No finalzinho da década de 50, minha família já morava em Nanuque, nordeste mineiro, quase divisa com a Bahia. Contava eu, na época, entre nove e dez anos. Lembro-me do quanto era emocionante brincarmos de artista e bandido, de rodar pião na palma da mão (alguns garotos eram verdadeiros ases tamanha era a habilidade), brincar de esconder, passar o anel, soltar papagaio, jogar pelada na rua com bola de meia ou "bichiga" de boi, tudo sem malícia ou maldade que pudesse nos envergonhar. Respeitávamos a professora ou professor como se fossem nossos pais, ou até mais. Fazíamos o dever de casa e íamos brincar sem preocupações até que a mãe chamasse para o banho. Drogas, era assunto proibido, vez em quando ouvíamos falar em maconha através dos adultos e para nós, meninos, era algo estarrecedor, inimaginável e quando se descobria que algum jovem da vizinhança fazia uso da erva, os comentários entre a meninada eram feitos a boca miúda, pelos cantos, apartir de então a pessoa em questão passava a ser evitada como animal peçonhento.
Não era como hoje, que os adolescentes consumem abertamente, sem serem incomodados, principalmente a "canabis". Na escola, ouvíamos com respeito e obediência a professora, mesmo quando nos era imposto algum castigo por estar bagunçando a aula ou ter deixado de fazer algum trabalho escolar, íamos para o quadro escrever uma palavra ou frase, repetidas vezes e, após as aulas, dar gostosas gargalhadas da situação vivida. Em casa, quando necessário, nossos pais usavam o chinelo, cinto, ramos de vassourinha ou de mata pasto, para nos corrigir ou ensinar a forma correta de um ser humano se comportar, respeitando os direitos e a propriedade alheia, as pessoas idosas e de maior sabedoria, enfim, os princípios e bons costumes. Apesar dos puxões de orelhas, o modelo educacional da época não nos tornou rebeldes, amargurados, agressivos ou marginais. Não tenho conhecimento que alguém da minha geração tenha seguido caminhos tortuosos, todos se tornaram homens e mulheres de bem.
Não havia a mídia massacrante, informativa, mas indutora, nem a globalização interligando os povos, os costumes, trazendo conhecimento, mas de forma equivocada, disseminando entre nossos jovens, a cultura alheia, fazendo-os perder gradativamente a identidade ancestral. Nem em sonho se pensava que um dia existiria uma coisa chamada internet, esse instrumento fantástico de inclusão, mas de extremos de conseqüências imprevisíveis. Estamos vivendo o milênio da eletrônica sem fronteiras e da tecnologia contraditória. A juventude já não sonha de forma racional e simples, preferindo viver num mundo virtual fantasioso, de conseqüências nem sempre auspiciosas, e as crianças, a bem da verdade, induzidas que são, esqueceram das brincadeiras sadias e estimulantes, trocando-as pelos vídeos games de conteúdo duvidoso, passando horas e horas em frente de um monitor dando tiros em personagens virtuais sinistros. Acabam, com exceções claro, tornando-se jovens alienados, agressivos e despreparados, as vezes com a conivência da própria família, impotente na luta contra o "sistema" hipócrita e manipulante.
A geração 90 é um barco sem rumo em meio a um oceano de águas turbulentas.