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Maria do Carmo Freitas

Sábado, dia 30 de junho, foi o prazo final determinado pela Justiça Eleitoral para que os partidos políticos fizessem as convenções e definissem as chapas dos candidatos a prefeitos e vereadores dos 5,5 mil municípios brasileiros.

A grande novidade da eleição de 7 de outubro, é  que os candidatos ao Executivo Municipal e ao Legislativo serão analisados sob a égide da Lei da Ficha Limpa, que proíbe  cidadãos  considerados ficha-suja a se candidatarem a cargos públicos.  Vale lembrar que a Ficha Limpa é o resultado da cobrança da sociedade brasileira, inspirada pelo brasileiro comum, cidadão que colheu assinaturas, que foi às ruas, praças e avenidas com crianças e jovens. Que levantou faixas e bandeiras, exigindo um novo tempo na política do país.

Agora, quando começa a Campanha Eleitoral é o momento de ver e cobrar se os partidos políticos e candidatos estão compromissados com a transparência e a  ética, se as propostas tiveram uma prévia consulta junto à  comunidade, se têm consistência para serem colocadas em prática ou se são meras propostas eleitoreiras. É fundamental que os candidatos demonstrem profundo respeito à coisa pública, descartando vícios rotineiros tão comuns à cena política brasileira.  Além disso, cabe  ao eleitor investigar a ficha do candidato, os seus antecendentes e, se o que ele propoẽ vem ao encontro dos anseios e necessidades da comunidade.

Vale ressaltar também que, em meio a Campanha Eleitoral, enquanto os candidatos estiverem nas ruas ou expondo suas propostas na propaganda eleitoral de televisão e rádio, O Congresso Nacional estará julgando a CPI do Cachoeira, e o Supremo Tribunal Eleitoral (STF) julga o escândalo do Mensalão de 2005, que sinaliza esquema de corrupção com financiamento irregular de campanhas eleitorais. Esse dois acontecimentos são emblemáticos e não podem ser esquecidos pelo cidadão e, principalmente, pelo eleitor que têm compromisso com a mudança e que acredita no voto como a única ferramenta para a mudança.

Portanto, o uso da máquina administrativa, propagandas irregulares, antecipadas ou fora de contexto devem ser coibidas com rigor pela Justiça Eleitoral, independentemente do CPF do candidato ou do CNPJ do Partido Político. É preciso também que o cidadão acompanhe, participe do processo eleitoral, denunciando as irregularidades, acabando ainda com o mito de que as punições eleitorais são fictícias e acabam sempre em pizzas.  É bom lembrar que é histórico a Lei da Ficha Limpa e que, finalmente, o Brasil aprimorou os mecanismos de controle e prevenção das irregularidades. Dois momentos distintos, na qual foi fundamental a participação da sociedade civil.

Assim, candidatos e Justiça precisam estar imbuídos do espírito ético-moral para dar dignidade ao voto. Cabe também ao eleitor pesquisar a vida do candidato e acompanhar os debates eleitorais para saber se os candidatos estão à altura do desafio de fazer dessa eleição, uma eleição de mudanças.

É certo também que o brasileiro demonstra cansaço e descrença quando o assunto é política, contudo, não fugiu à responsabilidade de buscar um país melhor: mais justo, solidário e ético. E, com certeza, saberá cobrar nas urnas.

 

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Maria do Carmo Freitas

O mérito de uma existência digna está na capacidade da pessoa equilibrar as ações do dia a dia,

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Maria do Carmo Freitas

Homenageio Antonieta, mãe, estrela guia, na minha vida é a primeira.

Falo para as

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No dia 16 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, que finalmente entra em vigor nas eleições municipais de outubro próximo.

Proposta nascida da iniciativa popular, que colheu mais de 1,3 milhão de assinaturas, a Lei da Ficha Limpa depois de votada, aprovada e promulgada pelo Congresso em 2010, só agora,  depois de dois anos e 11 sessões de julgamentos, é entregue à sociedade que a exigiu. Serão considerados inelegíveis os candidatos condenados em decisão colegiada, os que foram cassados pela Justiça Eleitoral e os que renunciaram para evitar a cassação. Felizmente, velho golpe de renunciar para depois voltar não vale mais. Isso representa ponto positivo para a cidadania brasileira. Além disso, a lei pode tirar de cena mais de uma centena de parlamentares que já sofreram alguma condenação. Vale lembrar que o impedimento os tirará também do páreo eleitoral por oito anos.

Por isso, é inegável que surge, neste momento, o sentimento que agora  haverá mais punições contra àqueles que descaradamente usam as artimanhas da corrupção para roubar a dignidade de milhões de brasileiros privados do direito à saúde, à moradia, ao lazer, ao consumo e, principalmente, de uma educação de qualidade, lembrando que ainda são 16 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria. Essa lei vem então, ao encontro de um justo desejo por mais moralidade na política brasileira e, com certeza, dará início a um processo de mudanças no perfil  dos políticos e exigir mais seriedade dos candidatos no que tange às propostas e o cumprimento das mesmas. Vale ressaltar também que o Supremo ao ouvir as vozes da rua concordou que a lei é fruto da descreça do povo com os políticos que tratam tão mau à coisa pública. Assim, era preciso dar um basta ao recorrente uso da vida pública como plaforma para o enriquecimento ilícito, amparado pela impunidade.

É relevante lembrar ainda que  a história da Lei da Ficha Limpa não nasceu da cabeça de nenhum senador ou deputado. Eles não jogam contra o próprio patrimônio. Porém, é importante  dizer que a  população do país anseia por uma política com mais ética e qualidade.

Para as eleições municipais de 2012, os partidos serão obrigados a fazer uma avaliação mais rigorosa de seus candidatos, o que pode melhorar significativamente as Câmaras Municipais.

Ainda sobre a Lei da Ficha Limpa, uma boa definição foi feita pela ministra do STF, Rosa Weber e o seu voto foi decisivo. “ Os homens públicos devem ser mais cobrados que os cidadãos comuns. Essa lei foi gestada no ventre moralizante da sociedade brasileira, que está agora a exigir mudanças.”

Portanto, a lei pode desencadear novos movimentos moralizantes sobre a classe política brasileira  como um efeito dominó. Mas, o certo, é que a Ficha Limpa vai barrar já da vida pública, os políticos condenados. Isso é um bom começo para que haja de fato mudanças na cultura política do país.

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O ato de rememorar tem importância incomensurável na vida das pessoas. Ao explorar a memória como fonte de felicidade nos deparamos com emoções vividas, que nos remete a um passado redentor, iluminado por algo acolhedor, apaziguador e que se transforma em  lembranças mágicas que estão só adormecidas. Porém, basta acionarmos a memória e tudo acontece de novo.

O carnaval entrou na minha vida por volta dos 11 anos, quando, por pura curiosidade, abandonei as excursões promovidas pela igreja católica para as crianças do catecismo. Fantasiada de índia me achei o máximo e o salão era bem pequeno ali, na Avenida dos Nogueiras. Nos anos que se seguiram, a animação se ampliou e a minha alegria era brincar e  pular todos os dias de carnaval, mesmo sem fantasia.

E este meu gostar foi crescendo e Ribeirão das Neves também. De forma que eu achava nunca  me aposentar dessa festa, que, para nós pré-adolescentes, quatro dias era pouco demais.

Os anos se passaram mais ainda, e ai, surgiu em Neves,  o Ipê Neves Clube. Pura novidade para os jovens nevenses de então. Havia matinés para a garotada, mas o grande barato para mim  era  já poder ir aos bailes à noite. O corpo de menina- moça era só vaidade. Corpinho magrinho que permitia o short bem curtinho e camiseta bem colada. Era tudo de bom! A maquilagem forte e permitida pela mãe, realçava mais o visual. O baile animado por uma banda de música varava a madrugada. As voltas incansáveis no salão eram embaladas pelas marchinhas: Bandeira branca, Me dá um dinheiro aí, Aurora, Lourinha … e  não cansava ninguém. O braço enlaçado na cintura e também um beijo roubado no final da folia, criava expectiva para o baile seguinte.

Um dia, o Ipê Neves Clube fechou e o carnaval em Neves acabou, mas a minha carreira de foleona, não. Estudante universitária fui brincar em outras cidades. E foi lá nas ladeiras de Ouro Preto e Diamantina que conheci o carnaval de rua animado com muita batucada e samba no pé. Nessas cidades cosmopolitas presenciei a essência do carnaval: a liberdade total. Descendo e subindo ladeiras tudo era permitido. Foliões fantasiados, pirados, despersonalizados. Na rua das Flores em Ouro Preto, o alto-falante animava os foliões de muitas nacionalidades, desajeitados, embriagados, mas sintonizados com a folia. Isso é que contava. Em Diamantina, no Mercado, ao rítmo da batucada, a folia enloquecia quem não tinha juízo.  E, por isso, não é prudente compartilhar essas lembranças.

E foi em Diamantina que comecei a me divorciar do carnaval. Quando o axé começou a dominar a festa, eu compulsoriamente tirei meu time de campo. A falta de afinidade com o “ tira o pé do chão” foi me afastando da folia. Eu que sou contemporânea dos samba-enredos de qualidade, não assimilei o rítmo massacrante do axé. Preferi sentar no sofá de casa e assistir ao desfile da minha escola de samba preferida e apreciar a genialidade de Joaozinho Trinta. Dessa forma, fui desapegando e hoje estou aposentada do carnaval.

Contudo, o meu olhar sobre os meus carnavais é mais saudoso para a folia da minha cidade, onde a brincadeira era tão simples, tão ingenua, mas tão saudável. Violência não existia. Por isso, é válido lembrar que a minha geração foi privilegiada, pois divertíamos e curtíamos o carnaval aqui, na nossa querida Ribeirão das Neves, onde o carnaval é coisa do passado. Assim, por hora, carnaval pra mim é só na lembrança. Mas fecho com a frase do grande escritor Guimarães Rosa: “O que lembro tenho.” Isso me serve como consolo.

 

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Na próxima quinta-feira, dia 19 , o Brasil vai parar para lembrar Elis Regina uma das suas maiores vozes. Foi neste dia que, há 30 anos, Elis partia precocemente, aos 36 anos, no auge da carreira.

Porque soube casar técnica vocal e perfeccionismo impar na música brasileira, conforme atestam os seus discos e espetáculos, além de transmitir emoção e energia, que a tornaram magistral e inesquecível, Elis é considerada pela crítica e pelo público como a maior cantora brasileira de todos os tempos. Foi também a primeira artista sofisticada da MPB a se tornar conhecida através da televisão. Isso é histórico.

Para os fãs matarem a saudade e também para quem não conhece a obra da cantora, a oportunidade é agora. O produtor musical e filho de Elis, João Marcelo Bôscoli, idealizou o projeto “Viva Elis”, que, a partir de abril, percorrerá algumas capitais do Brasil, mostrando a música e a arte da cantora. O pacote comemorativo apresentará um grande acervo com fotos, reportagens, objetos pessoais, entrevistas, ingressos e pôsteres de shows, também um documentário e um livro biográfico de Elis.

Além disso, o projeto trará a cantora Maria Rita, filha de Elis com o pianista César Camargo Mariano, interpretando pela primeira vez só músicas do repertório de sua mãe. A abertura será no dia do aniversário de nascimento de Elis, 17 de março, em São Paulo. Em todas as capitais os shows vão acontecer em locais públicos e com entrada franca. Vale a pena conferir.

ELIS ACERTOU NA ARTE

Elis Regina de Carvalho Costa deixou um legado de técnica e emoção. Era dona de uma inigualável voz, acompanhada de performances de palco perfeitas, além da personalidade forte e única. Tanto que foi batizada de a “Pimentinha”, pelo poeta Vinícius de Moraes. Artista politizada, foi uma mulher a frente do seu tempo. Despertou amor e também ódio. Fez críticas fundadas e exageradas e não poupava colegas de profissão. O exagero foi uma das suas marcas: tanto no comportamento quanto no intelectual. Mas, o exagero da sua arte, foi recheado de grande telento. E, talvez, seja também esse exagero que provocou a sua morte, o erro de cálculo ao misturar cocaina e wisk.

Porém, é relevante lembrar como Elis construiu a sua carreira e o que fez dela a maior interprete da Música Popular Brasileira. Para os especialistas, o domínio técnico da cantora era absoluto, além do gosto afiado e aberto à pesquisa. Elis foi interprete de força, lançadora de novos compositores como Milton Nascimento, Fagner, Belchior, Ivan Lins, João Bosco e tantos mais. Era capaz de ir da alegria a tristeza. É impecável e emocinante a sua interpretação em “Atrás da Porta, de Chico Buarque de Holanda. A música cantada por Elis sempre foi mais que apenas uma canção.        Assim, a personalidade peculiar e coragem fez com ela e não a música, se tornasse uma referência.

A trajetória que começou em Porto Alegre, aos 15 anos, já preconizava um estilo próprio e percepção musical sem copiar ninguém. A consagração veio aos 19 anos, ao vencer o Festival da Música, interpretanto o grande sucesso Arratão, de Vinícuis de Moraes de Edu Lobo, tornando-a a cantora mais bem paga do Brasil.

A partir daí, a carreira de Elis Regina deslanchou e ela se tornou um fenômeno, comparada as divas americanas como Billie Holiday e Ella Fitzgerald, vislumbando para a MPB que Elis seria “Clássica”.

Por isso, depois de 30 anos sem uma música nova de Elis, sem imagens, ainda assim, ela permanece viva. Continua vendendo discos, despertanto interesse, as pessoas continuam se emocionando com ela, sinalizando que o seu legado é muito importante. E é com justiça que João Marcelo Bôscoli vai enumerando os atributos que fazem da sua mãe a número um da MPB.

“ Timbre, personalidade, afinação,suingue,capacidade de improvisação, interpretação, entrega emocional, escolha de repertório, tudo irretocável. Nem daqui a mil anos haverá outra Elis. É um acidente genético,” garante João Marcelo.

De fato, é difícil, escolher que música Elis deu melhor interpretação. Para cada canção ela dava um dom especial. Como não emocionar ouvindo Como os nossos pais, Gracias a la vida, o Bebado e a Equilibrista , Casa no Campo, Golden Slumbers, dos Beathes, que Elis deu uma interpretação divina.

A visibilidade que Elis Regina ainda tem três décadas após a sua morte, tem-se a impressão que ela recebeu um tributo de permanência, Elis não morreu.

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1º Tempo

Ao completar no dia 12 de dezembro 58 anos de Emancipação Política, Ribeirão das Neves se distância cada vez mais de uma cidadezinha do interior. Hoje, definitivamente, está inserida no mundo globalizado e vive todas as contradições de uma cidade grande, interconectada ao mundo pós-moderno, na qual as referências extrapolam o terreno das nossas vidas.

Ao se conectar ao “mundo mediático”, Neves se integrou a ele e passou a ter também a intermediação dos meios de comunicação, deixando para trás uma realidade que era composta apenas do que estava à nossa volta, pois não havia o intercâmbio e o enorme fluxo de estímulos que caracteriza a sociedade da informação.

Se, em 1953, quando se emancipou, Ribeirão das Neves era um bucólico e romântico lugarejo que abrigava uma Penitenciária Agrícola e tudo girava em torno dela, em 2011 o cenário é outro, é uma grande cidade de concreto. Tem uma população numerosa, que vive todo o stress pós-moderno: trabalhadores que suam a camisa e enfrentam filas de ônibus, nos hospitais e postos de saúde. Que está nas páginas e manchetes dos jornais. Que vive um cotidiano de violência, de tumulto no trânsito, nas calçadas, de política e de pobreza. Além disso, nestes 58 anos, o município traz também a marca de um crescimento desordenado e um atraso econômico e social, o que impõe aos moradores um dia a dia de muitas carências.

A Ribeirão das Neves do século XXI é uma cidade fragmentada e de muitos migrantes e que ainda não têm para com ela o sentimento de “pertencimento”, o que impede o surgimento de uma identidade nas relações sociais entre os moradores. Por outro lado, o alto índice de analfabetismo acarreta pouco envolvimento da população nos movimentos sociais, dando oportunista para que políticos usem a falta de conscientização política dos eleitores, perpetuando a política do coronelismo. Por isso, ao longo de décadas, Ribeirão das Neves convive com indicadores sociais tão injustos, além de apresentar um Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – mais baixo do Estado de Minas Gerais, comparado aos municípios do Vale do Jequitinhonha. Politicamente é um curral eleitoral de 152 mil eleitores e, por isso, é extremamente cobiçado por políticos oportunistas e paraquedistas, que invadem o município só em período de eleições, quando fazem promessas mirabolantes aos moradores, mas passadas as eleições, somem.

Porém, é justo afirmar que, nos últimos cinco anos, o município avançou, se comparado as décadas passadas. Setores como saúde, segurança e assistência social chagaram de forma mais tangível à população, melhorando o atendimento e, consequentemente, a qualidade de vida dos moradores. Bairros antigos ganharam cara nova com a chegada de infraestrutura e saneamento básico, serviços básicos que eles não contavam há mais de 30 anos. Mas ainda assim, há muito a conquistar. A cidade precisa de indústrias para alavancar o seu desenvolvimento e melhorar sensivelmente o transporte coletivo, que é precário e desumano.

O anúncio feito pelo Executivo Municipal quando da instalação de novas empresas no  município, alimenta a esperança de mais geração de empregos para a população, o que vai melhorar de forma significativa a qualidade de vida dos seus cidadãos, trazendo de fato, o desenvolvimento econômico e social, mudando a cidade para outra muito melhor: mais justa e solidária.

2º Tempo

Ribeirão das Neves não é mais uma cidade pequena, mas ainda carrega traços de cidade interiorana. E este traço é bem forte nas pessoas que nela nasceram e cresceram. As lembranças da Neves da minha infância é prazerosa e, especialmente, afetiva. Por isso, ousadamente me inspirei no poema do grande poeta Carlos Drummond de Andrade (que este ano completaria 109 anos e tem a sua obra reeditada e revisitada pelos amantes da boa literatura), para escrever uma crônica sobre Neves.

Em Cidadezinha Qualquer, Drummond mostra a mesmice e a simplicidade de uma cidadezinha e usa os elementos semânticos das palavras para mostrar a simplicidade peculiar da vida interiorana isenta de qualquer atividade inédita, mas de uma riqueza palpável, real, sem a imposição da mídia e de uma informação mascarada.

Enfim, o poema Cidadezinha Qualquer pode ser analisado dentro de uma abordagem filosófica. O “eu” que busca a essência ou um caminho e que relativiza o “real” e o “essencial”. Ainda, um olhar que se volta para a cidade natal de forma aparentemente banal, mas que, é na realidade, uma identificação afetiva.

As cidades precisam crescer e se desenvolver. Todos nós cidadãos nevenses queremos isso para Ribeirão das Neves. Porém, a Neves da minha infância é como uma poesia e que não está só nas fotografias em preto e branco colocadas nas paredes das casas ou nos arquivos. A que tenho guardada  na memória, é de uma cidade que não cresceu.


“As cidades não deveriam crescer. Assim, seríamos sempre crianças, mesmo adultos”.

Frei Beto.

 

Minha cidade

Se Neves não tivesse crescido, eu, ainda, hoje, brincaria nos ciprestes do largo da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves, no frio mês de maio, nos ensaios para coroar Maria. E, nos domingos, assistiria ao catecismo de dona Santinha. A volta para casa seria sem pressa, sem nenhuma mãe para vigiar, porque as casas eram tão perto e tão poucas e a dona rezadeira era conhecida de todos os pais. Ela dominava a arte de conduzir os meninos e meninas para as coisas de Deus, da fé e da religiosidade, que mais tarde se transformariam em valores morais e éticos.

Se Neves fosse ainda pequena como a conheci, as casas só teriam tramelas destrancadas. Portas e janelas cochilariam encostadas. Ao final de tarde, os bancos nas calçadas, trariam homens, mulheres e crianças para embalar o por do sol. Enquanto os pais ponham a conversa em dia, as crianças brincavam de roda e de esconde-esconde.Todas as manhãs acordaríamos com o cantar dos pássaros e, a seguir, as vozes do leiteiro e do entregador de pão, fariam-nos pular da cama.

Se Neves não tivesse crescido, as mercearias seriam ainda um templo solene do pão de cada dia. Em uma delas estaria Zé Miúdo, que sem pressa, tiraria o lápis atravessado na orelha e anotava tudo numa caderneta. Ali estava um mosaico, sacos de feijão, arroz, farinha, utensílios, lingüiças penduradas, queijos e doces, e, ele, sabia onde ficava cada coisa. A anotação no papel, como uma ladainha, substituía o dinheiro. 

Minha cidade exalava um cheiro de mato. As casas surgiam a partir de uma rua e de uma praça. Por entre as pernas delas corriam um Ribeirão sem poluição. De lá os tico-ticos anunciavam o raiar do dia. Aos poucos, a porta da escola se abria para o alvoroço de meninos de calças curtas e meninas de saias azuis pregueadas. Após a aula, a queimada, o rouba bandeira, a bola de meia e a bola de gude impediam a volta para casa. Quando chovia, a criançada de sapato na mão cavalgava nas enxurradas, que corriam pelas ruas sem asfalto.

Se Neves não tivesse crescido, ir ao Cacique na casa do meu tio Jaime, seria infinitamente longe. Na esquina da minha rua ainda teria a casa de João Grande, que mantinha cães bravos na porta da casa, me impedindo de levar café para o meu pai na barbearia. Belaco, Tariba, Bandeira e Mudinho ainda estariam povoando a minha cidade, fazendo graça ou provocando medo, eu tinha. As comadres e compadres encontrariam pelas ruas para contar causos e falar das levadezas dos filhos. Minha mãe ainda receberia a rapadura do compadre Nonô Carlos.

Minha cidade tinha um bairro que era um jardim. As flores e os ciprestes nas portas das casas deslumbravam todos os moradores, visitantes e pássaros. Os beija-flores faziam festa num bailar sensual. As palmeiras imperiais ornamentavam a entrada de um presídio, num tempo em que a polícia só zelava pelo sono tranqüilo de todos. Avenidas não existiam. De vez enquanto passava um automóvel. Todo mundo conhecia todo mundo, ao menos de vista. E, o filho de fulano valia, currículo não existia, bastava o sobrenome.

Se a minha cidade fosse ainda pequena, as Aldinhas, as Marlis, as Ilkas, as Elizabetes, os Otos, os Manuéis e os Jacis estariam ditando números para nos fazer concentrar ou declamando versos para  nos fazer pensar, mas com o objetivo de fazer daqueles adolescentes, pessoas de bem.

Se Neves não tivesse crescido, seria um RIBEIRANDO SEMPRE, fazendo as Marias, os Josés, os Joãos, os Carlos, as Terezas, os Antônios, as Helenas, as Tânias ... mais felizes, pois o Ribeirão que está dentro de nós faz parte da nossa história e da identidade que queremos resgatar.

Mas minha cidade cresceu. Eu também cresci. Porém, o meu olhar me ensinou o caminho para voltar à minha cidade de verdade e matar a saudade. Assim, prazerosamente, escondo-me na memória, dela vislumbro e brinco de menina na cidade que não mudou.

 

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A denúncia de corrupção no Programa Segundo Tempo, criado para incentivar a prática de esporte entre crianças e adolescentes, provocou a saída do Ministro do Esporte Orlando Silva e colocou no epicentro do escândalo as Organizações Não Governamentais (ONGS).

O escândalo que sinaliza mais uma história de desvios de dinheiro público com ONGS fantasmas ou criadas só como de fachada, põe em cheque-mate a credibilidade dessas entidades, contratadas através de convênios e sem necessidade de licitação.

Aceitas pela Legislação como entidades sem fins lucrativos, essas organizações não passam por fiscalização tributária, escapando da escrita regular e dos rigores da contabilidade. São fáceis de serem criadas e registradas Além disso, não passam por auditorias para a execução de programas mantidos com verbas públicas e nem se exigem delas prestação de contas de que realmente o dinheiro recebido teve destinação correta.

Outro agravante, as ONGS que executam programas federais, não se submetem à fiscalização do Tribunal de Contas da União ( TCU), como ocorre com os ministérios e autarquias. Assim, fica fácil fraudar os cofres públicos: falta fiscalização sobre os montantes milionários movimentados pelas ONGs para os seus “projetos sociais”. E, é por isso que elas se tornaram o mais fácil dos ralos por onde escoa o dinheiro público. A maioria não faz prestação de contas a qualquer autoridade, nem aquelas que lhes repassaram as verbas públicas.

Esse é um dos motivos que, por trás dos escândalos que já derrubaram cinco ministros do atual governo, há sempre uma ONG. A atuação tentadora dessas organizações vem somando falhas inaceitáveis nos Sistemas de Controle e Fiscalização do Governo Federal nos últimos anos. Por isso, é difícil saber quantas e quais ONGs recebem verbas federais. Vale lembrar também que muitas dessas entidades são criadas às vésperas da assinatura dos convênios. Segundo o TCU, a esses convênios, projetos e contratos são creditados bilhões de reais.

De acordo com dados, de 2004 a 2010, entidades sem fins lucrativos receberam R$23,3 bilhões do Governo Federal, registrando no período, um aumento de 180% no repasse de verbas. Dessa forma, fica fácil constatar que esse desfalque rotineiro e gigantesca mancha não apenas o governo Federal, mas também as administrações estaduais e municipais. Além disso, essas entidades se transformaram em ferramenta fácil para alimentar o cofre de políticos e partidos.

Entretanto, é preciso distinguir as ONGs sérias e que dão destinação correta à verba recebida. È o caso da Fundação Butantan, responsável pela fabricação de vacinas e imunizações utilizadas pela rede pública de saúde em todo o Brasil e que salva vidas. Porém, boa parte do bolo se perde em milhões de convênios firmados com ONGs e governos sem nenhuma fiscalização sobre a aplicação e retorno da verba investida. É de praxe a verba sair de Brasília com o objetivo de ajuda ao próximo em projetos para conscientização da cidadania e volta quase toda para o caixa dois de partidos, que descaradamente vai financiar candidaturas em todo o país. E isso não é monopólio de um só partido.

Além de tudo, tem-se a constatação da podridão do Sistema político, com partidos que se diziam guardiões da moralidade pública, agora enfiados na lama por custear suas ambições e ainda serem condescendentes com governantes com práticas escusas.

Mas, mesmo não existindo uma plataforma política nem ideológica para substituir o modelo do PT, instaurado por Lula em 2003, aparecendo só críticas genéricas e isoladas à corrupção e ao aparelhamento do Estado, males sistêmicos a todos os partidos do Brasil, o desgaste do governo não é aparente. Existe uma crise.

A devassa no Ministério do Esporte, anunciada pela presidente, mostra a importância da pasta. Mas, acima de tudo, que a farra das ONGs é real e precisa de um basta. Realizar com urgência, um pente-fino nos convênios, é fazer justiça para com as entidades sérias, que não podem ser colocadas no mesmo balaio.

Ao cidadão, contribuinte honesto, cabe acompanhar a evolução da denúncia e cobrar mais transparência nas ações dessas entidades. O certo, porém, é que não pode ficar sem punição os que lucram sob a proteção de “manobras sem fins lucrativos”.

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