Com o lindo poema "O Menino Azul", de Cecília Meireles, ingresso nessa parla, o verso também caberia ser chamado de: "A Menina Azul", "O Menino Rosa", "As crianças Amarelas", "As meninas Lilases", "Os Meninos Verdes", "As crianças Pretas" e todas as cores do arco-íris, todos os nomes que conseguir imaginar ou todas as rimas que for capaz de inventar. Sim! Poesia se constitui nisto: imaginar, inventar, criar, questionar, relembrar, refletir, descobrir, e por que não reinventar? Nesse sentido, emano te convidar a, para comigo, analisarmos, refletirmos e redescobrirmos, o porquê desse poema estar aqui.
O menino quer um parceiro, mas um parceiro que o compreenda, que seja paciente e que não corra demais, que não pule nenhuma etapa, porém que esteja ali para conversar, orientar e não apenas brincar ou passear. Ensinar não se reduz a transferir conhecimento, lecionar todos os conteúdos ou, simplesmente, virar a caixa de brinquedos e "lego", e deduzir que somente aquele gesto representa a ludicidade necessária para o desenvolvimento das crianças. Não! Ensinar vai além. Expressa-se na construção do conhecimento de maneira dialógica e colaborativa ao criar inúmeras possibilidades em sua produção.
O menino quer um companheiro que saiba dizer os nomes de tudo que aparecer, "não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino" (Freire, 1996), para haver aquisição do conhecimento se faz necessário buscar, indagar, descobrir. Sim! Não basta ser um lexicógrafo e saber o nome das coisas, o indispensável se denota em construir e reconstruir. O "menino" incentivado a pensar, debater, questionar, construir um novo conhecimento, para amanhã repensar, desconstruir e reconstruir. Só assim que se desenvolve o pensamento crítico.
O menino quer um amigo que bonitas histórias saiba inventar, pois, assim também, saberá que criar invenções ele aprenderá. O "menino" quer alguém que o ensine a sonhar, a criar e a imaginar. Educar define-se por formar, e qual formação estamos proporcionando às nossas crianças? Uma história bonita, construída em alicerces sólidos e firmes, mas que tem a flexibilidade de se refazer conforme as necessidades? Ou uma história traumática construída na areia, sem raízes, que se desfaz e desaparece deixando-o sem chão?
O menino quer um aliado, aventureiro, para sair pelo mundo sem fim, quer alguém que esteja junto, que o incentive e o desafie. Que tenha predisposição para a mudança, que aceite e valorize as diferenças. Que tenha consciência de que o conhecimento não tem fim, que o "erro" se limita a um gatilho para repensar e reconstruir o aprendizado. Tornamo-nos culturais quando aprendemos, interferimos e participamos, em verdade, problematizamos o futuro e transformamos nossas vidas.
Quem souber de um parceiro, companheiro, amigo, aliado, aventureiro, educador, sonhador, incentivador como esse, pode escrever para:
Rua da Curiosidade, Número da Imaginação,
Bairro da Criação,
CEP da Diversão,
Cidade do Compartilhamento,
Estado da Reflexão
País da Mudança
Ao Menino Azul que quer aprender a ler.
Ele, ainda não sabe ler, mas traz consigo um conhecimento social, cultural, individual que é seu, único e libertador. Sua curiosidade, autonomia e criatividade nos leva a refletir sobre diversos assuntos, mas aqui, nesta conversa, quis ressaltar que o "aprender" veio antes do "ensinar"…
Que sejamos eternos aprendizes, e tenhamos o compromisso de imaginar, criar, educar, questionar, ensinar, compartilhar, produzir, refletir… simultaneamente com nossas crianças. O aprender é uma aventura criadora, “Só somos porque estamos sendo”, e é por meio da educação que faremos a intervenção no mundo.
Abraços, até a próxima!!!
Profª Liza Iole da Silva Caetano
Referências:
MEIRELES, Cecília, Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira,2002
RESNICK, Mitchel, Jardim de Infância para a Vida Toda: Por uma Aprendizagem Criativa, Mão na Massa e Relevante, Editora Penso, 1ª edição, 2020.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa, São Paulo, Editora Paz e Terra, 30ª Edição, 1996.