Farinha de trigo, açúcar, fermento, ovos, margarina e sal. Das mãos de cerca de trinta detentos do Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, saem diariamente, das quatro horas da manhã ao meio dia, fornadas de pães de sal e pães doces que são consumidas naquela própria unidade e também pelos internos dos presídios José Martinho Drumond, José Abranches Gonçalves e do Centro Socioeducativo de Justinópolis.
Qualificados pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Panificação (Sitipan) de Belo Horizonte, os detentos são integrantes do projeto Mão na Massa, fruto da parceria entre a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e a empresa Stillus Alimentação. “Nunca tinha feito nada em cozinha e a minha primeira experiência como padeiro não foi muito produtiva. Simplesmente deixei queimar todos os pães de queijo que havia preparado. Hoje, depois de mais de seis meses de trabalho, posso dizer que tenho a confeitaria como preferência”, contou o detento Carlos André, de 25 anos, na tarde desta quarta-feira (8).
Para Sandro Ferreira Gomes que trabalha há um ano e oito meses na padaria da Dutra Ladeira a história não é muito diferente. Nos primeiros dias, a ansiedade para aprender a sovar as massas e preparar os recheios era sua principal rival. Hoje, Sandro é visto como exemplo para os outros detentos. “O erro nos leva à perfeição. Pelo meu aprendizado, eu tenho condição de ensinar e mostrar que somos capazes de mudar a nossa história de vida!”, declara.
Esses depoimentos foram prestados na tarde dessa terça-feira (7), durante a solenidade das novas instalações da antiga Padaria que já funcionava dentro do presídio. A solenidade foi organizada pela Seds, por meio da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). O objetivo é dobrar a produção, que hoje chega a dez mil pães por dia, e oferecer oportunidade de trabalho para outros sentenciados que cumprem pena no local.
A antiga padaria de oitenta metros quadrados agora tem área total de 150 metros e equipamentos novos como forno, geladeira e batedeira mais modernos. “Este momento representa um retrato do sistema prisional de Minas que viabiliza o trabalho e recupera a dignidade humana. Criamos aqui uma alternativa fantástica de trabalho para os internos. Além de terem um ofício aqui entre os muros, já têm proposta de contrato fora da unidade”, revelou o subsecretário de Administração Prisional, Genilson Zeferino Ribeiro.
O espaço cedido pela direção do Presídio foi adaptado às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e está sob a coordenação de uma equipe de quatro padeiros e um supervisor da Stillus. O material da reforma foi doado pela empresa e a obra, realizada pelos detentos.
O cuidado com a higiene e o manuseio seguro dos pães são algumas das principais preocupações da etapa de treinamento dos detentos. “Eles têm uma capacidade muito grande de absorver os ensinamentos. A disciplina é maior devido ao desempenho e à vontade de crescer que eles têm. Isto é muito gratificante”, conta o supervisor da padaria, Hélio Moura.
Agência Minas