População de Ribeirão das Neves protesta contra proposta de terminal no Veneza e cobra metrô em audiência pública
A proposta do Governo de Minas de instalar um terminal do sistema Move Metropolitano na região do bairro Veneza, em Ribeirão das Neves, foi duramente criticada pela população durante audiência pública realizada nesta terça-feira (1), no auditório do Caic.
Com gritos de "Metrô! Metrô!", moradores expressaram insatisfação com a iniciativa, que consideram insuficiente diante da precariedade do transporte público na região metropolitana de Belo Horizonte. A audiência contou com a presença de representantes do poder público, lideranças comunitárias e usuários do transporte coletivo.
Uma das vozes mais contundentes foi a da moradora Graça Senna, que destacou o abandono histórico do bairro em relação à mobilidade urbana. Segundo ela, falta cuidado, planejamento e investimento estrutural por parte do Estado, e a proposta de um terminal de ônibus não responde à real necessidade da população, que há décadas clama por transporte de qualidade, com a chegada efetiva do metrô até Neves.
Lideranças da região como Mathes Chiodi destacou que o plano apresentado não foi convincente, tendo em vista que há nada de concreto. “O governo não colocou a respeito dos horários dos ônibus e a garantia de uma pista exclusiva na BR-040”, ressaltou. Vídeo completo aqui: https://www.instagram.com/reel/DLnoQl6ul4k/?utm_source=ig_web_copy_link
No projeto apresentado pelo superintendente de de Transporte Intermunicipal e Metropolitano da Seinfra, Diego Pessoa Santos, não foi apresentado o outros dois terminais previstos, que seriam no bairro Jardim Colonial e no bairro San Remo (região do Liberdade).
O prefeito Túlio Raposo, destacou em entrevista ao portal que o “transporte público de Ribeirão das Neves é um dos grandes problemas da cidade e do jeito que está não pode ficar”, entrevista completa aqui: https://www.instagram.com/p/DLnNVWdN6mL/
Já a vereadora Marcela Menezes destacou que é necessário novos debates públicos de escuta ativa da população, confira aqui a entrevista completa: https://www.instagram.com/p/DLna9oSPGiU/
Em nota a nossa reportagem, a Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) esclarece que o projeto atual de Parceria Público-Privada (PPP) prevê a construção, reforma, modernização e operação de 11 terminais de ônibus metropolitanos. Em Ribeirão das Neves, o único terminal previsto é o de Veneza.
Após o término da Consulta e Audiências Públicas, serão analisadas todas as contribuições recebidas. Aquelas que se mostrarem pertinentes aos objetivos do projeto serão aprofundadas para serem incorporadas ao modelo final.
Ação foi ajuizada nesta segunda-feira (1º) e aponta favorecimento a empresários que apoiaram campanha eleitoral. Contrato irregular desviou recursos da saúde e educação.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) entrou com uma ação de improbidade administrativa contra o ex-prefeito de Ribeirão das Neves, Junynho Martins, e outros sete envolvidos por uma suposta contratação ilegal realizada em 2017. O MP alegou que os suspeitos causaram um prejuízo de R$ 3,7 milhões aos cofres públicos.
A ação foi ajuizada nesta segunda-feira (1º), na segunda Promotoria de Justiça da cidade, com apoio do Grupo Especial de Defesa da Probidade Administrativa e do Patrimônio Público (GEPP).
Segundo a denúncia, logo no início da gestão 2017-2020, os suspeitos aderiram de forma irregular a uma Ata de Registro de Preços do município de Contagem, e dispensou de forma ilegal o processo de licitação.
Segundo o Ministério Público, antes mesmo de a empresa confirmar oficialmente que aceitaria o contrato, o ex-prefeito já tinha assinado um decreto para liberar recurso extra e garantir que a contratação fosse feita. Os recursos utilizados eram originalmente destinados à manutenção de áreas essenciais como saúde e educação.
O g1 procurou a defesa do ex-prefeito, mas não houve retorno até o final desta reportagem.
Campanha
Na ação, os investigadores apontaram que o grupo beneficiava empresários que financiaram a campanha eleitoral do então prefeito, e que já existia uma relação pessoal entre os sócios da empresa contratada e o secretário municipal que solicitou a adesão.
“A realização do processo administrativo de adesão serviu como mera formalização da contratação já pactuada antes mesmo do início da gestão”, diz trecho da ação.
Durante a execução do contrato, foi identificado um superfaturamento de R$ 1,2 milhão, com pagamentos por serviços que não estavam previstos no contrato firmado com o município.
O Ministério Público pede a condenação dos envolvidos por atos de improbidade administrativa, a nulidade dos contratos e o ressarcimento integral do dano ao erário, de mais de R$ 3 milhões.
Entramos em contato com a assessoria do ex-prefeito, porém ainda não tivemos retorno.
Com informações do G1
O Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato, em Sete Lagoas, foi o cenário das atividades da quarta-feira (25), dentro da programação da Semana Rio das Velhas 2025. Com foco em educação e mobilização ambiental, o evento reuniu estudantes, educadores, gestores públicos e representantes de diversos municípios da região do Médio-Alto Rio das Velhas para um dia de discussões e troca de experiências.
A ação foi promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), como parte dos Diálogos Regionais, iniciativa que visa fortalecer a integração entre os municípios da Bacia e ampliar a gestão participativa dos recursos hídricos.
O encontro contou com a presença de representantes de Capim Branco, Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Matozinhos, Nova União, Prudente de Morais e Sete Lagoas. Um dos momentos mais significativos do dia foram os debates promovidos pelos Diálogos Regionais, que incentivaram a cooperação entre Subcomitês e parceiros locais, abordando temas como esgotamento sanitário irregular, parcelamento desordenado do solo, incêndios florestais, descarte de resíduos, mapeamento de nascentes e soluções de saneamento para áreas rurais.
Durante o evento, participantes destacaram a importância da união regional em torno da preservação do Rio das Velhas. Entre os pontos debatidos, esteve a necessidade de fortalecimento dos órgãos ambientais nos municípios e a criação de políticas públicas eficazes por meio de articulações entre entes públicos e privados.
A expectativa agora se volta para o próximo Encontro de Prefeitos e Prefeitas da Bacia, que será realizado em Santa Luzia, com o objetivo de transformar o diálogo em ações concretas voltadas para a sustentabilidade e proteção dos recursos hídricos da região.
Um impasse marcou a Conferência Municipal de Saúde realizada no último sábado (28), em Ribeirão das Neves. Segundo relatos de participantes, por volta das 20h30, a secretária municipal de Saúde, Marla de Souza, interrompeu os trabalhos da conferência ao anunciar, sem prévia comunicação com a comissão organizadora, que desobrigaria os servidores da gestão municipal de permanecer no evento, por ela “ao afirmar que seu grupo estava muito cansado, referindo-se, portanto, aos gestores e comissionados sob sua responsabilidade, os quais estariam, segundo ela, liberados de permanecer na plenária”.
De acordo com os relatos, a secretária utilizou o microfone para informar, com base no regimento interno, que a conferência deveria ocorrer apenas entre 8h e 18h, e que, portanto, os gestores e comissionados sob sua responsabilidade estariam desobrigados a participar. A declaração gerou desconforto e surpresa entre os presentes, especialmente pelo fato de a decisão não ter sido discutida com o presidente do Conselho Municipal, tampouco com a comissão organizadora, e de não ter sido submetida à apreciação da plenária - instância soberana do encontro.
Logo após o anúncio, grande parte dos delegados ligados à gestão deixaram o local, esvaziando a plenária. Ainda assim, usuários, trabalhadores da saúde e alguns dos gestores que permaneceram decidiram continuar os trabalhos. Para garantir a legalidade da continuidade, membros da organização entraram em contato com o Conselho Estadual de Saúde, incluindo a presidente Maria de Lourdes, e também com o Ministério Público.
Com o respaldo dessas instituições, os participantes deram prosseguimento à discussão do eixo em andamento até por volta das 22h, quando optaram por encerrar temporariamente os trabalhos. A orientação recebida do Conselho Estadual foi de que uma nova data para continuidade da conferência deveria ser convocada pela própria secretária, sem possibilidade de cancelamento unilateral.
Os organizadores criticaram a forma como a situação foi conduzida. Segundo eles, havia usuários do SUS, mães com crianças, pessoas com deficiência e comorbidades, como diabetes, que permaneceram até tarde para contribuir com as discussões. Afirmam ainda que a secretária teria agido de forma autoritária, priorizando os interesses dos gestores e não o coletivo, e que não houve diálogo com a comissão para sugerir uma alternativa, como a suspensão e retomada dos trabalhos em outro dia.
A Conferência Municipal de Saúde tem caráter deliberativo e define diretrizes para a formulação do plano de saúde do município pelos próximos quatro anos. Integrantes da comissão classificaram a atitude da gestora como “desrespeitosa” com o processo democrático e com os participantes. Na segunda-feira, 30 de junho, os trabalhos foram retomados. Segundo presentes, a secretária alegou que todas as deliberações feitas após o horário citado seriam “ilegais”, embora a própria plenária tenha votado pela validade dos encaminhamentos feitos após esse período. A insistência da gestora em afirmar que tudo o que foi deliberado após o horário previsto estaria fora da legalidade provocou revolta entre os presentes. O clima esquentou, e houve bate-boca e xingamentos por parte de alguns usuários do sistema de saúde.
“Foi muito feio o que aconteceu. Teve agressão verbal de todos os lados. Foi uma total falta de respeito”, relatou um participante. Segundo ela, embora houvesse razão para discutir o excesso de tempo da reunião, a forma como a gestora agiu foi considerada autoritária e desrespeitosa. A Prefeitura ainda não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido.
O dançarino de Ribeirão das Neves, Daniel Cota - Arrirú (@arriru_bboy) conquistou o título de campeão na batalha de Footwork da 5ª edição do Battle Style, realizada durante o Yale Street Camp, em Pará de Minas. A competição é voltada aos fundamentos do Breaking, estilo de dança urbana que será modalidade olímpica em Paris 2024.
O Footwork é uma das bases do Breaking e envolve movimentos rápidos e coordenados com os pés no chão, geralmente com apoio das mãos, exigindo ritmo, equilíbrio e criatividade. Além dele, o Breaking também inclui outros fundamentos, como o Toprock (movimentos em pé), o Power Move (movimentos com giros e impulsos) e o Freeze (posições estáticas que demonstram controle).
Com esta conquista, o artista nevense reforça sua versatilidade dentro da dança. Ele já havia vencido uma batalha de Power Move em 2020 e agora soma mais um troféu à sua trajetória.
O Battle Style teve três edições anteriores na cidade de Itaúna (2017, 2018 e 2019) e passou a acontecer em Pará de Minas a partir de sua quarta edição. Essa foi a primeira participação do dançarino na cidade, celebrando o retorno ao evento com o primeiro lugar no pódio.
Começam no dia 2 de julho as inscrições para a 2ª edição do Concurso Público Nacional Unificado (CNU). Os interessados poderão se inscrever até 20 de julho, com taxa única de R$ 70, que deve ser paga até 21 de julho. A informação foi divulgada pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.
Ao todo, o certame oferece 3.642 vagas em 32 órgãos públicos, sendo 2.480 vagas imediatas e 1.172 para cadastro de reserva.
As provas objetivas estão marcadas para 5 de outubro, das 13h às 18h, em 228 cidades do país, incluindo todas as unidades da federação e o Distrito Federal. Já a prova discursiva para os candidatos habilitados ocorrerá em 7 de dezembro.
A primeira lista de classificados será divulgada em 30 de janeiro de 2026. A Fundação Getulio Vargas (FGV) é a banca responsável pela organização do concurso.
O objetivo do CNU é ampliar a acessibilidade, reduzir custos e centralizar o processo seletivo federal, permitindo que os candidatos concorram a diversas vagas com uma única prova.
Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) publicou, nesta sexta-feira (27/6), edital de um novo concurso público para a contratação de 150 eletricistas. A remuneração total é de R$ 4.331,91, além dos benefícios previstos no acordo coletivo da empresa.
Com taxa de R$ 70, as inscrições poderão ser feitas entre os dias 1º de setembro e 2 de outubro, exclusivamente pelo site da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep). Os novos profissionais irão atuar em diversas regiões do estado, especialmente em áreas com crescimento populacional acelerado ou demandas críticas de infraestrutura.
Para concorrer às vagas, é necessário ter ensino médio completo, curso de qualificação profissional na área elétrica NR-10 (básico e SEP) e NR-35 (trabalho em altura) e Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria B.
Além disso, é necessário comprovar experiência mínima de 6 meses em atividades de construção, manutenção ou operação, executadas diretamente em redes de distribuição, linhas de distribuição ou linhas de transmissão de responsabilidade de concessionárias de energia elétrica.
A prova será realizada no dia 23 de novembro de 2025, nos municípios de Belo Horizonte, Divinópolis, Governador Valadares, Juiz de Fora, Montes Claros, Paracatu, Teófilo Otoni, Uberlândia e Varginha, de acordo com a escolha do candidato na inscrição.
Serão aplicadas 35 questões de múltipla escolha, com duração de até 3 horas. Além da prova objetiva, o processo seletivo contará com a etapa eliminatória de Avaliação Pré-Admissional de Saúde, obedecendo ao disposto na NR-07, do Ministério do Trabalho e Emprego, de responsabilidade da CEMIG.
Uma das maiores "fake news" que cerca Ribeirão das Neves é a ideia de que a cidade teria surgido a partir da implantação de seus presídios. No entanto, a socióloga Nayara Amorim, em estudos sobre a dinâmica urbana do município, desmente essa versão, revelando um processo de formação e expansão muito mais complexo e multifacetado.
As três fases do crescimento populacional
Nayara Amorim e outros pesquisadores apontam para três fases distintas no crescimento populacional de Ribeirão das Neves:
Primeiro momento (Fundação até 1960): Remonta aos primeiros povoamentos por volta de 1747, com a construção da Capela de Nossa Senhora das Neves. A cidade passou por diversas vinculações administrativas até sua emancipação em 12 de dezembro de 1953, com os distritos da Sede e Justinópolis, e o Povoado de Areias. A região da Sede foi influenciada pela Penitenciária Agrícola de Neves (PAN), inaugurada em 1938, que gerou empregos e impulsionou o comércio local, embora tenha contribuído para o estigma de "cidade presídio".
Segundo momento (A partir de 1970): Caracterizado por um intenso processo de parcelamento do solo urbano. Com a metropolização de Belo Horizonte, Ribeirão das Neves consolidou-se como uma periferia metropolitana densamente povoada. A década de 1970 marcou um "boom imobiliário", especialmente em Justinópolis, que se conurbou com Venda Nova (Belo Horizonte), impulsionado pela expansão da capital. Neste período, Neves registrou taxas de crescimento populacional recordes no cenário nacional.
Terceiro momento (Anos 2000 em diante): Uma nova tendência de crescimento, marcada pela verticalização dos imóveis. Embora ainda haja ocupação de loteamentos antigos e parcelamentos de solo, a construção de edifícios de pequeno porte, como apartamentos e condomínios horizontais, ganha destaque, especialmente impulsionada por programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida.
Expansão sem planejamento e seus desafios
A rápida e muitas vezes desordenada expansão demográfica de Ribeirão das Neves, sem o devido planejamento urbano e com uma atuação omissa do poder público em décadas passadas, gerou uma série de problemas sociais e urbanísticos. A cidade é um polo representativo das contradições urbanas do capitalismo contemporâneo, marcada pela urbanização espontânea e a periferização da pobreza.
Entre as principais consequências desse crescimento desorganizado, destacam-se:
Segregação socioespacial: A cidade concentra uma população predominantemente de baixa renda, com altos índices de desemprego e baixos níveis educacionais, perpetuando um ciclo de reprodução da pobreza.
"Cidade dormitório": Muitos moradores são obrigados a se deslocar diariamente para outras cidades, como Belo Horizonte, para trabalhar e estudar, enfrentando altos custos de transporte e um sistema de transporte público de baixa qualidade. Isso limita o uso da própria cidade para consumo, lazer e cultura.
Infraestrutura e serviços precários: Há um déficit habitacional significativo, com muitos domicílios em assentamentos precários e loteamentos irregulares. Serviços básicos como saúde e assistência social são insuficientes, exigindo deslocamentos para outras cidades.
Estigma da violência: Ribeirão das Neves convive com altos índices de violência e criminalidade, contribuindo para uma imagem negativa da cidade, muitas vezes reforçada pela mídia. Estudos apontam Neves entre as cidades mais violentas para jovens, especialmente os jovens negros e vítimas de armas de fogo.
Abandono do patrimônio: A construção de uma identidade negativa influencia a noção de pertencimento e, consequentemente, o abandono do patrimônio cultural da cidade, gerando dificuldades em sua preservação.
Verticalização e o futuro de Neves
A tendência recente de verticalização, embora represente uma nova fase de expansão, também impõe desafios, como a necessidade de acompanhamento em termos de infraestrutura e equipamentos públicos. Bairros como Jardim Alterosa, que receberam grandes conjuntos habitacionais, ainda sofrem com a carência de postos de saúde, escolas, creches e transporte público adequado.
Apesar das adversidades, o estudo da sociologia urbana busca compreender as dinâmicas de Ribeirão das Neves como um espaço produzido socialmente, que se transforma e acomoda sua população. O reconhecimento dessas questões é fundamental para a criação de políticas públicas sustentáveis e intervenções sociais que possam melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes e transformar a percepção sobre a cidade.
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa realizada no Quilombo Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, na cidade de Ribeirão das Neves/MG, com o objetivo de compreender de que forma a participação de crianças e adolescentes nas atividades culturais, sociais e educacionais contribui para a construção de sua identidade e senso de pertencimento. Por meio de entrevistas, observações participantes e aplicação de questionários, foram ouvidas crianças e adolescentes quilombolas entre 6 e 15 anos. Os resultados revelam que a vivência no quilombo se dá de forma orgânica e voluntária, fortalecendo o vínculo comunitário e a valorização das tradições ancestrais. A análise demonstra que a cultura vivida e transmitida no espaço do quilombo desempenha papel fundamental na formação subjetiva dessas juventudes e aponta para a urgência de políticas públicas que reconheçam e apoiem essas experiências.
Palavras-chave: Educação quilombola; Juventude; Patrimônio cultural imaterial; Identidade; Pertencimento.
Foto: Rodolfo Ataíde
Introdução
As comunidades quilombolas representam importantes territórios de resistência, ancestralidade e afirmação cultural da população negra no Brasil. Com o passar das gerações, esses espaços têm se mantido vivos não apenas pela presença dos mais velhos, mas também pelo protagonismo das crianças e adolescentes que neles vivem e atuam. O Quilombo Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, situado em Ribeirão das Neves/MG, é um exemplo concreto de como a cultura e os saberes tradicionais continuam a ser transmitidos e atualizados pelas novas gerações.
Diante de um cenário em que as infâncias negras são constantemente invisibilizadas nos discursos educacionais e culturais hegemônicos, este estudo busca lançar luz sobre as práticas e percepções dos jovens quilombolas, valorizando suas narrativas e vivências. Parte-se do pressuposto de que a participação ativa em diversas formas de expressão coletiva constitui um importante processo de construção identitária e fortalecimento de vínculos comunitários.
Assim, este artigo tem como objetivo investigar de que forma se dá a participação de crianças e adolescentes nas atividades do Quilombo, buscando compreender os sentidos que atribuem às suas vivências nesse espaço. Pretende-se também analisar as possíveis relações entre os saberes tradicionais e o universo escolar, bem como entender por que, mesmo diante de tantas oportunidades externas — como jogos, internet e outras manifestações culturais —, essas crianças e adolescentes continuam engajados nas práticas quilombolas.
Metodologia
A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, centrada na escuta e na observação participante como forma de acessar significados e experiências. O trabalho de campo foi realizado no Quilombo Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis/MG, espaço de referência histórica e cultural de Ribeirão das Neves.
Foram entrevistadas 11 crianças e adolescentes quilombolas, com idades entre 6 e 15 anos, também foram feitas observações durante atividades culturais, como o Congado, as festas tradicionais, a capoeira e celebrações religiosas, além de diálogos informais com membros da comunidade. O material empírico foi analisado a partir da técnica de análise de conteúdo, com o intuito de identificar categorias relacionadas à identidade, pertencimento e educação.
Referencial Teórico
A educação em contextos quilombolas vai além dos limites da escola formal. Trata-se de uma prática cotidiana de resistência e de preservação de saberes, que envolve valores, espiritualidade, oralidade e coletividade. Segundo Nilma Lino Gomes (2007), pensar a educação quilombola é reconhecer a centralidade da cultura e da ancestralidade na formação do sujeito negro, especialmente na infância, quando os vínculos com o território e com as práticas tradicionais são intensamente construídos.
No mesmo sentido, Brandão (2007) destaca que a educação popular é um instrumento potente para fortalecer o sentimento de pertencimento das populações às suas histórias e territórios, sendo essencial nos processos de valorização das culturas afro-brasileiras. Ela deve ser compreendida como parte de uma pedagogia da ancestralidade, onde o aprender ocorre na relação com os mais velhos, nas práticas coletivas e nos rituais que marcam a vida comunitária.
A infância quilombola, nesse contexto, não é apenas um momento de passagem, mas um tempo de protagonismo na manutenção das tradições. Caldart (2004) afirma que as comunidades tradicionais educam por meio da convivência, da participação ativa e da oralidade. Nesse sentido podemos pensar que é nesse convívio que os mais jovens aprendem o respeito, os saberes do congado, os cantos e os gestos que sustentam a identidade do Quilombo.
A construção da identidade, conforme Stuart Hall (2006), não é um processo fixo, mas uma construção contínua, especialmente nas comunidades que vivem sob múltiplas pressões sociais. Para as crianças e adolescentes quilombolas, essa identidade se forja na convivência com a cultura local, mas também em diálogo (por vezes em tensão) com os espaços institucionais, como a escola. Muitos jovens vivem o desafio de transitar entre dois mundos: o da escola, com sua estrutura eurocentrada e muitas vezes excludente, e o do quilombo, onde sua identidade é afirmada e reconhecida.
Dessa forma, compreende-se que a participação de crianças e adolescentes nas atividades culturais do Quilombo Irmandade Nossa Senhora do Rosário é parte constitutiva de seu processo de formação como sujeitos históricos, sociais e políticos. Ao participarem do congado, dos rituais, cantarem, cozinharem e cuidarem do espaço, esses jovens não apenas preservam a tradição, mas atualizam-na com suas próprias experiências e sentidos.
Apresentação e Análise dos Resultados
1. Participação nas atividades culturais e o protagonismo infantil
Todos os participantes relataram que frequentam o quilombo desde que nasceram e que sua participação nas atividades culturais é contínua e espontânea. Entre as atividades mencionadas, o Congado destacou-se como a principal manifestação, sendo praticada por todos os entrevistados. Também foram citadas outras práticas, como o Coral, a Capoeira, a Folia de Reis e o auxílio em tarefas cotidianas, como a limpeza e o preparo de alimentos.
Esse envolvimento direto revela uma vivência comunitária que se distancia da lógica da imposição. A participação das crianças ocorre de forma orgânica e prazerosa, como demonstrado por uma das falas: “Pra mim aqui é tudo perfeito. A gente aprende com os mais velhos, pode brincar com outras crianças, participar das festas”. Como aponta Caldart (2004), essa integração entre gerações é um dos fundamentos da educação em comunidades tradicionais, em que os sujeitos aprendem fazendo junto.
Vale destacar que, tanto pelas observações realizadas quanto pelas conversas com as crianças e adolescentes, ficou evidente que eles não estão isolados das experiências externas ao Quilombo. Pelo contrário, têm acesso a tecnologias, como celulares e internet, consomem conteúdos da mídia, participam de eventos e interações para além dos limites territoriais e culturais da comunidade. Ou seja, vivem plenamente a contemporaneidade, com todas as suas múltiplas influências e estímulos.
No entanto, mesmo diante dessa ampla exposição ao mundo externo, chama atenção o fato de que esses eles não apenas continuam participando ativamente das práticas tradicionais do Quilombo, como também demonstram grande valorização por elas. Há um reconhecimento, por parte das crianças e adolescentes, da importância dos saberes ancestrais, das práticas culturais e dos rituais comunitários na construção de suas identidades e no fortalecimento dos vínculos afetivos e coletivos.
Esse movimento revela uma convivência possível e potente entre tradição e modernidade, em que a presença das tecnologias e das dinâmicas contemporâneas não anula o valor das práticas ancestrais. Trata-se, portanto, de uma juventude que transita entre diferentes mundos, mas que escolhe, com orgulho e afeto, manter viva a memória e a história de sua comunidade.
2. Sentidos atribuídos à experiência no quilombo
Ao serem perguntados sobre o que aprendem no Quilombo, os jovens destacaram valores como respeito ao próximo, respeito às religiões, aprendizados com os avós, canto, dança, instrumentos musicais, capoeira, conhecimento dos fundamentos do Congado e ancestralidade. Uma das respostas que se destacou foi: “No Quilombo a gente aprende a respeitar os mais velhos e nem sempre fazer o que você quer pois nem sempre é o certo”.
Tais relatos indicam que o quilombo funciona como um espaço formativo no qual se constroem não apenas habilidades culturais, mas também dimensões éticas e relacionais, muitas vezes negligenciadas pelos currículos escolares. Isso reforça a análise de Brandão (2007) e Gomes (2007) sobre o papel da cultura como eixo estruturante da educação em territórios tradicionais.
3. Quilombo e escola: intersecções e distâncias
Apesar de todos os participantes frequentarem a escola formal, as respostas indicam uma percepção clara de diferença entre os dois espaços. A maioria afirmou que não fala sobre o Quilombo na escola, ainda que alguns gostariam de fazê-lo. Entre os motivos, destacam-se o medo do preconceito e a sensação de que “lá não se fala sobre a nossa cultura”.
Houve também quem expressasse desejo de que os colegas conhecessem o Quilombo. A vivência na escola é associada a conteúdos “das matérias”, enquanto o Quilombo é percebido como um espaço que “ensina para a vida”. Esse contraste reforça a pouca representatividade da cultura afro-brasileira nos currículos escolares.
4. Afetos e pertencimento
Quando perguntados sobre como se sentem ao participar das atividades do quilombo, a resposta mais recorrente foi “paz”. Esse dado chama atenção justamente por contrastar com a concepção mais comum e difundida do termo, muitas vezes associada à ideia de silêncio, tranquilidade e ausência de agitação. No entanto, as práticas vivenciadas no Quilombo estão longe de serem silenciosas: são marcadas pelo som intenso dos tambores, pelas festas animadas, pelas rezas entoadas em coro, pelas cantorias vibrantes e pelos encontros coletivos repletos de movimento e expressão.
Ainda assim, é nesse ambiente pulsante que os jovens afirmam encontrar paz. Isso revela uma dimensão subjetiva e relacional do conceito, que se afasta da noção eurocêntrica de paz como quietude e retraimento. Para eles, a paz está no pertencimento, na conexão com os ancestrais, na partilha de saberes, na liberdade de ser e de estar com os seus. É uma paz que se constrói na coletividade, na ancestralidade viva e nas práticas culturais que resistem e se renovam.
Além da paz, muitos também mencionaram sentimentos como alegria, leveza e uma espécie de energia inexplicável que o lugar proporciona. Alguns relataram que as atividades os acalmam, mesmo quando envolvem movimento e som. Isso reforça a ideia de que o Quilombo é vivido como um espaço de acolhimento, de proteção simbólica e afetiva, onde é possível experienciar bem-estar e equilíbrio emocional, ainda que em meio à efervescência das expressões culturais afro-brasileiras.
O sentimento de pertencimento é notável, como na fala de um menino de 9 anos: “Eu nasci aqui, cresci aqui e pretendo morrer aqui”. A força dessa identidade comunitária evidencia o papel do quilombo como referência afetiva e cultural insubstituível. Conforme Hall (2006), a identidade cultural é construída no entrelaçamento das vivências, símbolos e práticas que fazem sentido para os sujeitos.
5. Tradição, continuidade e futuro
Todos os entrevistados afirmaram que consideram as tradições do quilombo importantes para suas vidas e que pretendem transmiti-las para seus filhos. Isso demonstra uma conexão intergeracional sólida, sustentada não por obrigações externas, mas por um vínculo afetivo e simbólico com o território e suas práticas.
Curiosamente, nenhum dos jovens apontou desafios para participar das atividades do quilombo, tampouco mencionou que sua presença ali fosse forçada. Em tempos de dispersão digital e ofertas massivas de entretenimento externo, o engajamento espontâneo desses jovens com a cultura de seus ancestrais evidencia uma profunda valorização das raízes e do coletivo.
Considerações Finais
A pesquisa realizada no Quilombo Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis revela que a participação de crianças e adolescentes nas atividades culturais, sociais e educacionais do território se dá de maneira espontânea, afetiva e profundamente enraizada. Mais do que espaços de reprodução cultural, as práticas vividas no Quilombo se constituem como verdadeiros processos formativos, nos quais os jovens constroem sua identidade, desenvolvem senso de coletividade e fortalecem o pertencimento à sua ancestralidade.
Ao contrário do que muitas vezes é retratado nos discursos hegemônicos, essas infâncias não são passivas nem distantes das tradições: são protagonistas da continuidade cultural. A educação que se dá no quilombo é viva, prática, comunitária, e dialoga com valores éticos, religiosos e históricos que estruturam a vida em comunidade.
O contraste com a escola formal evidencia as lacunas da educação tradicional em relação à valorização da diversidade cultural e do reconhecimento das histórias negras no Brasil. Mesmo com esse distanciamento institucional, os jovens quilombolas resistem e reafirmam, em suas falas e práticas, o orgulho de pertencer ao Quilombo e o desejo de manter vivas suas tradições.
Esse estudo aponta, portanto, para a necessidade urgente de políticas públicas que respeitem e valorizem os saberes das comunidades tradicionais, especialmente no campo da educação. O reconhecimento do papel formativo dos quilombos pode contribuir para uma educação mais plural, inclusiva e conectada à realidade dos povos que historicamente têm sido silenciados.
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Referências Bibliográficas
● BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação popular. São Paulo: Brasiliense, 2007.
● CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do movimento sem terra. Petrópolis: Vozes, 2004.
● GOMES, Nilma Lino. Educação e identidade negra: pesquisa e práticas pedagógicas em espaços escolares e não-escolares. In: GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
● HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
● UNESCO. Diretrizes para a educação intercultural. Paris: UNESCO, 2006.
ESTE ARTIGO FOI FINANCIADO PELA LEI ALDIR BLANC ATRAVÉS DO EDITAL N° 118/2024 NOS TERMOS DA LEI Nº 14.399/2022 (PNAB), DO DECRETO N. 11.740/2023 (DECRETO PNAB) E DO DECRETO 11.453/2023 (DECRETO DE FOMENTO), DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO DAS NEVES.
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