o importante é manter um perfil virtual e alimentá-lo em série; ter um momento de fama, escancarando a intimidade, falando o que sente e o que não sente. É o tempo marcado pela excessiva informação virtual e, é nesse tempo que se vivi, se ama, se agride, se mata e se tenta resolver muitas questões, desconstruindo a subjetividade.

O sociólogo polonês, Zygmunt Bauman afirma que as sociedades contemporâneas não estão preocupadas com as relações duradouras  e, que o ser humano não está interessado nos vínculos duradouros, pois o que prevalece são as novidades constantes em um cotidiano apressado e que resulta em um emaranhado de encontros e desencontros, de chegadas e partidas, de medo e solidão. Segundo Bauman, boa parte das neuroses do homem contemporâneo nascem da fragilidade dos laços afetivos e que o amor está cada vez mais superficial, escorrendo pelos vãos dos dedos, mesmo que estejamos tão “necessitados.”

Necessitados um do outro, necessitados de carícia, de cheiro, de conversa ao pé do ouvido, de abraço apertado, necessitados, enfim, que acessamos mais o coração da nossa verdade pessoal, nessa aventura humana chamada vida. E  viver é um desafio constante.

Dessa forma, viver certas atividades podem ser insignificantes, sem graça e retrô aos olhos de muitos, pois não condiz com o “jeito moderno de ser.”  Entretanto, a epígrafe acima, é provocadora e nos convida a buscar e a vivenciar as várias possibilidades de ser feliz. Assim, um passeio, um lugar, a de arte de Frida Kahlo, a poesia de Mário Quintana, a voz de Stivie Wonder, um por do sol, a chuva no telhado, a brisa do mar, podem nos deixar feliz. Mas, sem dúvida, é no encontro com as pessoas que está a maior felicidade. “Todos nós buscamos o aconchego das pessoas. Não há felicidade sem o calor da lenha,” escreveu o poeta.

Esta metáfora ilustra a afirmação de que o objetivo da vida humana é a felicidade. E a felicidade pode estar também na concretude de pequenos gestos, reinventados pela arte da construção afetiva e do conhecimento que aproxima e favorece os vínculos enriquecedores e prazerosos do encontro com o outro.

Padre Fábio de Melo afirma que a experiência humana se desenrola na trama dos encontros e, que, devido a conscientização da nossa fragilidade, nos tornamos ainda mais necessitados uns dos outros. E, assim, quando emprestamos nossa energia ao outro, recebemos de volta a energia do cosmo. Se se na vida estamos sempre buscando o aconchego das pessoas, daí a necessidade de reinventar os sentimentos e celebrar com leveza os encontros em nossas andanças pelo mundo. Certificar que o amor é material e gestual: a mão que segura a outra no momento da alegria e da dor, da palavra que acolhe no momento de aflição e solidão, mas também dos corpos que se encontram para vivenciar a alegria e a diversão.

Assim, mesmo com toda rapidez do tempo, da nossa falta de tempo e da nossa pressa para resolver tudo, é necessário vislumbrar o singular, o peculiar e a sutileza. E foi num intervalo, que de repente, me permiti um passeio. Sim, um passeio daqueles que a gente fazia na infância e que era tão divertido e significativo para o nosso conhecimento. Sim, um passeio dentro de um encontro ou passeio mais um encontro. Um encontro de extrema felicidade. Felicidade que nasce da conversa, do riso, da música,  do encontro com a arte artesanal e da fruta que se torna arte nos diversos sabores.  “É a felicidade deixando de ser utopia porque entrelaçou a inteligência e o afeto do Outro.”

Um passeio e uma cidade barroca, secular. Uma cidade e uma feira de artesanato. Um passeio e o encontro de amigas. Amigas de infância, de estudo, de festas, de profissão e fé.

Uma Feira de Artesanato e o Festival de Jabuticaba, somando arte sacra e arte culinária, me fizeram descobrir que a felicidade anda embrulhada de diversos modos. Na procura pela peça mais bonita e do licor convencendo pelo sabor. No vai e vem de pessoas, que utilizam também a feira para passear, conversar, andar de braços dados, enfim, a felicidade que transcende do belo e da simplicidade. A arte do artesão, mostrada na beleza de uma obra gestada no interior da alma e concretizada pelas mãos. A arte poética e mistica que nos faz esquecer, ainda que temporário, o momento tão precário que vivemos. É poder da arte que humaniza e resgata a vida do caos.

A cidade e suas jabuticabas. Jabuticabas da qual se reproduz tantas delícias: geleias, licores, cachaça, pimenta, bombons, sorvetes … tudo confeccionado com qualidade, criatividade e amor. Jabuticaba que gera renda para o artesão e que dá visibilidade a cidade, divulgando-a Brasil afora.

Lembrando mais uma vez Fábio de Melo, quando ele diz que o amor é o maior de todos os artesãos,  pensei no artista de olhar sensível, que sente mais profundamente as dores do mundo e a sua própria dor, mas que transforma tudo em arte, que é fruto do seu amor.

O certo é que uma cidade, um passeio pode nos fazer feliz. Uma cidade de caminhos apertados, mas que respira história, tradição, que mantém seus costumes e crenças. Cidade onde se pode sentar em um banco da praça e se alimentar de uma boa prosa.

É certo ainda que a experiência humana vivenciada na simplicidade e na vagareza, é desafiadora e nos faz refletir: estamos todos inter-conectados, não existe mais distâncias. A vida deixou de ser artesanal. E, sem dúvida, tudo ficou mais fácil de ser resolvido; devemos utilizar a tecnologia a nosso favor. Mas, o imediatismo, a produção em série, coloca em xeque-mate a mistica da amizade.  Amizade que nos conforta e que nos ajuda a enfrentar os nossos medos. A amizade que nos instiga a buscar o encontro com a felicidade e a fazer fotografias mais verdadeiras.

Enfim, vale dizer que a felicidade é ação. É de ação que precisamos: trabalhar, doar, passear e aspirar. Aspirar escolhas e conquistas.

Em Sabará, a mesa foi posta: nos reaproximou, encurtou as distâncias e possibilitou indagações, inquietações e olhares novos. Por isso, provocará saudade. O passeio, o encontro foi em Sabará, mas poderia ser em outra cidade qualquer, pois nas casas do mundo há sempre varandas e cadeiras para quem ousa sentar. É só aceitar o desafio e entrar!

Este artigo eu dedico a todas as pessoas que foram a excursão em Sabará, no dia 3 de dezembro de 2016.

 

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"A política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque procura o bem comum". (Papa Francisco)

 

O princípio da democracia nasceu na Grécia antiga, quando, em praça pública, chamada Ágora, o povo era incentivado a participar da vida coletiva, discutindo seus problemas e ao mesmo tempo, procurando uma solução. Essa era uma forma de fazer política.

Então, desde os tempos antigos, os seres humanos buscam a melhor maneira de viver em sociedade e, com a própria evolução do homem, a sociedade se desenvolveu, superando os muitos desafios. Isso para que a própria vida humana continuasse a existir no planeta.

Aristóteles, filósofo grego, afirmou que o ser humano é um animal político, justamente por viver em sociedade, e não é uma escolha humana, é a única possível. Por isso, é característica marcante do ser humano conviver em grupos, tendo como fundamento a cidadania, a dignidade da pessoa humana e a construção de uma sociedade livre, participativa, justa, igualitária e solidária.

Hoje, o voto é uma das formas de se vivenciar a democracia. Ele representa a conquista de um espaço de prática coletiva da democracia. No Brasil, ainda que a qualidade da política praticada esteja marcada por maus políticos e pela corrupção, o voto, é a força da sociedade. É durante as eleições, que, oficialmente, o cidadão tem voz, sendo este o momento sublime da democracia.

Assim, ainda que a democracia no Brasil dê sinal de retrocesso e o processo eleitoral seja um modelo esgotado, pois grande parte dos brasileiros não consegue aceitar a política como um bem coletivo e as justificativas para tal são muitas: partidos em excesso e que não representam ninguém, a não ser os interesses de quem os dirige. Além disso, quando chegam ao poder, grande parte dos políticos não pensam no bem comum, mas sim em resolver os seus problemas e do seu grupo. Tudo isso junto e misturado, vão tornando a prática política inócua, desacreditada, fazendo da cena política, um teatro pobre e sinistro.

Mas, ainda assim, a política é o meio de valorização do ser humano, e as eleições são a única maneira disponível para que o cidadão lute e reencontre o respeito, a dignidade e os verdadeiros propósitos por parte de quem ele elegeu.  É também durante o processo eleitoral que as pessoas têm voz para falar dos seus problemas e do seu dia a dia sofrido e desigual.  Por isso, sem dúvida, as eleições municipais tornam os cidadãos mais conscientes, críticos, exigentes, pois eles acreditam que, com as suas participações, suas necessidades cotidianas serão atendidas.

É neste cenário de descrédito político que se desenrolaram as eleições em todos os municípios brasileiros e os resultados  deixaram recados importantes, sinalizando que houve mudanças no que tange a percepção da população em relação ao o que ela quer, ou não quer, da política e dos políticos. Vale lembrar que no país, 25 milhões de brasileiros não foram às urnas, o que representa 17,58% do eleitorado.

Em Ribeirão das Neves não foi diferente. O primeiro recado sinaliza que o cidadão nevense quer mudança no modelo de gestão, para isso acredita no efetivo realinhamento da vida política do município, o que significa dizer, mais investimentos nos serviços essenciais, que venham de fato alavancar o seu desenvolvimento político, econômico e social e, conseqüentemente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Vale lembrar que o exercício da democracia pelos cidadãos, se concretiza quando existe a proximidade direta da população na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano, aliados aos investimentos em políticas públicas nas áreas de cultura e de lazer.

Outro recado dado diz respeito à ruptura da população, quanto à subserviência aos deputados chamados majoritários e seus agentes de campanha. Esse fato sinaliza que os 160.707 mil eleitores de Ribeirão das Neves rejeitaram os políticos de carreira, que, na maioria das vezes, introduzem na máquina pública, muitos protegidos despreparados e desqualificados, mas que lhes garantem lealdade. Isso cria barreiras tão eficientes que os moradores ao serem blindados, desistem de suas reivindicações. Vale ressaltar que a troca de favores condiciona a construção da cidadania, pois conspira contra o bem-estar coletivo.

Enfim, o número elevado de pessoas que se abstiveram de votar não pode de forma alguma ser ignorado pelos eleitos. Num total de 35.454 eleitores, equivalente a 18,06% dos votos válidos, além dos 29.515 eleitores que preferiram anular o voto. As propostas dos candidatos não convenceram estes cidadãos.

Assim, o professor Juninho Martins (PSC), eleito para a Prefeitura de Ribeirão das Neves, com 68.656 votos, equivalente a 58,49% dos votos válidos, terá que vencer muitos desafios, principalmente em mostrar serviços não só para quem lhe deu voto. Espera-se também a reinvenção por uma cidade melhor e respostas urgentes dos eleitos, às necessidades da população por serviços dignos de saúde, educação, segurança, transporte e mobilidade.  É necessária a busca de investimentos para que o crescimento do município seja impulsionado de fato, melhorando a qualidade de vida da população.

Para isso, espera-se que o prefeito eleito tenha mais diálogo com a sociedade, nos seus diversos setores, seja pela causa dos menos favorecidos e dos de melhor poder econômico. Ele vai gestar para todos.  O verbo agora é escutar. Ele é a ferramenta do político moderno, que aprende com o povo, administra com o povo e, também sabe ouvir os reclames do povo, lembrando que os eleitos devem ter no currículo os princípios humanitários para tratar questões sociais e, principalmente, honestidade para administrar o dinheiro público. Ter, acima de tudo, um olhar à erradicação da pobreza, numa cidade com mais de 300 mil habitantes, fragmentada e sem identidade, mas que tem um povo hospitaleiro e pacífico.

Aos vereadores, cabe legislar com inteligência, fiscalizar com isenção, propor em favor do interesse coletivo, lembrando que o Legislativo Municipal terá uma renovação de 70%. Espera-se que eles tenham mais transparência em suas reivindicações e ações. Mais diálogo com as comunidades que os elegeram. Vereador que só pede emprego no Executivo para apadrinhados pratica uma política viciosa e perversa.

Por fim, a cada eleição, renascem os sonhos e a esperança de mudanças por uma cidade melhor.  A esperança de se ver mudanças na condução da coisa pública, esperança de ver mais seriedade e competência por parte dos eleitos e, principalmente, que eles assumam de verdade o compromisso  com  a coletividade e não com os seus próprios interesses.

Os sonhos são muitos, mas principalmente, o sonho  por uma cidade onde todo mundo possa existir, uma cidade mais cidadã. Portanto, por uma Ribeirão das Neves infinitamente melhor.

 

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Eu ainda não tinha muito interesse pelo futebol, quando Cruyff atingiu o apogeu, sendo aclamado pela imprensa e, grandemente festejado pelos amantes do futebol, entretanto, tive a curiosidade em conhecer o jogador que chamavam de gênio. Rapaz magro, cabeludo, 26 anos e que regia uma orquestra afinada: a seleção Holandesa também chamada de carrossel.

As matérias jornalísticas falavam que Cruyff não podia ser rotulado de atacante, de meia ou de volante, pois ele era tudo isso e um pouco mais. Era sempre onipresente nas ações ofensivas, fazia passes certeiros e perfeito nas finalizações, além de exercer em campo uma liderança exemplar.

Assim, tomei conhecimento desse jogador professor. Sim, Cruyff ensinou um estilo revolucionário – um jogo em que a ocupação de espaços era total. O Ajax e a seleção Holandesa jogavam assim.  Adversários sendo cercados por cinco, seis, sete jogadores. Esta visão inovadora ele levou para sua vida de treinador.

Cruyff, também chamado de holandês voador, foi maestro de uma das mais lendárias seleções de todos os tempos: A Holanda de 1974, que, em alusão ao filme do cineasta Stanley Kubrik, foi apelidada de "Laranja Mecânica". Vale lembrar que a Holanda deixou um legado que inspira até hoje times como o Barcelona e o Bayern de Monique.

Cruyff partiu dia 24 de março, aos 68 anos, numa batalha perdida para um câncer de pulmão, e a comoção tomou conta do mundo. Os principais jornais do planeta estamparam manchetes expressando o peso da sua perda para o esporte. Para o L'Equipe, respeitado diário francês, Johan Cruyff era como os Beatles ou Rolling Stones, o que vale dizer, um superstar de sua era, um artista dos gramados. O holandês Telegraf mostrou vizinhos do bairro onde ele cresceu em Amsterdã e, onde nas peladas de rua, já mostrava talento, ficando conhecido como “Jopie.” O Olé, principal jornal esportivo da Argentina, escreveu: "Muito Obrigado Cruyff", simplificando de maneira criativa a importância dele para o futebol mundial e, principalmente, o vazio que deixa a sua morte, ficando a certeza que Cruyff é um dos maiores da  história do mundo futebolístico, uma lenda.

O certo é que a forma de como Cruyff foi reverenciado, é apenas parte da amostra do que ele representava para o esporte. Jogador com visão moderna, de passes rápidos e precisos,  talento de sobra e  fome de gol. Não tinha só técnica, mas também futebol arte, ou seja, o futebol em sua mais pura essência: a incessante busca pelo gol. Jogador que impactou o mundo como só os grandes o faz: Pelé, Garrincha, Nádia Comaneci …

Para quem não viu Cruyff jogar ou ainda para os nostálgicos do bom futebol, o conhecimento e a saudade podem ser alimentadas através de vídeos, reportagem e biografias desse que foi um magnífico maestro: Johan Cruyff.

 

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Naquele 12 de dezembro de 1953, quando se emancipou politicamente, Ribeirão das Neves era um distrito com poucos moradores. A realidade era composta do que estava à sua volta, não havia imagem e a difusão dos acontecimentos era falha. Assim, o registro que foi para história é do texto que criou o município e de fotografias de um pequeno grupo político comemorando a emancipação, tudo de forma simples como convinha à época e, ainda que abrigasse em seu solo a Penitenciária Agrícola de Neves, a cidade era pacata e nada acontecia que merecesse a vigília da grande imprensa.

Hoje, Ribeirão das Neves vive no seu dia a dia a chamada "dimensão da informação" e tem permanentemente holofotes voltados para si. Veículos de comunicação mostram exaustivamente os problemas enfrentados pela cidade, explorando também a fragilidade e vulnerabilidade dos moradores. Isso porque é Ribeirão das Neves vive todas as contradições de uma cidade grande, que cresceu sem planejamento e que, ao longo de décadas, teve o crescimento econômico e social estagnado. Ao fazer a travessia, teve modificado os seus ritos religiosos e políticos. Teve ignorados os seus costumes, crenças e tradições. Hoje, está tudo junto e misturado, mas o sentimento de pertencimento não existe para maioria da população.

No campo da política, por ter um eleitorado significativo, é palco para caçadores de votos e muitos oportunistas de plantão, que visitam o município só em tempo de eleição.

Mas, ao comemorar 61 anos de emancipação, Ribeirão das Neves tem a seu favor as três esferas políticas, federal, estadual e municipal, sob o comando de um mesmo partido. Portanto, está numa posição privilegiada, fato que reacende a esperança de dias melhores para a população. É a chance que o município tem de alavancar o tão sonhado desenvolvimento, corrigindo as injustiças sociais e o atraso político.

Essa situação cria expectativas de mudanças e um olhar mais otimista, de que "agora" a transformação pode acontecer. É o momento de deixar para trás décadas de frustrações e exploração política. Mudar o cenário de loteamentos irregulares, ocupados pela população de baixa renda e que hoje cobra uma vida com mais dignidade.

Por outro lado, é hora de lembrar que aqui é o "espaço carcerário" imposto pelo Governo do Estado. E que esse Estado deve ao município investimentos reais e não ações paliativas e politiqueiras. A implantação dos presídios não foi acompanhada de contrapartidas e de investimentos relevantes que melhorassem a qualidade de vida dos seus moradores. Por isso, a demanda por investimentos em áreas como saúde, transportes e empregabilidade continua sendo preponderante para a população de mais de 300 mil habitantes.

É hora de rejeitar o município como sendo só um território de muitos votos e também de muitos problemas. De indicativos sociais tão explorados pela mídia e políticos oportunistas.

Vale lembrar que o Centro Industrial de Ribeirão das Neves - CIRIN - é um dos mais bem localizados da Região Metropolitana de Belo Horizonte. É ligado à BR-040, corredor de escoamento de mercadorias, interligado também  aos grandes centros industriais e de consumo, como Belo Horizonte, Contagem, Betim e Sete Lagoas.

Vale ressaltar também que, nos últimos três anos, o Governo Federal dispensou considerável atenção ao município, como as obras do Plano de Aceleração do Crescimento – PAC – que mudaram o perfil de muitos bairros, além de programas sociais que beneficiam famílias de baixa renda, como o Bolsa Família, CRAS, entre outros.  Além disso, a presidente Dilma Rousseff teve uma votação expressiva em Ribeirão das Neves, sendo ela sabedora de todas as carências da cidade.

Portanto, essa é uma oportunidade ímpar que o poder púbico tem de tornar Ribeirão das Neves uma cidade próspera e infinitamente melhor para se viver.

Chega de estigmas, de apontar a pobreza e a miséria dos moradores do município como castigo. Ribeirão das Neves é berço para uma parcela significativa de nevenses. É também teto para mineiros oriundos de muitos solos das Gerais. Este chão dos que nasceram e dos que o município adotou.

É hora de vencer os desafios. É hora de vontade política.

 

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