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Antônio Carlos Benvindo

O que vejo de propostas para nossa cidade não é o esperado por todos; ou pela maioria. Pelo menos é o que acompanho em pequenas pesquisas nos grupos de amigos moradores de Neves. Talvez não só pela certeza consolidada de mais complexos de penitenciárias pra cá, mas também pelo descaso estatal e a inércia das dívidas sociais que ainda não se consolidaram por aqui.

Entra ano, sai ano, muda governo e o que vejo de mudança, talvez não caiba em grão de areia. Ainda acredito que irão se vangloriar e fazer como “Pôncio Pilatos” na próxima eleição.

O descaso se torna real ao vermos projetos estatais, como a “Cidade Administrativa” sair do papel e ser construída como se fosse o “Muro de Berlim”. Exagero meu, é obvio, mas projetos faraônicos para estrangeiro sair do aeroporto de Confins e admirar.

A Copa de 2014 vem aí e o meu temor são os “elefantes brancos” que virão de herança para Belo Horizonte. É inegável que trará progressos para muitas cidades, mas e Neves? Quais os planos para nossa cidade?

Enquanto nenhum planejamento é feito, a Rodovia LMG-806 não saiu do papel e o CEFET ou a Universidade viraram lendas. Dessa forma, volto cobrar, onde está a quitação de nossa dívida social? Gostaria de um mínimo em reparação, um asfalto decente que seja, um transporte digno talvez, ou poder trabalhar dentro da minha cidade e contribuir pra o crescimento da mesma. Será que é pedir demais?

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Segundo dados estatísticos revelados pela ONU ( Organização das Nações Unidas) no dia 19 de Março de 2010, Belo Horizonte é a 11ª capital mais desigual do mundo, o ranking de distribuição de renda da cidade dos alpes, divide o posto com Fortaleza e com a colombiana Bogotá, ainda aparecem neste ranking Goiânia na 10ª posição e Brasília na 12ª como as mais desiguais do mundo, atrás apenas de capitais africanas.

Para o leitor entender o levantamento foi feito a partir do coeficiente Gini, uma medida usada para compreender a situação das cidades no que diz respeito à distribuição de renda ou consumo. Os dados utilizados para chegar ao coeficiente, segundo a ONU, são coletados principalmente de pesquisas e censos. O indicador varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade entre o que as pessoas ganham. Quando o coeficiente da cidade está no nível zero, todos consomem de forma igual. BH no relatório da ONU apresenta um índice de desigualdade equivalente a 0,61 um nível altíssimo, tendo em vista que a ONU considera aceitáveis 0,4.

A desigualdade tem haver com a discrepância entre classes sociais, ou seja, o abismo entre pobres e ricos, ou de forma mais coloquial: poucas pessoas com muito dinheiro e muitas pessoas com poucas condições financeiras.

Em minha opinião BH realmente é uma cidade desigual, haja vista bairros como Vila da Serra, Belvedere e em outro lado da serra do curral o Aglomerado da Serra, Barragem Santa Lúcia, Morro das Pedras, entre outros. Outro fator que podemos sentir são as oportunidades de emprego que são reduzidas, mesmo com qualificação a cidade não oferece boas opções de trabalho e muitas vezes o trabalhador até paga para trabalhar.

O que espanta é o fato da cidade estar "tão bem" colocada neste ranking de péssima reputação, ficando a frente de cidades como: São Paulo e Rio de Janeiro que aparentam ser bem mais desiguais.

Belo Horizonte foi a primeira capital planejada do país, criada dentro dos limites da Avenida Contorno, mas a explosão demográfica ocorrida com a criação de uma cidade próspera e oportunidade de uma vida melhor trouxeram imigrantes do campo e do nordeste para a capital, como não havia espaço dentro destes limites do centro, as famílias tiveram que se deslocar para os "morros" criando assim as primeiras "comunidades". Este é apenas um fator que possa contribuir com a desigualdade.

Não é segredo que Minas Gerais é rico em minério, além de ser uma grande potência no que tange a economia, o que falta é uma distribuição de renda mais igualitária, dando recursos a classe mais baixa de comprar e em contra partida a própria economia local cresce. Esta desigualdade reflete nos números de criminalidade, um local sem oportunidades de emprego suficiente e rendas baixas fornece argumentos para as pessoas encontrarem um modo de vida fácil para conseguir mudar a condição social.

O que me chamou atenção também foi que a imprensa não deu a repercussão suficiente para estes dados, foram pequenas reportagens apenas citando a pesquisa, tanto no rádio e na TV, talvez este fosse um assunto interessante ou não para um ano eleitoral?

A Prefeitura de Belo Horizonte não quis falar sobre o assunto, alegando não conhecer os métodos de análise da ONU, mas para ter consciência de que a cidade é desigual é necessário apenas conhecer cada canto deste território cercado pelas serras e um horizonte ofuscado por casas de alvenarias mal acabados, enquanto outro horizonte por mausoléus faraônicos.

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Algo que me intriga, levou a escrever sobre os nossos bairros. Existe circulando no meio radiofônico uma publicidade de um bairro chamado "Belvedere da Ceasa", ora porque? Se o mesmo bairro se encontra em Ribeirão das Neves, será que nossa oprimida cidade não vende lotes com seu nome. Detalhe a Ceasa está a cerca de 20 km dali e em outra cidade - Contagem. Isto é um exemplo do que o poder público fez com Neves e a sociedade privada (principalmente empresários) fazem, viram a cara para a nossa população. Falam em "Belvedere da Ceasa" porque não "Belvedere de Neves", qual o problema?

Algum tempo atrás um certo prefeito decretou que iria proibir a abertura de mais loteamentos em Neves, que não houvesse infraestrutura adequada para o mesmo. Ufa! O estrago já tinha sido feito e hoje pagamos pela incompetência municipal em períodos passados, que sugou os cofres e ao lado de imobiliárias inescrupulosas provocaram um "boom" na população, sem planejamento e que o único interesse era buscar em nossa cidade "o pote de ouro no final do arco-íris".

Citamos alguns: O Bairro Viena foi criado ao lado de um lixão os riscos de explosão e contaminação é uma ameaça constante aos moradores e o sonho da casa própria pode virar fumaça (sem trocadilhos), idem o Rio de Janeiro recentemente, a diferença é que o Viena não está sob o lixão e sim ao lado. Outros bairros foram criados em locais ermos, isolados de tudo e de todos, como Franciscadriângela, Napóli e Monte Verde, que só agora vêem o progresso chegar com as obras do PAC, "em passos de formiga e sem vontade", mas a população ainda sofre a falta do transporte público digno que atenda a demanda da população.

Falando em obras é algo que o Jardim Colonial, Barcelona e o Neviana não haviam presenciado em sua longa história de uma década sem saneamento básico, água encanada e transporte público dignos, o que se torna fator preponderante para os números de violência na mesma. As obras do PAC podem diminuir o sofrimento, mas não irão sanar todas as necessidades tendo em vista que a empresa de transporte público já avisou que não colocará ônibus sem a criação de praças para finais de ônibus nos mesmos bairros.

Já viram um filme de Luc Besson chamado D13 - Distrito 13? Onde o estado tem um míssil apontado para destruir a qualquer momento o Bairro por causa dos problemas que ele gera, tenho medo que isto aconteça em Neves, a cidade é um “carma” para o Estado e esta solução surreal me amedronta, esta mudança da sede administrativa pode ser um sinal.

Ironia à parte, quero enfatizar a partir da publicidade que ouvi os seguintes questionamentos: até onde vamos ficar negando nossa cidade? Até onde vamos aceitar que façam "gato e sapato" dela e não iremos protestar e lutar? Ora, se não gosta de nossa cidade, mude, há vários loteamentos bons em outras cidades, isto serve para o poder público, para os empresários que não abraçam nossa cidade, haja vista nossa cultura que necessita de incentivo privado e também para a população que se acostumou com tudo que se segue e não faz nada para mudar. Acorda população sofrida!

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A Indústria Cultural foi um termo enfatizado pelos pensadores alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer para definir a mercantilização da arte. A partir da Revolução Industrial ocorrido no final do século de XIX e início do século XX, onde os meios de produção foram modificados e a grande evolução tecnológica possibilitou a produção em larga escala, e o desenvolvimento da imprensa e dos meios de comunicação mais abrangentes como jornal, rádio, e cinema.

A arte deixou de ser produto de inspiração e se tornou atividade mercantil, a burguesia era a nova classe emergente e detentora dos maiores meios de comunicações e utilizava da indústria cultural para impor seus ideais, tendo em vista que esta cultura estava intrinsecamente ligada ao modo capitalista e financeiro, ou seja, quem patrocinava a cultura era a classe emergente, sobrepondo assim à cultura popular.

As afirmações acima foram colocadas para discutir a seguinte questão: até os dias atuais reflete estes pensamentos debatidos pelos pensadores alemães, haja vista a produção fonográfica atual, ou o cinema e as rádios, vendem produtos pausterizados por um mercado capitalista, com fim único de lucratividade e não com intenção de transmitir mensagens críticas.

Parem e pensem um pouco sobre isto, que música atual te intriga e traz à tona temas que geram discussões diversas? Não são as que você escuta no rádio convencional? Reparem na maioria dos programas televisivos, eles algum dia te fizeram questionar o sistema político e social? Se fizerem tome cuidado pode ser pra beneficiar alguma classe política ou social. No cinema, verifique como a maioria dos filmes (principalmente holywoodianos), os Estados Unidos sempre salva o mundo, os terroristas são muçulmanos e o filme encerra satisfazendo o desejo do receptor de sempre ter um final feliz. É claro que há inúmeras exceções e cabe ao telespectador ter a condição de filtrar todas estas questões, mas imaginem uma população desinformada e com pouca cultura que desenvolve suas opiniões apenas por meio do que é visto em novelas, filmes, programas e jornais pasteurizados.

A comunicação e a publicidade contribuem para formar cidadãos cada vez mais manipulados e atrelados ao pensamento burguês, haja vista o pensamento iluminista que somos livres e iguais para consumir os produtos que desejamos, então pode haver cultura genuinamente popular ou a cultura moldada pelos pensamentos românticos de um mundo lindo e belo, como ressalta ADORNO (1947): “A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programados exploração de bens considerados culturais.”

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Cercado por presídios, afastado dos grandes centros urbanos, distante das maiores oportunidades, está Ribeirão das Neves. A cidade conta com mais de 346.000 habitantes segundo o último censo do IBGE, a grande parte da população tem que se deslocar até outras cidades para trabalhar, e conseguir dar uma vida digna para seus herdeiros e dependentes.

As histórias de superação são inúmeras, conheço muitas pessoas, converso com muita gente no meu dia-a-dia e sempre “pesco” a história de cada um, existem muitos que estudam e trabalham, acordam cedo e dormem tarde, como o que vos escreve, outros trabalham em dois empregos para dar aos filhos o que não tiveram a oportunidade de estudar - acima de tudo nas melhores escolas.

O que me entristece que embora Neves sejam um grande colégio eleitoral a muito está esquecida pelos governantes, talvez pelo seu processo histórico de políticos corruptos, a população se acostumou ao desleixo e pouco reclama. As obras do PAC não irão sanar a dívida social que o Estado tem conosco. É necessário dar recursos aos nossos jovens para não se envolveram no crime, o CEFET que nos prometeram ainda não saiu do papel, ao contrário da nova cadeia, as opções de lazer por aqui são raras, não há eventos nas praças para socialização da população, nem tampouco opções de estudo, o que desanimam muitos outros a estudarem, pagarem uma passagem de ônibus abusiva, e o tempo que perdem se deslocando a outros centros, não motiva. Sugestões interessantes como um ônibus gratuito para universitários dependem de vontade política, e a inércia é adjetivo ideal para definir a política local.

O transporte coletivo é algo que me afeta diretamente, em meu trajeto diário Casa-Trabalho, Faculdade-Casa, sofro como muitos, os atrasos, as péssimas condições dos ônibus, além das míninas opções, nos levam a questionar porque a cidade não abre uma licitação para uma nova empresa atender a demanda de Neves.

Os presídios, além de dar emprego a algumas pessoas, trazem consigo o temor de rebeliões, o barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento, o medo, é nosso companheiro diário. Temos medo da violência, mas não lutamos pra que ela acabe ou diminua, dando opções de educação a gerações futuras.

Outro fator negativo e histórico em nossa cidade é a saúde, algum tempo atrás entrei no hospital depois de muitos anos e prefiro ficar sem voltar lá, uma senhora disse que lá parecia um “cabaré” e tive que concordar. Está muito descuidado, nunca há médicos e o estado do local é deplorável. Para solucionar meu problema de saúde, achei melhor ir a uma farmácia e comprar um remédio.

Finalizando as questões que citei acima, temos que ressaltar que Ribeirão das Neves paga pelas escolhas errôneas da sua própria população na política, mas vislumbro a esperança. Tendo em vista algumas mobilizações sociais que vem ocorrendo, ainda bem pequenas e dispersas, acho que falta uma organização para as coisas acontecerem como diria Chico Science: “Eu me organizando posso desorganizar”. A ajuda das novas mídias como a internet, tem possibilitado estas novas formas de mobilização, e enfim, conseguirmos uma democracia real, e futuramente o nosso povo tenha condições de lutar pelos direitos que a Constituição nos oferece, mas que nunca aconteceu de fato na “Cidade Dormitório”, e assim, possamos mudar o rótulo que ganhamos.

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Quando Cristovão Colombo descobriu o Haiti, em 1492, talvez não imaginasse no terremoto social que provocaria a partir daquela data na ilha que um dia comparou com os Jardins do Éden. A ilha foi colonizada por espanhóis, depois os franceses tomaram-na da Espanha, mas o país nunca conseguiu em sua longa história consolidar os idéias iluministas da Revolução Francesa, nem tampouco como um Estado de fato, com ênfase nos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.

A população Haitiana indígena foi dizimada no processo de colonização, escravos desembarcaram no país com sua mão de obra barata e consigo as cerimônias tribais africanas, e se tornou a maioria dos habitantes da ilha. Os solos haitianos que, um dia produziram mais cana de açúcar que o Brasil se tornaram inférteis e os processos políticos e econômicos conturbados, principalmente no período que a Família Duvalier (Pai e Filho), deixaram um atraso de cerca de 100 anos, segundo especialistas, transformaram o país num dos mais pobres do mundo.

Neste momento que o foco da mídia se volta para a ilha, às vezes com certo sensacionalismo, devido à catástrofe geológica uma série de questionamentos vem em nossa mente: Porque a população mundial nunca contribui com o progresso do Haiti ou nunca houveram guerras pelas terras haitianas, como muito se luta pelas terras do Oriente Médio?

Ora no Haiti não há vestígios de petróleo, nem diamante, seus solos são inférteis (como já citado). O país sequer produz talentos esportivos e geograficamente está localizada entre a Venezuela, Cuba e EUA. Enfim, o terremoto geológico que levou brasileiros de grande influência e importância incomparável foi uma tragédia terrível, mas o terremoto social ocorre há bem mais tempo, desde quando Colombo e os espanhóis chegaram para trazer o progresso e tirar dos índios a vida indolente, introduzindo nesta civilização “atrasada” as raízes européias de “mundo civilizado”.

A reconstrução do país pode durar mais 50 ou 500 anos, vai depender do engajamento das forças políticas mundiais como o caso dos países mais ricos que já deveriam ter tomado providências para ajudar, não só o Haiti, mas os países pobres espalhados pelo mundo a fora, principalmente no Hemisfério Norte, que foram os mais afetados com os problemas da colonização.

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