Entendo os suicidas. A vida realmente não vale a pena. Não vale a pena sem sorrisos, sem viço, sem encanto. A vida não vale a pena se não fazemos dela aquilo que dá prazer. A vida não vale sem prazer. É nada, menos vida. A vida não vale mais que um centavo se ela for vivida pelo dinheiro. Não custa nada. É barata e inútil. A vida não vale sem um abraço, sem um beijo ainda que no rosto. Porque não só de beijos na boca é feita a vida, para isto existem as micaretas. Vida, sem picaretagem, é feita de emoção, de graça, de amor. E nem falo do amor utópico, mas do amor que temos pelos detalhes da vida. A vida é feita de amor. Do amor pela vida. Talvez, a vida seja feita apenas disto. E nisto esteja a chave para viver. Tudo o mais é aroma, é corante e enfeite. Adereços que dão mais cor à vida. Necessários, mas não indispensáveis. Porque o sabor da vida é aquilo que a faz valer a pena. E para isto, é preciso experimentar. Testar novos sabores, viver de verdade. A vida não vale a pena sem riscos e tentativas. Nos seus gostos e desgostos. Tropeços, quedas e levantos. A vida não é só feita de cabeças erguidas o tempo inteiro, mas daquelas que se erguem após olhar pra trás. A vida é feita de recomeços. Eis a vida, algo tão cheia de mistérios. Vida de esquinas e surpresas. Vida nada linear. Vida que não foi feita para os covardes. Esta vida da qual eu falo, que não têm os suicidas, os depressivos e mau humorados. Estes, movidos pelo medo. Este tipo de vida que leva esta gente, não é vida. É qualquer coisa, menos vida. Vida não se passa por ela, como alguém despercebido. A vida se faz notar. Esta que se joga fora por qualquer trocado, por qualquer paixão que foi embora ou vida que se foi, não é vida. É marasmo, é costume, é dependência. É um monte de coisa que posso dizer agora, mas não é vida. Vida é algo que não se troca, é insubstituível. Nada se compara à vida. Incomparável. Nem mesmo o amor, do qual ela depende para ter graça, nem mesmo ele se compara à vida. A vida sim, é tão grande o que deixa encaixar. O amor faz parte da vida, mas não é a própria vida. A vida é mais. Só a vida é a mais sublime e essencial de todas as coisas. Não vale a pena viver sem a vida. Porque sem vida, ainda que vivo, já se foi. Jaz. Morreu. E daí não vale a pena e, por não valer, já era. Parecia ser vida mas já era morte. Vida é justamente o contrário do que muitos pensam. É gargalhada no meio da tarde, é uma música preferida que toca no rádio. Vida é um abraço de alguém que se ama, a lambida gostosa de um cachorro que até parece gente. Vida é doação, é tempo gasto para arrancar dos outros um sorriso. Vida é tempo investido na alegria, no canto, na dança, ainda que seja um balé da alma e não se tenha ritmo nos pés. Sem isto, nada é vida. E para ter a vida, nem é preciso andar, ouvir ou falar. A vida é daqueles que a percebem nos mínimos detalhes. Vida que está no toque. Vida que está por dentro do peito, saltitando de felicidade. Vida é de quem sente. E não há deficiência que impeça alguém de sentir. Só a morte. Acredito por isto, que vida todo mundo tem. Ainda que escondido em algum cantinho por aí. Mas vida, alguns jogam fora. Talvez por não conhecer a sua importância, ou por medo de experimentar. É, porque corre-se o risco de achar um pouco apimentada as vezes. Outras, é necessário dosar o sal, o açúcar até que a vida chegue no ponto. É preciso adequar ao paladar. Os mais variados sabores provocam as mais diversas reações. Risadas, choros seguidos de alívio. Gargalhadas sem fim. Taquicardia de emoção. Olhos lacrimejantes de felicidade. O que importa mesmo, é que depois de experimentar a vida nada mais terá graça e sabor do que viver. E viver com intensidade. Viver como quem não tem pressa. Como aqueles que muitas vezes não tem dinheiro, nem posses, nem fama vivem. Vive quem tem gosto pela vida, assim do que jeito que ela é. Gente que tem esperança, perseverança. Gente que tem afeto pelas pessoas e vive rodeados delas, ainda que sozinho. Eis a vida que vale a pena. Esta vida repleta de sentimento, repleta de sonhos e vontades. Desejos. Porque é preciso desejar a vida. Salivar. Saborear cada pedacinho com muita vontade. Senão, não é vida o que se come, nem o que se vive. Se não vale a pena aquilo que você chama vida, não viva isto. Mate-o dentro de você e viva de verdade. Busque vida naquilo que acredita, naquilo que sonha ainda que não acredite conquistar. Conquiste, passo a passo a sua vida. E o primeiro passo talvez esteja onde você menos espera, ao seu redor. Olhe. Perceba. Sinta. Respire a vida que está por todos os lados. Não se assuste se a ver em quem menos espera. Naquilo que menos acredita. Por que a vida pode e está nos pequenos detalhes, nos menores gestos e nas mais delicadas palavras. E desta mesma forma, quando você menos esperar ela estará ai, dentro de você.