Foto: Rafaella Arruda
A Unidade Básica de Saúde (UBS) Barcelona é exemplo de que o conhecimento faz a diferença. É o que afirma uma matéria publicada na página da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo o texto, uma equipe de dez profissionais, entre agente comunitário de saúde (ACS), enfermeiro, técnico de enfermagem e clínico geral, a Unidade atende oito pessoas com doença falciforme (DF), doença genética que afeta o sangue e provoca diversas complicações, como anemia, infecções e crises de dor. É o maior número em relação às demais UBSs do município. Para a equipe, que antes de se capacitar sabia pouco da doença, o conhecimento adquirido com o projeto "Doença Falciforme: Linha de Cuidados na Atenção Primária à Saúde", deu início à mudança de postura com o paciente.
A melhoria do atendimento começou em 2012, quando representantes da UBS Barcelona com formação superior participaram do curso a distância do projeto e puderam, pela construção compartilhada de conhecimento, entender a doença. Após o curso de 90 horas, com cinco módulos sobre aspectos diversos da doença, os profissionais treinados passaram a replicar o aprendizado na Unidade. "Eu sabia superficialmente da doença pelos pacientes. Foi com a replicação que a UBS passou a abrir os olhos para a DF", contou Elaine de Jesus, há cinco anos na Unidade.
"Hoje conseguimos ter um vínculo maior com essas pessoas", disse a gerente da UBS, Dayanne Souza. Segundo a enfermeira, a equipe agora leva em conta os cuidados especiais dos pacientes: "A partir do curso ficamos mais atentos". Mesma opinião da ACS Keli Ferreira. Para ela, que participou também de outras capacitações do Cehmob-MG, a tentativa é de sempre tentar melhorar a condição da pessoa com DF. "Neste caso, quando temos alguma coisa para marcar tentamos colocar na frente, pois sabemos que não pode esperar", declarOU. Outro exemplo é o cuidado durante as visitas domiciliares. "Procuro saber sobre os exames, marcação de consultas. É uma atenção que a gente passou a ter com eles. Antes não era visto como prioridade", citou Maria dos Reis, 12 anos atuando na Unidade Barcelona.
Avanços e desafios
Segundo a Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia do Estado de Minas Gerais (Dreminas), existem hoje cerca de 300 pessoas com a doença em Ribeirão das Neves. "É um município que, apesar das dificuldades, avançou muito no cuidado da pessoa com doença falciforme", citou a presidente da Associação, Maria Zenó Soares. Neste cenário, ela destaca a UBS Barcelona: "O conhecimento fez a diferença e a postura começou a mudar. Acredito que tudo que tiver que ser implantado em projeto piloto para a doença falciforme deve iniciar lá".
Antônio Marcos é atendido pela UBS Barcelona e foi diagnosticado com a DF com um ano de vida. "Devagarzinho as coisas estão melhorando. Quando chegava aqui, tinha que esperar atender todos os outros. Agora, se chegamos passando mal, se precisar de consulta com o médico, eles já nos passam", contou. Segundo ele, o principal problema continua sendo a falta de informação e de atendimento ágil nos hospitais: "No hospital é muito difícil ser atendido urgente. Ficamos de molho, aguardando".
De acordo com Elaine de Jesus, Antônio enfrentou dificuldades com uma necrose de fêmur, decorrente da DF, na época em que a equipe passava pela replicação do curso Linha de Cuidados. "Sabendo da necessidade dele, da cirurgia e dos riscos, corremos mundos e fundos para ajudá-lo, mesmo com as limitações enfrentadas pelo município", contou a ACS.
Linha de Cuidados
O projeto "Doença Falciforme: Linha de Cuidados na Atenção Primária à Saúde" foi criado em 2008 pelo Cehmob-MG com o objetivo de fortalecer a capacidade técnica e política dos profissionais e equipes das UBS em doença falciforme e melhorar a qualidade da assistência às pessoas com a doença.