CAETANO, Liza Iole S.
O que aconteceu? Reconstruímos a nossa cognição e a nossa forma de estudar? Aprimorar denota-se num caminho irreversível. Dizia Paulo Freire, sobre a necessidade de mudanças nas escolas: "E pôr a escola à altura do seu tempo, não significa soterrá-la, sepultá-la. Mas sim, refazê-la!". Suponho que nem Paulo Freire imaginou que essas mudanças aconteceriam tão subitamente e de forma massiva como ocorreu, não só no Brasil, sim, em todo o mundo.
Nunca se ouviu falar tanto em: Google Forms; reuniões virtuais; atividades remotas; teletrabalho; ensino híbrido; ensino remoto; videoaulas; teleconferências; grupos de WhatsApp; Zoom; Google Meet, dentre outros.
Para Anísio Teixeira, a educação do século XXI, era concebida e planejada, para depois disso, ser executada. Essa concepção e planejamento são perceptíveis em diversas teorias e pesquisas contemporâneas, em contrapartida, sua execução não é tão evidente como o esperado. Hoje, deparamo-nos frente a uma pandemia, como falamos na coluna anterior, que nos impõem a obrigação de uma nova postura e de uma nova forma de ensino. Então, de forma inesperada, percebemos que não conseguimos acompanhar os avanços tecnológicos com a mesma agilidade e proporção de crescimento. À nossa maneira, íamos caminhando a passos lentos, desbravando novos territórios, aprendendo novas metodologias, percorrendo novos caminhos de maneira tímida e quase imperceptível, se comparada à expansão tecnológica. Porém, o tempo todo nos movimentando, articulando-nos e extraindo forças em prol de uma educação pública de qualidade.
Nessa perspectiva, trago em pauta as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação-TDICs, notamos que elas sempre foram vistas como um complemento à educação, como ferramentas possíveis para tornarem as aulas mais atrativas e compreensíveis. Todavia, nas aulas presenciais, muitas vezes pela falta de infraestrutura ou de equipamentos tecnológicos, optávamos por trabalhar com as tecnologias tradicionais, como livros, jogos de tabuleiros, quebra-cabeças, dominós, jogos da memória, fantoches, entre outras, que são tão importantes quanto as tecnologias digitais. Pode-se dizer que no ensino presencial tínhamos a opção de fazer uso dessas tecnologias tradicionais ou digitais, já no ensino remoto ou híbrido não há flexibilização, não há possibilidade de sentarmos em uma roda e jogar com nossos estudantes. Nesse contexto, o uso das TDICs deixou de ser um simples complemento e se tornou o principal meio de comunicação entre a escola e os estudantes.
É visível a educação se refazendo, sobrevivendo, lutando e se reestruturando. Infelizmente, de uma forma bem diferente do que esperava Anísio Teixeira e Paulo Freire. Por que será? Uma pauta que já era preocupação desde os séculos passados, que vem sendo discutida por uma corrente de pensadores. Há quatro décadas, já dizia Anísio Teixeira: — A nossa tarefa é hoje muito mais difícil. Primeiro, porque precisamos fazer algo de semelhante para todos e não apenas para alguns. Segundo, porque já não estaremos ministrando a cultura clássica, mas a complexa, variada e, sob muitos aspectos, confusa cultura científica moderna (…). O progresso científico está na tela e conduz o homem, nenhum de nós sabe para onde. — Conforme pesquisas norte-americanas “entre crianças de todo o mundo que começarem o ensino fundamental este ano, 65% acabarão em empregos ainda não inventados.” Nesse aspecto, precisamos nos preparar e preparar os nossos estudantes para lidarem com as incertezas, assim como aceitar que esse progresso científico é irreversível. Adentrou nas nossas escolas de maneira avassaladora e permanente.
Tal como em um jogo, quando se mudam as regras, muitas peças ficam deslocadas e outras até de fora do jogo. E você? Qual é a sua posição? Nesse "jogo" quem não acompanhar esses avanços, com toda certeza, ficará de fora. Seja no ambiente escolar, profissional, religioso, cultural ou social, temos que nos adaptar, reinventar a todo momento. No mundo real, não há uma carta "curinga" é preciso driblar os obstáculos, ultrapassar as barreiras e lutar contra qualquer categoria de desigualdade. O mundo precisa de mentes pensantes, nossos filhos, nossas crianças, nossos jovens e nossos alunos precisam de uma educação emancipadora "Educação não é privilégio… Educação é um Direito"!
Deixo uma reflexão: quando encontraremos a solução? Será que depende só de nós educadores? Acredito que somos atores de extrema importância nesse processo, porém não conseguiremos sozinhos(as). A inclusão de políticas públicas denota-se essencial para a superação desses desafios, assim como a colaboração de todos os cidadãos, mães, pais, professores(as), pedagogos(as), diretores(as), pesquisadores, estudantes, artistas, lideranças sociais, culturais, religiosas, políticas, enfim toda a nação brasileira.
Referências
PAPERT, Seymour; FREIRE, Paulo. O futuro da escola. Diálogo gravado e documentado entre Paulo Freire e Seymour Papert. São Paulo: TV PUC-SP, 1995.
TEIXEIRA, Anísio. Mestres de amanhã. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.40, n.92, out./dez. 1963. p.10-19.
LOPES, Rodrigo F. Atualidade do pensamento de Anísio Teixeira e a educação em tempos de Cibercultura. 2018 - - Universidade Federal da Bahia