Se você mora em Neves, mas não nasceu aqui, raciocine da seguinte forma.
Primeiro ponto: procure lembrar-se dos motivos que o fizeram vir para cá, porquê obviamente houve uma escolha, uma alternativa, uma motivação. Veja a cidade com os olhos do antes.
Segundo ponto: esqueça a balburdia de hoje, lembre-se do sossego gostoso de ontem. Releve o barulho ensurdecedor provocado pelos sons, no último volume, dos carros dos jovens, que só querem ouvir essas porcarias de funk, com letras indecentes que faria corar até as orelhas a mais condescendente das beatas. Melhor lembrar da paz, calma e tranquilidade interioranas de antigamente.
Terceiro ponto: tente não se indignar com a irresponsabilidade dos nossos condutores, que transitam por nossas ruas, com motos e automóveis desembestados, colocando em risco nossas crianças, nós e eles próprios, num acinte incompreensível. Imagine que nossas vias ainda são de terra batida, que apesar da sujeira nos sapatos nos dias de chuva, nas tardes ensolaradas nossos meninos podiam jogar pelada e enpinar papagaios sem sobressaltos e sem que tivéssemos que ficar preocupados com a integridade física deles, pois carros eram só de vez em quando que aparecia um ou outro, e o fato era um acontecimento.
Quarto ponto: releve as dificuldades no atendimento médico, a falta constante, tanto na policlinica quanto no hospital, de profissionais para uma assistência mais humanizada. Faça de conta que esses tais PSFs funcionam e que as consultas solicitadas são marcadas para o dia seguinte e não para daí a seis meses ou um ano. Recordem que alguns anos atrás tambem não tínhamos nada disso e éramos felizes, procurávamos cura para nossas mazelas e de nossos filhos na capital, sem falsas espectativas, sem estresse e sem agredir nosso sistema nervoso. É só uma questão de serenidade e paciência.
Quinto ponto: ao transitar pela LMG-806, apesar do cuidado que se faz necessário, procure não focar em demasia na falta de acostamento, que gera insegurança, no estreitamento da pista, no volume absurdo de tráfego que a muito saturou a rodovia. Ao invés, pense em como era gostoso dirigir por ali, dez, quinze anos atrás, apreciando a paisagem emoldurada pelos ipês amarelos, numa tranquilidade de dar preguiça.
Sexto ponto: recorde que antes, algumas ruas em nossos bairros sequer mereciam ser chamadas assim, e que hoje, após o calçamento poliédrico, recuperou-se o prazer de caminhar por elas. Se na contra partida, nas vias principais o piso é inexistente e nos recentimos da falta de passeios, nas avenidas recém criadas, os canteiros centrais e passeios são generosos. Criou-se uma compensação, é inegável.
Sétimo e último ponto: lembre-se, as mudanças acontecem e são necessárias, algumas causam impactos positivos, outras não. O grande segredo é saber avaliar e valorizar o que vai nos garantir bem estar, desprezando e ignorando o resto.
Bem, se depois de fazer uma retrospectiva sobre o que foi aqui descrito, você ainda continuar cético quanto a pespectivas amenas e prazeirosas, só resta uma alternativa. Mude-se e seja feliz.