Ação da Polícia Militar tentou calar a manifestação do Grito dos Excluídos em Neves, nesta quarta-feira (7), para poupar autoridades políticas do município. Integrantes de movimentos sociais, associações e comunidades religiosas, que realizam o evento todo ano, em sintonia com várias cidades do Brasil, foram impedidos pelos militares de apresentarem à população a luta pela independência e por condições melhores de vida na cidade. Carro de som que seria utilizado pela Rede Nós Amamos Neves, articuladora do evento, também foi barrado de acompanhar a manifestação e um integrante do movimento foi preso pelos militares por transitar com faixa no entorno da praça central.
Mesmo com a articulação da PM para resguardar as autoridades e impedir o público de assistir a manifestação, integrantes dos movimentos aguardaram o tempo imposto pelos militares. A PM armou um cerco obstruindo a passagem dos manifestantes e liberou a via depois de cinco minutos da última apresentação das escolas. Integrantes dos movimentos populares fizeram contagem regressiva para desfilar na Praça. De acordo com o Tenente Fagner, que comandou a operação, o objetivo da ação foi de não atrapalhar a ação cívica no município.
O dia, reservado para comemorar a independência do Brasil, foi marcado pelo abuso de poder, vista grossa, por parte das autoridades para as necessidades do povo, e a falta da liberdade de expressão que os cidadãos Nevenses ainda enfrentam, quando se trata de reivindicar seus direitos. Autoridades insistem em enxergar a luta contra o descaso com a sociedade cível, como manifestação política e partidária.
O tema do Grito dos Excluídos este ano foi: “Pela Vida grita a terra, Por direitos todos nós”. As reivindicações por melhorias no transporte público; na saúde; por reajustes de salários para os professores da rede municipal; a luta contra cadeias e a transparência no uso dos recursos públicos, foram algumas das exigências dos manifestantes ao se apresentarem. A concentração do movimento social começou às 8h, no entanto a passeata só foi liberada por volta das 11h.
A enfermeira Aparecida Perez Vieira, do bairro Florença, ficou nervosa em vários momentos enquanto aguardava a liberação da PM. “Fico indignada com a postura da polícia militar contra os movimentos populares. Essa é a terceira vez que eu participo do Grito dos Excluídos em Neves e nunca tivemos problemas para realizar o evento”, comentou.
O desfile do movimento foi aplaudido por pessoas que ainda se encontravam na Praça. No entanto, ao passar em frente o palanque instalado pela Prefeitura, nenhuma autoridade estava presente e o som alto abafou o grito dos manifestantes. O ato terminou às 12h com o hino nacional no palco da praça.
Abuso de Poder
Minutos antes da liberação da via para o início do manifesto, um dos integrantes da Rede Nós Amamos Neves, Sidnei Martins, foi detido na Praça Central. De acordo com o contador José Gonçalves, que presenciou a abordagem, cerca de oito policiais imobilizaram o membro da Rede. “Foi muito rápido. Estávamos indo em direção à Praça com algumas faixas na mão e um policial perguntou quem era o líder. O Sidnei respondeu que era ele e de repente os policias o agarraram, algemaram e levaram para o quartel, explicou o contador.
Sem argumentos substanciais para preencher a ocorrência, Sidnei foi liberado, às 14h, e não pode participar da manifestação. De acordo com a Rede, a prisão será denunciada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Ribeirão das Neves e à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, uma vez que o mesmo foi colocado em uma cela infecta, tratado como marginal, sem levar em consideração que o mesmo é universitário, com emprego e residência fixa no município. Um grupo da Rede acompanhou todo processo no quartel da PM e na delegacia da Polícia Civil, prestou depoimento até a liberação do Sidnei, que foi privado de exercer seus direitos de cidadão.