Com o objetivo de compatibilizar as ações das entidades que gerenciam, planejam e operam os sistemas de transporte na RMBH para que a rede de mobilidade funcione na região metropolitana de forma integrada, com ações coordenadas entre os órgãos, a Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em parceria com Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) e Sociedade Mineira dos Engenheiros (SME), realizou, nessa quarta-feira(14), o Seminário Gestão Metropolitana da Mobilidade: desafios da integração institucional. O encontro, no auditório do Crea-MG, foi aberto pelo diretor geral da Agência, José Osvaldo Lasmar, o presidente do Conselho, engenheiro Gilson Queiroz, e o presidente da SME, engenheiro Márcio Damazio Trindade. Participaram, também, representante das prefeituras de Belo Horizonte, Betim e Contagem, BHTrans, Transbetim, Transcon, Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
José Osvaldo Lasmar explicou que o quadro institucional da mobilidade na RMBH não é ainda ideal porque o metrô é gerido pela União, o transporte intermunicipal pelo governo estadual e o transporte municipal pelas prefeituras. “Há um enorme caminho a percorrer para integrar ônibus e trem, ônibus e ônibus e assim por diante, além da tarifa”, disse o dirigente, segundo o qual a mobilidade implica também priorizar pedestres, passarelas, calçadas, ciclovias e não somente a eficiência do transporte.
Terminais como equipamentos urbanos
Um dos temas debatidos no seminário foi o Fundo Nacional de Mobilidade, que está sendo votado pelo Congresso Nacional. Lasmar considera fundamental a aprovação deste Fundo, tendo afirmado que “nós, gestores metropolitanos, depositamos nele muita esperança e expectativa, não somente pelo financiamento que vai aportar para melhorar a mobilidade nas cidades, mas porque no caso das metrópoles e aglomerados urbanos só terão acesso aos recursos as cidades que apresentarem planos conjuntos de mobilidade”. Ele informou, ainda, que o Estado tem buscado uma melhor interlocução com os municípios que deverão receber os 22 terminais metropolitanos, a serem viabilizados pela Setop, acrescentando que a Agência Metropolitana e a Secretaria vão avaliar a localização dos terminais e a possibilidade de transformá-los em equipamentos urbanos, bem como a melhor forma de funcionamento.
Segundo Lasmar, esses terminais vão melhorar a eficiência da mobilidade metropolitana porque serão criadas estações de integração fora de Belo Horizonte, onde os usuários embarcarão sem precisar passar pelo centro da cidade para chegar a outro município. Lasmar informou também que a Agência, a Setop e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos estão realizando estudos para aumentar a ocupação do terminal Vilarinho, especialmente em seu vetor Norte, que está ocioso por conta da falta de maior integração dos ônibus intermunicipais com o metrô. “Queremos aumentar a quantidade de linhas intermunicipais que se integram aquele terminal, dando a ele uma maior capacidade de utilização e viabilizando a construção do futuro shopping”, explicou.
RMBH ainda prioriza transporte individual
Lasmar disse também que a RMBH não foge à regra da maioria das outras regiões, que ainda priorizaram o transporte individual e que, por conta disso, está-se buscando sempre soluções para a infraestrutura viária, como alargar avenidas, diminuir canteiros, fazer garagens subterrâneas etc. “Todas as metrópoles do mundo fazem o transporte de massa combinando modais ferroviário, rodoviário, bicicletas, metrô e outros, o que é ambientalmente sustentável, mais econômico, mais seguro, mais confortável, mais barato e, no caso do trem, mais rápido porque não tem sinal de trânsito”, enfatizou.
Gilson Queiroz, presidente do Crea, afirmou que não se deve discutir soluções isoladas para a mobilidade na RMBH, mas planejar para se chegar a alternativas que sirvam a todos. “Temos que discutir um plano efetivo para a mobilidade na região, com integração das instituições para não dispersarmos esforços”, disse.
O coordenador nacional do projeto Confea, engenheiro José Carlos Xavier, disse que o crescimento urbano desordenado, a motorização crescente e o declínio dos transportes públicos comprometem a mobilidade urbana. “Devemos buscar uma política que mude esse paradigma de soluções de curto prazo e partir para alternativas que vinculem o planejamento ao sistema de transportes, priorize o transporte público coletivo e os meios não motorizados e buscar medidas que desestimulem o uso do automóvel”.
Já o presidente do Consórcio Grande Recife, Dilzon Peixoto, entende que a prioridade deve ser garantir que a população se desloque para qualquer local na região pagando uma só tarifa, como ocorre na grande Recife. “Isso facilita para as pessoas encontrarem trabalho melhora o fluxo de veículos e contribui para a sustentabilidade e o meio ambiente, porque significa menos veículos nas ruas e seus efeitos poluidores”, disse.
Intervenções urbanísticas no Rodoanel
O arquiteto e urbanista José Abílio Belo Pereira, do Crea-MG ,expôs a proposta do Colegiado da Sociedade Civil da RMBH para a questão da mobilidade na região, que prevê intervenções especialmente ao longo do novo Rodoanel, projetado para se estender por 67 quilômetros, com 10 quilômetros de área reservada em suas margens. De acordo com Abílio, serão 670 quilômetros quadrados de área em seu entorno, que poderia ser usada de maneira mais racional, beneficiando diretamente oito cidades da Região Metropolitana: Betim, Contagem, Ribeirão das Neves, Vespasiano, Pedro Leopoldo, Confins, Santa Luzia e Sabará, além de vantagens indiretas para outros municípios da RMBH.
Segundo o especialista, nessa área poderiam ser planejadas intervenções urbanísticas visando inverter a lógica de crescimento da RMBH, que tende para o Vetor Norte, criar corredores de tráfego inteligentes, à maneira de países da Europa ou mesmo de Curitiba e São Paulo. A proposta prevê também a criação de polos urbanos de convivência entre pessoas, comércio e empresas, em locais diferentes das sedes, quase sempre extremamente adensadas. José Abílio considera que há grandes áreas despovoadas no interior dos municípios e a implantação desses polos seria um vetor de crescimento dessas regiões, cuja implantação seria precedida de estudos de uso racional do solo, de projetos de transporte e mobilidade, visando ao desenvolvimento sustentável, sem prejuízos ao meio ambiente e mais humanizado.
Agência Minas