Em meu titulo cito o escritor italiano Umberto Eco, que disse esta frase em 2015. Segundo Eco, “as mídias sociais deram o direito à fala a legião de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade.”
E qual é esse dano a coletividade que ressalta o autor? O que é incitação ao ódio e o que é apologia ao crime? Esse limite tênue fica cada vez mais difícil de separar quando alguém propaga em seu perfil pessoal a opinião sobre determinado assunto. Geralmente os discursos de ódio vem travestidos de opinião, todos se consideram pensadores e estudiosos de determinados assuntos, que na verdade nunca estudaram ou fizeram uma análise apurada do tema. As opiniões não são criteriosas e geralmente vêm cheias de frases prontas. Para a filósofa Márcia Tiburi, a atual condição econômico-política trazem à tona energias afetivas negativas.
É perceptível que as pessoas proliferam o ódio, principalmente com a sensação de que a internet é uma terra sem lei. No meu perfil, eu posso falar o que eu quiser. Vivemos em um país democrático, o incitante sempre reitera essa afirmação.
O diálogo democrático é um valor cada vez mais raro. "Hoje é um clique e um site, com muitas imagens. Facilitamos muito para quem odeia. O ódio tem imenso poder retórico. Ele sempre existiu. Agora, existe este ódio prêt-à-porter, pronto, onde você se serve à la carte e pega seu prato preferido", disse o filosófo Leandro Karnal em entrevista à BBC. Contudo, o professor ressalta "os mais sólidos preconceitos e violências humanas são muito anteriores à globalização".
Quando se vê nas redes sociais slogans eficazes prontos como: “toda feminista precisa de um macho”, “os gays estão dominando o mundo”, “sem terra é vagabundo”, são projetos prontos, curtos, carregados de dor, que acabam servindo de muleta para as opiniões. Perdemos a razão ao deixarmos de argumentar ou estamos com preguiça de discutir o assunto. Baseamos nossas opiniões em pequenos vídeos com pessoas que supostamente tem razão, ou em pequenas frases ditas por páginas que gostamos.
Ainda conforme o professor Karnal, este problema é ainda mais profundo, a desigualdade é a base do problema e colabora para a má formação escolar. Uma sociedade que seja desigual já é um problema, mas uma que não educa nega a chance de corrigir a desigualdade. Como sempre, educação escolar básica é a chave da transformação.
Ao contrário disso, deveríamos estar discutindo e questionando o que as pessoas publicam, cada um deve ser responsabilizado por aquilo que diz. Atualmente não é fácil vencer uma discussão principalmente em um contexto inflamado, as notícias falsas se proliferam.
Uma boa discussão, ao contrário do que a maior parte das pessoas pensam, não serve para a disputa - e, sim, para a construção do conhecimento. Nesse sentido, saber sustentar uma boa argumentação é fundamental. Para tanto, usar clichês e argumentações rasas, deixam o discurso superficial.
Segundo o Professor da UNICAMP, Walter Carnieli, “Todos têm o direito de manter sua opinião, mas opinião não é argumento. A democracia também é feita de opiniões - ninguém precisa argumentar para votar no candidato que preferir, basta manifestar sua opinião nas urnas.”Dessa maneira, tomem cuidado, ter um perfil ou uma página nas redes sociais também requer responsabilidades e as pessoas devem tomar cuidado com as opiniões alheias.
Em Neves, especificamente isso acontece muito, principalmente quando pseudo-jornalistas em posse de um microfone e uma câmera querem “informar” e acabam desinformando e espalhando informações falsas ou reduzidas pelas redes sociais. O receptor tem que ser inteligente para filtrar e buscar novas fontes, principalmente em nossa cidade.
Isso também ocorre quando particularizamos uma disputa eleitoral, negamos o coletivo e pensamos somente no individual. O candidato asfaltando minha rua está suficiente, vi esse argumento nas ruas várias vezes, mas ele é particular e não coletivo. Não podemos negar o individual, mas devemos que priorizar o coletivo.