Uma festa tradicional, que veio para nossa cidade através da família do nosso saudoso senhor Nonô Torroso, pelas mãos de seus filhos Neno, Pide, Rogéria, Maria da Glória, Tininha e Erica, trazendo de Pedro Leopoldo o evento que neste ano completa 100 anos. Na nossa época era uma farra, marcadas de grandes alegrias, pois a Praça de Neves ficava lotada, com muitos participantes que saiam de suas casas para verem o “Boi da Manta”.
Lembro-me que nós mulheres vestíamos de túnicas pretas ou brancas e colocávamos máscaras de monstro, e os homens vestiam-se de mulheres. Sei que toda a costura e a construção do Boi da Manta foram feitas por Neno e suas irmãs, muito habilidosas. Era uma festa! Assim que fazíamos nosso desfiles, que se não me esqueço durava as três semanas anteriores ao Carnaval – o último antecederia a folia.
Vocês sabiam que Neves tinha até escola de samba? Eles desciam do morro do Cemitério, termos que usávamos e muitos ainda usam. A escola de samba era com moradores da conhecida Vila Santa Matilde. Era uma festa! Nossa atração era a mãe de Cerezo, que carregava o standart do Boi da Manta – inclusive quem o bordou foi Dona Heroína. Principalmente o nosso boi era a alegria do povo e da criançada, pois havia toda uma encenação teatral: antes do Carnaval, o boi morria para novamente ressuscitar e trazer consigo a alegria, o Carnaval.
Devido à falta de investimento, principalmente dos órgãos municipais, aos poucos o Boi da Manta foi sumindo e deixando somente a saudade de um tempo alegre e cheio de boas recordações.
No ano passado, montamos uma ala de pessoas amigas, da entidade civil para podermos desfilar na Escola de Samba Imperavi de Ouros, o qual nosso amigo Eber Emanuel Margarida, mais conhecido como “Ebinho”, atualmente é diretor, para podermos ensaiar o enredo da escola, pois já havíamos desfilado em 2018. No primeiro encontro, após várias lembranças, surgiu a ideia de lançarmos o renascimento do “Boi da Manta”.
Foi uma festa maravilhosa, na qual tivemos vários apoios, até mesmo por se tratar de um ano político, onde pudemos realizar esta festividade. Não citarei nomes para que eu não possa ser deselegante com ninguém ao esquecer de alguém, mas tem uma pessoa que não podemos deixar de citar, o prefeito Junynho Martins, que como nevense, também chegou a prestigiar o Boi da Manta, e o então secretário de Esportes e Cultura, Erick Lucas, por entender a importância de resgatarmos nossa tradição há muito tempo esquecida.
Criamos então o “Grupo Cultural Raízes Nevense” para resguardar que nossa tradição jamais será esquecida e, com isso, poder trazer outros eventos que eram carregados de simbolismo que permanece no esquecimento. O grupo tem a patente do “Boi da Manta” para que possamos relembrar o nosso passado e fazermos com que os nossos jovens possam ter história para, assim como nós, manter nossa tradição.
O Boi da Manta é uma festa ritual
O Boi da Manta é uma festa ritual que encena a violência contida, o exercício simbólico do controle dos instintos que existe em todos nós. Ao mesmo tempo é uma celebração do prazer e do que há de brincante nas pessoas. O entretenimento é uma das mais básicas necessidades humanas para a saúde do corpo e do espírito. Assim compreendido, o boi é uma festa em defesa da paz, da cultura e da convivência humana.
O boi é acompanhado de inúmeras criaturas fantásticas, personagens e mascarados que acompanham o cortejo e celebram a saída do boi pelas ruas. É um rito de vida, alegria, êxtase e prazer. O Boi da Manta é enterrado no último dia, com forte rito de morte em que os festejantes o jogam pela ponte. A morte do boi anuncia a chegada do Carnaval que não há mais – não pelo menos como antigamente.
Uma festa tradicional, com valores de um mundo em transformação. O Boi da Manta é acompanhado de marchinhas tradicionais de Carnaval, que na opinião de muitas pessoas, recuperaram os valores mais tradicionais do boi – a brincadeira, a simbologia e o respeito às tradições.
Um Boi da Manta brincante, sem violência e como rito de brincadeira. Sendo assim, o Boi da Manta, como em outros lugares do Brasil, é uma festa ritual que exige muito respeito, cuidado público e preservação de tradições que conservam e valorizam o que há de melhor na expressão cultural do Brasil e de nossa cidade.
Simbologia do boi
O boi simboliza bondade, calma, força pacificadora e alegria. O boi representa também a capacidade de trabalho e sacrifício, associado à amizade, à doçura de atitude e ao desprendimento.
Então, façamos deste evento um ritual de alegria, bondade, e uma extrema força pacificadora, com amizade, doçura e muito amor pela nossa amada Ribeirão das Neves.
Grupo Cultural Raízes Nevenses
Ebinho e Belinha