A quadrilha responsável pelo roubo de 45 armas na Central de Escoltas do Sistema Prisional de Ribeirão das Neves foi apresentada pela Polícia Civil nesta quarta-feira (23). O cabeça do grupo, o agente penitenciário Marcos Antônio de Oliveira Nogueira, de 38 anos, chegou a desmaiar durante a apresentação. Ele confessou que dopou os outros oito agentes que estavam de plantão no dia 24 de março e disse que cometeu o crime para conseguir dinheiro para pagar um agiota, que estava fazendo ameaças a ele e à sua família.
Das 45 armas roubadas, 40 foram encontradas nessa segunda (21), e as investigações continuam para localizar o restante e identificar possíveis receptadores do material. Marcos Antônio dopou os agentes colocando Rivotril - um remédio controlado que tem como um dos sintomas a sonolência - na salada de frutas deles.
Os outros integrantes do grupo preso em virtude do roubo à Central de Escoltas são o irmão de Marcos, Arthur Rodrigues Nogueira, de 23 anos, que foi o responsável pelo transporte das armas; o porteiro Washington Luiz Soares, de 48, que era o intermediário que deveria receber as armas e revendê-las; e ainda Wanderley Metzker, de 45, apontado como o receptador das armas. Ele foi preso com uma das pistolas roubadas e dez cartuchos de munição.
O crime
De acordo com o delegado Wanderson Gomes, chefe da Divisão de Operações Especiais da Polícia Civil (Deosp), Marcos Antônio estaria planejando o crime há algum tempo, mas apenas três dias antes do roubo foi que chamou o irmão para participar e contou o plano.
As armas ficavam trancadas em um quatro dentro da Central e um dos agentes era responsável pelas chaves. No dia do crime, Marcos estava de plantão e, como de praxe, foi trabalhar em seu carro para não levantar suspeitas mas, desta vez, levou um agrado para os colegas: uma salada de frutas.
A sobremesa foi servida no almoço, por volta de 14h30, e ainda não estava "batizada". Durante a tarde, Arthur foi à Central de moto e pegou o carro do irmão, deixando a moto com Marcos. Mais tarde, o carro seria usado para o transporte das armas.
Como o plantão dos agentes é de 12 horas, na hora do jantar, Marcos serviu novamente a salada, mas dessa vez, em porções individuais, com leite condensado e leite em pó. Esse teria sido o momento em que o rivotril foi colocado na salada, mas o remédio foi encontrado também na jarra de sucos.
Por volta de 21h, os agentes foram acionados para fazer uma escolta, e Marcos tentou intervir, mas não foi possível. Só que chegando lá, houve um erro na documentação do preso e os agentes tiveram que retornar à Central. No caminho, o que dirigia o carro começou a passar mal e teve que ser substituído ao volante.
Os agentes chegaram a Central já bastante dopados, por volta de 23h, e foram recepcionados por Marcos. Depois disso, eles foram "apagando" e não lembram de mais nada. Marcos foi o único que não dormiu.
Entre meia-noite e 2h, Arthur foi ao local e parou o Palio do irmão em uma estrada de acesso à Central entre meia noite e 2h. Ele entrou onde estavam os guardas e, junto com o irmão, suprimiu as armas. A polícia ainda não sabe de Marcos tinha uma cópia da chave ou se a porta de onde ficava guardado o arsenal já estava destrancada. Para roubar o armamento eles tiveram que fazer 10 viagens, colocando as armas, aos poucos, no carro. O crime demorou cerca de 40 minutos para ser finalizado.
Depois disso Arthur foi embora e Marcos afirmou que também tomou a salada batizada e depois apagou, como os outros agentes. Além disso, no momento da ação, houve um apagão na Central. A polícia já descartou o envolvimento dos outros oito agentes, que foram dopados, mas as investigações continuam.
As pistolas roubadas seriam comercializadas por R$ 4.500 cada, e Washington lucraria 500 na venda de cada uma. Duas pistolas já estavam em negociação, segundo o delegado. Já as seis submetralhadoras que foram recuperadas, seriam vendidas a cerca de R$ 10.500,00.
Penas
Os irmãos Marcos e Arthur foram autuados em flagrante por posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, assim como Wanderley. A pena para este crime pode chegar a seis anos de prisão.
Assim que o inquérito for finalizado, Marcos e Arthur também poderão ser indiciados por roubo com utilização de violência imprópria, no caso, o uso de remédio para dopar os agentes e impossibilitar a defesa deles. Por ter o qualificador, este crime tem pena prevista de até 15 anos de reclusão em regime fechado.
Washington também será indiciado por posse ilegal de arma de fogo de uso restrito e se ficar comprovado a participação dele no roubo, ele também poderá ser indiciado por este crime.