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Neves crescendo em direção ao céu? - Parte 1

A verticalização como nova característica da expansão da cidade. 

 

"O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas
Que cresceram com a força de pedreiros suicidas...
E a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs.
A cidade não pára, a cidade só cresce".
(A cidade – Nação Zumbi)

A urbanização é um fenômeno que surge a partir de diversos processos sociais, é fortemente impulsionado pela dinâmica da econômica no capitalismo global e ocasiona também consequências e contradições sociais, principalmente pela concentração de renda e a dificuldade de gestão das cidades para democratizar as estruturas disponíveis e garantir a todos os cidadãos o direito a cidade.

No atual estágio do processo de urbanização, as definições entre cidade (dimensão física) e o município (a parte administrativa e institucional, responsável pela gestão do território) se confundem, uma vez que a metrópole tem vida própria e não respeita limites administrativos e geográficos, estendendo sua dinâmica de influência e seu modelo de vida às cidades, principalmente das regiões metropolitanas. Em Ribeirão das Neves, verifica-se a cada levantamento, o aumento do seu contingente populacional, principalmente devido à indisponibilidade política de terras existente em Belo Horizonte. Apesar da grande quantidade de terrenos disponíveis para a construção de moradias, a supervalorização dos imóveis, impulsionada por um mercado hermético e com pouca regulação e incentivo estatal para desenvolvimento, faz com que alternativas, como as moradias na região metropolitana, sejam procuradas.

É importante lembrar que em Ribeirão das Neves, podemos observar três fases do seu crescimento populacional ao longo da história e suas respectivas peculiaridades. O primeiro momento, que vai desde a época de sua formação até a década de 1960, com características de ocupação basicamente voltadas ao rural e residências unifamiliares; o segundo momento, a partir da década de 1970, que teve por característica o crescimento populacional, que acompanhou o intenso processo de parcelamento do solo urbano (loteamentos populares), afirmando a estruturação de uma periferia metropolitana altamente adensada, com níveis recordes de crescimento urbano na América Latina. O terceiro momento, a partir dos anos 2000, onde identifica-se uma nova tendência de crescimento populacional baseada na tendência de verticalização dos imóveis (construção de prédios).

A partir dos anos de 1980 e principalmente 1990, tem-se uma tendência a valorização da vida nos condomínios no Brasil, que eram restritos ao entorno das grandes metrópoles e mais voltadas para as classes médias e altas, mas a partir dessa época, passam a ser opção de moradia e estilo de vida também para populações com menor poder aquisitivo. Atualmente, a tipologia das edificações, que estão sendo aprovadas em Neves tem sido predominantemente de conjuntos verticais com até quatro pavimentos e área de aproximadamente 45m² por unidade. Outra tipologia impulsionada no município, constitui-se em condomínios horizontais, com casas geminadas, destinadas à população cuja renda está entre três e seis salários mínimos.

O Censo de 2010 identificou 85.135 domicílios na cidade, sendo 2.331 deles, apartamentos, tendência que tem tido aumento desde os anos de 2000. Segundo dados cedidos pela Superintendência de Regulação Urbana da Prefeitura de Ribeirão das Neves, até junho de 2016, foram registrados 8.559 apartamentos, sendo que não entram nesses números as construções irregulares. Esses dados demonstram o crescimento vertical de Neves, sendo que o número de apartamentos quase quadruplicou em 6 anos. Podemos analisar o exemplo do Bairro Jardim Alterosa, localizado na regional Veneza, onde foi construído em 2013 o conjunto habitacional Residencial Alterosa, com recursos do Programa Minha Casa Minha Vida e que possui 82 blocos de 20 apartamentos, totalizando 1640 unidades.

Ribeirão das Neves permanece, no contexto da região metropolitana de Belo Horizonte, como um dos municípios de crescimento populacional mais acelerado, chegando ao ano de 2010 com 296.317 habitantes e estimativa, segundo o IBGE de aproximadamente 338.197 habitantes no ano de 2020. Esse ritmo elevado de crescimento que vem sendo sustentado na cidade se deve a ocupação efetiva dos loteamentos populares lançados nas décadas anteriores e à continuidade do parcelamento do solo. Com a expansão da cidade de forma vertical, tem-se um impulso ao crescimento populacional inversamente proporcional a melhoria dos serviços públicos da cidade, que já são defasados e não atendem minimamente a população da cidade, ou seja, esse crescimento acelerado impulsionado pela verticalização se torna um problema social.

A expansão e o reconhecimento da existência do fenômeno do aumento populacional conectado a falta de planejamento urbano compõem um desafio para a gestão pública (e cabe ressaltar que a gestão pública se faz além dos gabinetes formais, também existe por meio de movimentos civis organizados e grandes grupos de interesses, ou seja, não podemos deixar essas discussões exclusivamente nas mãos de prefeitos e vereadores) das grandes cidades e principalmente de Ribeirão das Neves, considerando as urgências discutidas.

Estudar a cidade e suas dinâmicas está diretamente relacionado ao aumento da sustentabilidade das políticas públicas e intervenções sociais, assim como da qualidade de vida e da forma como reconheceremos a realidade social e o que é preciso ser feito para uma melhor experiencia de vida em Ribeirão das Neves.

Artigo escrito em colaboração com o sociólogo Tharcio Elizio, mestre em Sociologia Urbana pela UFMG.

 

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