Um painel com o mapa mundi, mesas forradas com toalhas brancas e enfeitadas com flores de papel, balões coloridos e floristas distribuindo rosas compuseram o cenário do Festival da Primavera-Mulher, realizado no Presídio Feminino José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves, nesta quinta-feira (18). Cento e dezenove detentas participaram do evento que teve como objetivo valorizar a cultura, a arte e a feminilidade das participantes. Foram apresentados números de dança, teatro, recital de poesia e canto, com figurino do Palácio das Artes e do Grupo de teatro Galpão Cine Horto. O ator de comédia, escritor e diretor Kinkas Costa foi uma das atrações da festa encenando trecho de sua peça "O Espiritólogo".
Dezoito presas revelaram seus talentos para a dança. Nove delas fizeram uma apresentação de jazz; três outras optaram pela dança do ventre; as seis detentas restantes recorreram a valsas de André Rieu, violinista e regente holandês. As aulas e os ensaios foram comandados por professoras da própria escola da unidade, onde é oferecida a modalidade Educação para Jovens e Adultos (EJA) nos ensinos fundamental e médio.
A poesia também teve vez durante o evento. Seis presas recitaram textos de autores nacionais renomados, como Vinícius de Morais, Cecília Meireles e Gonçalves Dias, apresentando postura cênica e figurino à altura. As roupas, de estilo medieval, foram alugadas do Palácio das Artes e emprestadas pelo Grupo Galpão Cine Horto. Já o teatro, que abordou a questão religiosa, conforme escolha das próprias internas, mesclou expressão corporal e música e não utilizou falas. “A peça alerta para os males que os vícios acarretam na pessoa e mostra como Deus pode operar milagres na vida de quem n'Ele acredita”, explicou Cristiane Veloso, professora da escola da unidade.
Maquiagem
O festival teve também o canto coletivo como atração. Treze presas cantaram músicas de temática religiosa. Toda a maquiagem das artistas detentas foi feita pelas 18 alunas do curso de Maquiagem Cênica, ministrado pela professora Regina Mahia. Desde o início de novembro, ela comparece na unidade para ensinar as técnicas da profissão às presas. “Todas têm se saído muito bem. Fico feliz em poder formar discípulas, já que o mercado é tão carente de profissionais nesse ramo”, alega.
A diretora de Ensino e Profissionalização da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Maria Helena Nobre de Moura, destacou que a política de ressocialização procura firmar parcerias, de forma que os presos consigam uma real colocação no mercado após o cumprimento da pena. “Esse curso de maquiagem veio a calhar. Ao saírem daqui elas poderão encontrar, com mais facilidade, um trabalho no ramo”, afirmou.
O ator, escritor e diretor Kinkas Costa encenou um trecho da peça "O Espiritólogo", que faz uma crítica às religiões, de maneira inteligente e questionadora, arrancando gargalhadas dos presentes. Ele revelou que nunca tinha entrado em uma unidade prisional. “Fiquei muito surpreso e encantado com o que vi. Percebi que a esperança e o amor motivam os corações das internas”.
Adenilza Teodoro de Oliveira, que cumpre pena na unidade, foi uma das cantoras do evento, interpretando a canção evangélica “Com muito louvor” e foi acompanhada por todas as detentas. “Não fiquei tímida, mesmo tendo tanta gente me assistindo. Pode haver uma multidão na plateia, mas meu canto é para Deus”, falou. Outra presa que participou da festa, dançando jazz, foi Crisleine da Costa, aluna do curso de Maquiagem Cênica. “Espero que, quando sair daqui, consiga um emprego na área de maquiadora. Quando isso acontecer, vou alugar uma casa e voltar a viver com meus filhos, recuperando a guarda deles”, relatou.
A diretora-geral do presídio, Raquel Alves de Paula, explicou o sentido da festa. “Procuramos incentivar as atividades culturais e de lazer, proporcionando oportunidades que elas não teriam lá fora”. A diretora de Atendimento e Ressocialização, Isabel Linhares, disse que momentos como esse ajudam as detentas no resgate da autoestima. “Elas ficam muito sensibilizadas. Tudo isso provoca reflexões importantes, criando oportunidades para que elas possam repensar seus atos e encontrar uma outra forma de vida”, destacou.
Agência Minas