Paredes decoradas com poesias escritas por jovens, em cumprimento de medidas socioeducativas, revelam saudades da mãe, do pai, dos irmãos, mas também a alegria em reencontrá-los nos dias de visita. Engana-se quem pensa que cumprir medida de internação significa romper com os laços familiares. Isto pôde ser constatado no aniversário dos sete anos de funcionamento do Centro Socioeducativo de Justinópolis, localizado em Ribeirão das Neves, comemorado nessa terça-feira (11).
A professora Zélia Rocha trabalha desde a inauguração no Centro Socioeducativo e além de ensinar literatura e as normas da língua portuguesa, é grande incentivadora do "aflorar do eu poético", que de acordo com sua própria análise, representa uma felicidade profissional. "Os textos dos meus alunos são marcados por grandes sentimentos, que traduzem muitas vezes uma reaproximação com o núcleo familiar, principalmente após a entrada no sistema socioeducativo".
O que não falta para Zélia são alunos, 93 ao todo, distribuídos no turno da manhã e da tarde, de segunda a quinta-feira. Sob a orientação de Zélia, cinco deles prepararam uma apresentação teatral baseada na fábula da Galinha na Terra da Tributação e Solidariedade, de autoria de Júlio César Zanluca. O texto foi narrado pela professora e interpretado com o uso de máscaras e roupas, produzidas pelos alunos, que simbolizavam diversos animais. "Escolhemos este texto por tratar de solidariedade, tema importante para refletirmos no aniversário de sete anos do Centro Socioeducativo", explica a professora.
A encenação ocorreu no ginásio de esportes, onde ocorreram também várias outras atividades. Houve um momento de oração, proporcionado pela Associação dos Ministérios Independentes do Brasil (AMIB), que realiza cultos e atividades religiosas no Centro Socioeducativo. A Orquestra Jovem de Contagem interpretou clássicos e populares, como o Bolero de Ravel, o Barbeiro de Sevilha, Aquarela do Brasil e Fico Assim sem Você, gravado por Claudinho e Buchecha, dentre outros. Jovens da Oficina de Música do Centro Socioeducativo apresentaram o Funk Consciente, embalado por instrumentos de percussão: pandeiro, surdo, caixa e repinique.
Imagens falantes
No local do evento havia, como de praxe, agentes socioeducativos, professores, diretores e profissionais do corpo técnico, mas a presença especial foi garantida pelos pais, irmãos e avós. A todo instante era possível admirar belas cenas de abraços e mãos dadas, às vezes olhos molhados.
Em um dos bancos, chamava atenção o entrelaçar de seis mãos, como símbolo da alegria expressa nas palavras do diretor-geral do Centro Socioeducativo de Justinópolis, Júlio Gomide, era um jovem de cabeça baixa, acompanhado pelo pai e a avó. "As famílias não apenas se reencontram, mas restabelecem laços, e isto é relatado pelos próprios parentes".
O diretor-geral ainda destaca os adolescentes que foram alfabetizados na unidade. "Muitos deles chegam com grande defasagem na vida escolar. Alguns aprendem a ler e escrever aqui e são estimulados a continuar os estudos". Júlio Gomide relata já ter recebido visita de jovens ex-internos da unidade para contar como agora estão plenamente integrados na sociedade, trabalhando e estudando.