O ex-goleiro Bruno Fernandes concedeu entrevista, nessa terça-feira, à Rádio Itatiaia, e falou sobre sua rotina no Centro de Reintegração Social da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), de Santa Luzia, em Minas Gerais, onde está há quase quatro meses. Ele falou sobre sua vida no cárcere, da mágoa com os companheiros do Flamengo e disse que perdeu todo o dinheiro que ganhou em sua carreira no futebol. Confira os principais trechos da entrevista:
Retorno ao futebol
Eu acho que preparação é o dia a dia. Se eu falar para você que eu estou preparado, para uma situação que eu ainda não vi, eu vou estar mentindo. Eu acredito que eu estou preparado par enfrentar, mas eu não sei o que há de vir. Mas sei que será pesado. Psicologicamente a gente vem trabalhando, aqui existem profissionais. Fisicamente, tem as ferramentas necessárias. Espiritualmente, acredito que aqui eu estou mais próximo de Deus. Pode ser daqui a um, dois anos, mas estou me preparando.
Ouvindo mais de 30 presos, improvisamos uma antena, o rádio chiava mais do que falava. Quando falava “Gooool” era gol da Alemanha. E isso me doía, por isso que eu não consigo assistir jogos dos times que eu joguei, do Milan, porque eu tinha um pré-contrato assinado com o Milan. Eu ia para o Milan e acho que eu estaria entre os três na Copa do Mundo de 2014, no Brasil
Copa de 2014 na prisão
Dependendo do jogo. Deixar bem claro, se for o Atlético-MG que estiver jogando, eu vou acompanhar. Eu sou atleticano. Bons jogos, uma final, eu sempre acompanho também. Mas não como antes. Antes qualquer jogo eu assistia. Mas muito pouco. Seleção quase não acompanho. A gente puxa até o coro, Atlético, quando meu Galo está jogando, eu acompanho. Eu não acompanho muito a Seleção porque eu olho, lembrando principalmente de Copa de 2014, que foi frustrante. Cada gol que o Brasil tomava, não é porque tem goleiros ruins, mas me doía porque eu sabia que tinha qualidade para estar ali. Na Copa, eu estava no Regime Disciplinar Diferenciado. Lá não pegava rádio, mas o pessoal se movimentou, porque Copa mexe com todo mundo. Nós conseguimos a liberação para ouvirmos. Ouvindo mais de 30 presos, improvisamos uma antena, o rádio chiava mais do que falava. Quando falava “Gooool”, era gol da Alemanha. E isso me doía, por isso que eu não consigo assistir jogos dos times que eu joguei, do Milan, porque eu tinha um pré-contrato assinado com o Milan. Eu ia para o Milan e acho que eu estaria entre os três na Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Amizade
Amizade são as pessoas que, quando você vem para o cárcere, estão do seu lado. Antes você nem imaginava, são as pessoas que te dão valor. Desde o início do cárcere estão comigo minha mãe , 83 anos, e a minha esposa, Ingrid, que está desde o início, encarou o mundo, independentemente se eu estava certo ou errado.
Problemas financeiros
Quando se fala Bruno, muita gente acha que eu sou um "Tio Patinhas" da vida. Acha que eu tenho uma fortuna guardada lá fora. Eu perdi tudo, perdi tudo. Financeiramente zerado. É um recomeço da minha vida.
Fragilidade psicológica
Eu não vou citar nomes. Mas, quando eu fui preso, no início do meu caso, lógico que você fica psicologicamente abalado. Qualquer coisa que o advogado te fala, você acredita. Então pessoas se aproveitam desta situação. Eu só tinha acesso a um advogado, geralmente você chega num presidio você fica 15 dias, lá eu fiquei 10 meses. Nestes 10 meses, acesso só ao meu advogado. Depois de 90 dias que eu tive acesso a minha família. Se eu tivesse tido contato com outras pessoas, até com outros presos, eles poderiam me orientar.
O caso Eliza Samudio
Eliza Samudio desapareceu em 2010. O corpo dela nunca foi achado. A mulher tinha 25 anos e era mãe do filho recém-nascido do goleiro Bruno, de quem foi amante. Na época, o jogador era titular do Flamengo e não reconhecia a paternidade da criança.
Bruno Fernandes foi condenado pela Justiça de Minas Gerais, em março de 2013, a 17 anos e seis meses em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), a outros três anos e três meses em regime aberto por sequestro e cárcere privado e ainda a mais um ano e seis meses por ocultação de cadáver. A pena foi aumentada porque o goleiro foi considerado o mandante do crime, mas reduzida pela confissão do jogador.
A entrevista completa está disponível no site da rádio.