"Devia ter arriscado mais, ter amado mais, devia ter visto o sol nascer. Devia ter complicado menos, trabalhado menos, devia ter visto o sol se pôr".
Essa canção dos Titãs traduz bem o que estamos deixando de fazer, ou melhor, deixando de viver no decorrer de nossas vidas. Nesse tempo de globalização e tecnologias avançadíssimas, onde tudo se cria e se inventa para induzir o ser humano a se tornar cada vez mais consumista, mais produtivo, mais comprometido com o que o Sistema quer, não levando em conta que não somos máquinas. Estão robotizando os homens, transformando-os em androides, sem vontade própria, sem atitudes condizentes com nossa essência de seres de luz, criados à imagem e semelhança do Onipotente, para sermos partículas relevantes desse complexo fantástico que é o Universo, e vivermos em comunhão e sintonia com tudo que foi criado, interagindo consciente e despretenciosamente, referendando que de fato somos parte dessa criação.
Em algum momento do tempo nos desgarramos e passamos a correr atrás de uma suposta "felicidade". Trabalha-se não para se ter o básico, o necessário, mas para se ter, possuir, adquirir, alcançar certo status social e descobrir após que o vazio que deveria ser preenchido com as posses, tornou-se maior e mais profundo.
Os valores, costumes, principios e tradições de nossos avós foram gradativamente esquecidos nas dobras do tempo. O Sistema perverso nos induz na direção que lhe é conveniente, somos manipulados como marionetes pela mídia hipócrita e direcionada.
Cada vez mais nos convencem que a felicidade consiste em ter o carro do ano, a casa no condomínio com piscina, quadra de tênis e espaço gourmet, mas não dizem que para se conseguir tais coisas, são necessários anos e anos de preparação em faculdades e ou institutos de ensino técnico, o que não é franqueado ao proletariado e mesmo entre os abastados que conseguem esse privilegio, boa parte acaba frustrada ao descobrir que o horizonte não está pintado da cor divulgada. A competição desenfreada na busca de um lugar ao sol, transforma o indivíduo num ser individualista e solitário e o insucesso que é mais frequente do que se imagina, acaba trazendo o stress, a depressão e as crises existencialistas, que se tornaram um mal coletivo, proporcionando a alegria de psicólogos, psiquiatras e analistas.
Hoje os pais estão preocupados em ensinar os filhos a serem ricos, quando deveriam ensinar a serem felizes. Acho que é chegada a hora de revermos nossos conceitos e valores, enquanto ainda nos resta um pouco de tempo.
Quem foi que disse que viver não dói? Dói, e muito. Não pedimos para nascer, mas uma vez que nascemos não temos outra escolha a não ser viver, viver, e viver, até morrer, este é o destino universal de todos os Homens, no entanto, o que torna a caminhada singular é a forma como cada um constrói a sua existência, mas não se iluda... dói.
Dói por muitos motivos e em muitas situações, dói perder o aconchego da barriga da mamãe, dói perder o leite quentinho do peito, dói perder o primeiro dente, dói cair de bicicleta, dói ser rejeitado na escola, dói amar sem ser amado, dói brigar com quem se ama, dói perder um grande amor, dói ver alguém amado morrer, dói ganhar um tapa na cara, dói não conseguir a tão esperada vaga de emprego, dói fazer amor pela primeira vez, dói tomar vacina, dói tirar sangue, dói ser traído por alguém que se confia tanto, dói ser incompreendido, dói sentir saudade, dói quando não se tem palavras para expressar o sofrimento, dói quando se é humilhado, dói quando se tem um filho, dói quando se espera alguém que não chega, dói quando se é ofendido, dói quando se é injustiçado, dói quando se escuta um “não”, dói ao receber um “fora”, dói desejar um beijo e ganhar apenas um abraço, dói querer colo e ter apenas um travesseiro, dói sentir-se impotente diante de algo muito sério, dói sentir vergonha, dói ter medo, dói não ser respeitado, dói... dói, dói.
Então para que viver se dói tanto assim? Porque a vida precisa ser vivida “apesar de...”, isso mesmo, devemos viver apesar de doer, apesar de sofrer, apesar de chorar, apesar de ser difícil, e principalmente, apesar de deixar marcas.
Só sente dor quem machuca, e machucado deixa marcas, cicatrizes na epiderme e na alma tornando evidente que a vida esta sendo vivida. Misturado ao sangue que corre na veia estão os fragmentos do nosso coração, da nossa cabeça, de cada órgão do nosso corpo, é a vida circulando em cada célula e pulsando freneticamente. O tempo vai passando, a vida vai acontecendo e a certeza da dor fica mais evidente, não há como negar que respirar pode parecer simples, mas é uma das tarefas mais complicadas que temos, afinal só respira quem está vivo e viver dói.
Se a dor é uma condição para a vida, então, não deveríamos usá-la como desculpa para não viver, é uma questão de lógica, paralisar não é, nem de longe, um antídoto contra o sofrimento, a dor não deve ser temida, paixão dói, não é mesmo? Mas nem por isso deixa de ser uma experiência maravilhosa. Pergunte a alguma mãe como foi o parto de seu bebê, a maioria delas irão dizer que doeu, e muito, mas estou certa que nenhuma delas abriria mão de ter o seu filhinho nos braços para não sentir aquela dor, por mais intensa que ela tenha sido. Viver dói, sangra, machuca, deixa marcas, mas vale à pena.
A verdade é que a vida só tem sentido quando ela é experimentada em sua plenitude, sem ser fragmentada , e se doer, doeu; se chorar, chorou; se sangrar, sangrou; se sorrir, sorriu e no final você se dará conta que viveu.
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