Moradores de comunidades carentes e com altos índices de criminalidade, como a Pedreira Prado Lopes, o Taquaril, Morro das Pedras, Veneza e Vila Cemig, estão entre os autores das fotos que compõem a mostra “Reflito o Conflito”, aberta na noite dessa terça-feira (23), no Museu de Artes e Ofícios (MAO). A iniciativa é fruto da parceria do programa Mediação de Conflitos com o grupo Coletivo Agnitio e tem como finalidade provocar reflexões sobre o tema “conflito”.
Ao todo são 24 imagens afixadas em 12 totens pretos e emolduradas com vidro, produzidas durante oficinas com os moradores das áreas de alto índice de criminalidade e também do Conjunto Felicidade, Rosaneves e Jardim Metropolitano. De acordo com a coordenadora do programa, Sandra Mara de Araújo Rodrigues, além de proporcionar a capacitação técnica, os encontros viabilizaram também a troca de informações entre os participantes sobre os principais problemas locais.
“A importância do projeto está no fato de que cada comunidade pôde construir um novo olhar sobre si mesma e, a partir dele, articular fatores de proteção. Sob a perspectiva de quem vivencia diretamente os embates, as fotografias propõem a reflexão e a ação para mediar desavenças grandes ou pequenas que surgem no dia a dia”, explica Sandra.
A mostra nasceu como uma resposta às demandas trazidas pelas comunidades. O projeto teve início no ano passado com um seminário de abertura, que teve como sequência as oficinas, realizadas de novembro a fevereiro deste ano. As aulas foram ministradas pelos fotógrafos do grupo Coletivo Agnitio, formado por Henrique Teixeira e Marilene Ribeiro, tendo como convidados ainda os profissionais Daniel Gouveia e Luiza Viana.
Dois eixos
O grupo tem como foco central de suas oficinas a questão do desenvolvimento das identidades dos participantes. Graduado pela Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Henrique Teixeira relata que a metodologia utilizada se apóia em uma abordagem que articula dois eixos: o estético, que trabalha o olhar fotográfico, e o antropológico, que ressalta a inserção dos participantes em um contexto cultural.
Cerca de 65 pessoas das oito comunidades participaram do projeto. Segundo Sandra Rodrigues, foram escolhidos moradores que já tinham alguma relação com o programa Mediação de Conflitos. Em cada localidade, pode-se observar um perfil diferente das turmas, no que diz respeito ao gênero e à idade. A moradora da Pedreira Prado Lopes, Valéria Borges Ferreira, de 45 anos, foi uma das alunas da oficina. Ela considera que a grande contribuição do projeto consistiu no despertar de um espírito de comunidade e do desejo de transformação. “Fotografo a Pedreira desde que me entendo por gente. Sempre quis fazer um curso de fotografia, mas nunca tive dinheiro”, conta.
Dinâmica
Em cada localidade foram realizados, em média, oito encontros. Durante as aulas os integrantes trabalharam com a sensibilização estética, a vivência técnica e na confecção de um ensaio fotográfico autoral. Depois de discutirem sobre a arte fotográfica e os problemas das comunidades, os participantes escolheram um tema e saíram a campo para fotografá-lo. A partir dos ensaios, cada comunidade produziu cerca de 1.500 imagens. Todas foram exibidas e discutidas pelos participantes e facilitadores das oficinas, em sessões que duraram, em média, cinco horas. A publicação na internet das 50 fotografias previamente selecionadas possibilitou a escolha de quatro imagens por comunidade e que, após serem impressas, passaram a compor a mostra “Reflito o Conflito”. Todos os participantes têm a chance de mostrar seus trabalhos, no entanto, por meio de apresentação digital.
A exposição é itinerante e poderá ser vista até o dia 7 de maio em espaços culturais de Belo Horizonte e Ribeirão das Neves. Segundo a coordenadora do programa Mediação de Conflitos, Sandra Rodrigues, foram escolhidos locais centrais, como o Museu de Artes e Ofícios e o Museu Abílio Barreto. A intenção é facilitar o acesso dos participantes e do restante dos moradores das comunidades, além de chamar a atenção da população em geral e propor a reflexão.
Bem avaliada pelos realizadores e pelos participantes, a iniciativa também será realizada no interior de Minas Gerais. Em abril, Governador Valadares sediará a próxima edição do projeto.
Serviço
Exposição fotográfica “Reflito o Conflito”
Museu de Artes e Ofícios – 23.03 a 26.03
Museu Histórico Abílio Barreto – 06.04 a 09.04
Mercado da Lagoinha – 13.04 a 16.04
Centro Cultural Alto Vera Cruz – 20.04 a 24.04
Arquivo Público Nonô Carlos (Ribeirão das Neves) – 27.04 a 30.04Salão da Igreja Nossa Senhora das Vitórias (Ribeirão das Neves) – 04.05 a 07.05
Agência Minas