Repensar suas histórias pessoais e buscar novos caminhos. Estes foram os motivos que levaram 13 detentos do regime fechado e semiaberto e outros três em cumprimento de prisão domiciliar a ingressarem no grupo de teatro Vida Nova, da Penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves. Em atividade desde março de 2010, eles já se apresentaram para mais de 8 mil pessoas, em toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Os textos são escritos de forma coletiva e abordam temas como as drogas, direitos humanos, esquizofrenia, ressocialização, bullying e política. Os “atores” têm feito tanto sucesso que a agenda do grupo está praticamente ocupada até o final do ano, inclusive com uma participação no show BH pela Paz, previsto para outubro, na Praça da Estação. Os voos previstos para 2012 são ainda mais altos. A trupe já está inscrita na Campanha de Popularização do Teatro e no Festival Internacional de Teatro de Tiradentes.
Pré-requisitos
Existem dois pré-requisitos para ingressar no grupo de teatro Vida Nova. O primeiro é o bom comportamento e o outro, estar estudando, uma vez que na Penitenciária José Maria Alkimin funciona a Escola Estadual Cesar Lombroso. O incentivo já rendeu frutos. Dois integrantes do grupo resolveram fazer prova do Enem e hoje cursam faculdade de Ciências Contábeis e Turismo.
Estudar é um lema perceptível também no conteúdo das peças. O idealizador do grupo, Paulo Roberto de Azevedo, cumpriu 19 anos de prisão e hoje tem prisão domiciliar. Ele continua participando das apresentações e explica que o grupo faz pesquisas na internet e pede ajuda a especialistas para escrever os textos. “Na peça sobre esquizofrenia conseguimos esclarecer muitas dúvidas e mitos sobre a doença, e isto tem surpreendido as pessoas”, conta.
Mergulho
O Grupo Vida Nova teve o apoio do psicólogo Marcelo Arinos Drummond, referência nacional em Psicologia na atenção básica, como forma de introduzir subsídios para que eles pudessem repassar ao público informações sobre sofrimento psíquico e esquizofrenia. Já a peça sobre drogas enfoca o álcool, a maconha, a cocaína e o crack, intercalando dramatizações de cenas do cotidiano com relatos de histórias de vida dos próprios atores.
A assistente social da penitenciária, Sueli Valéria Ribeiro, conta que se emociona ao conhecer o passado e o presente dos detentos dos presos por meio das peças. “Isso me faz acreditar ainda mais na possibilidade de mudança. Não sei mais quantas vezes assisti os meninos nesta peça, mas sempre fico tocada, mesmo que seja um ensaio”, revela.
Parceria
A trilha sonora das apresentações traz letras e músicas cantadas pelos próprios presos, em que eles falam da própria vida, pedem um minuto de atenção para refletir, e até fazem um apelo, em ritmo de rap: “não quero ver você parar em uma prisão”.
A maior parte dos integrantes cumpre pena do regime semiaberto, mas os do regime fechado não são impedidos de participar, obtendo autorização da Justiça para as apresentações feitas fora da unidade prisional. O grupo de participa também do projeto Construindo Pontes para a Liberdade, criado pela assistência social da penitenciária, que é desenvolvido com a equipe de saúde mental da prefeitura de Contagem.
Agência Minas