Foi lançado, nesta sexta-feira (5), o III CD “Vozes das Celas”, resultante do 3º Festival de Música do Sistema Penitenciário de Minas Gerais (Festipen), que reúne músicas compostas e cantadas por detentos de cinco unidades prisionais da Zona da Mata, administradas pela Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). O lançamento aconteceu no auditório do Centro Público de Promoção do Trabalho (CPPT), no bairro Gameleira, em Belo Horizonte. O projeto é promovido pela Seds, com patrocínio da Cemig e Secretaria de Estado de Cultura (SEC), e apoio do Ministério da Cultura (MinC).
Gravado em dezembro de 2009 na Penitenciária José Maria Alkimin (PJMA), em Ribeirão das Neves, o CD tem músicas de representantes das penitenciárias Professor Ariosvaldo Campos Pires e José Edson Cavalieri, de Juiz de Fora, do Presídio de Viçosa, da Penitenciária Doutor Manoel Martins Lisboa Júnior, de Muriaé, e do Presídio de São João del-Rei. Eles apresentaram um repertório eclético, com ritmos como samba, pop rock, hip hop, reggae e sertanejo. Crime, amor, saudade e arrependimento são os temas mais recorrentes.
Artistas
Ouvindo atentamente o III CD Vozes das Celas, é possível saber muito sobre os autores das composições. Há letras descontraídas, como o samba “Festa do Chicão”, de Carlos Roberto de Oliveira Cruz, do Presídio de Viçosa: “Fui convidado para a Festa do Chicão / tinha muito gole e pé de porco no feijão / mas quando eu cheguei lá eu já estava embriagado / quase que eu entro numa fria, dançando com a mulher do delegado”.
Outras indicam a preocupação social, como no caso do rap “Paz em São João”, de Adriano Antônio de Jesus, do Presídio de São João del-Rei: “A criminalidade hoje em dia está demais / crianças envolvidas por trás de algum dos pais / tem pai que não esquenta a cabeça com nada / ajuda a fazer o filho e deixa a mãe abandonada”, diz a letra. “Encontrando a solução”, de Leandro Heleno Raposo, da Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, de Juiz de Fora, também insiste na temática. “Para compor a música, pensei na desigualdade do mundo, em crianças usando drogas, na falta de incentivo que favorece a criminalidade”. Ele propõe, em sua música “Tirar de cada um (dos ricos) apenas R$ 500 reais pra ajudar o nosso mundo a melhorar”.
O amor também aparece em muitas das canções. “Já faz um ano”, um pop de Carlos Felipe dos Santos, também de Juiz de Fora, foi dedicado à ex-namorada do autor. “Nos conhecemos em 12 de junho de 2000, dia dos namorados. Eu sempre escrevia cartas pra ela. Quando fizemos um ano, foi diferente. Mandei essa música pra representar o amor que eu tinha por aquela pessoa”, contou. “Meu amor”, um pop de Marcelo Antônio dos Santos”, do Presídio de Viçosa, também é obra de um apaixonado. Em ritmo que lembra as canções da jovem guarda, Marcelo cantou: “Meu amor, você deixou saudades / no meu coração restou felicidade/agora estou aqui, falando de amor, pra todo mundo ouvir”.
Uma das faixas mais interessantes, “Inimigo meu”, um hip hop de Agnaldo Timóteo, fala de uma força maléfica que impulsiona às pessoas a se enveredarem pelo crime: “Ele chega, profana, domina você/e muda a sua conduta, sem você perceber/você vira ferramenta de trabalho e então/roubar, matar e trair é a sua obsessão”.
Agência Minas