Eu sei que nem eu e nem você gostamos de ouvir “não”. O “não”, quase sempre, é visto como um ponto negativo pela maioria de nós, mas é uma autoridade em circunstâncias importantes de nossas vidas, desde a infância.
Em todos os jornais, vimos casos de ausência de “não”. Crimes passionais, violência contra a mulher ou abuso infantil, abuso do álcool no trânsito gerando acidentes, sem falar no uso e abuso das drogas. Já parou pra pensar que um simples “não” poderia ter mudado o curso de tantas destas situações? Poderia ter evitado tantos acidentes ou incidentes? O “não” da mulher que não aceita apanhar do marido, o “não” ao filho que pega o carro do pai e sai embriagado pelas estradas. O “não” da mãe ou do vizinho que dá um basta na violência contra criança. O “não” que oferece limites aos jovens, impedindo que abusem das drogas, do álcool e de tantos preconceitos. O “não” que coloca fim ao relacionamento na hora certa ou que, inclusive, o impede de acontecer. O “não” à invasão de privacidade e tantas outras situações que não causam crimes mas que violentam emocionalmente a vida de cada um de nós.
O “não” é um grito de basta, um muro que delimita a vida da gente e a vida do outro. Impede invasões aos nossos territórios emocionais ou físicos, coloca limites no outro e faz com que ele aprenda a entender então seus próprios limites também. O “não” que muitas vezes vemos com negatividade pode ser a libertação de um mundo tão doente por sua ausência. E aí a gente vê que tanto o excesso quanto a falta, até mesmo de um “não”, podem ser igualmente prejudiciais e, me arrisco dizer, que no caso dos “nãos” pode ser que a ausência seja ainda pior que os excessos.
Em busca do “não” que faltou na infância, homens desafiam e agridem mulheres, jovens atacam mendigos e gays, adultos abusam de crianças e tantas pessoas sofrem de angústia e outros transtornos emocionais ainda mais sérios, simplesmente porque lhes faltou o “não” na hora certa. Não sabendo ouvi-lo ou não o tendo conhecido, o “não” se torna insuportável, intransponível e por causa dele “vale a pena” matar, destruir, sair irresponsavelmente fazendo todo tipo de coisas por aí. Por medo de magoar os filhos durante a sua infância, pais e mães criam adultos completamente irresponsáveis que atropelam velhos e crianças como quem derruba peças no dominó. Sem culpa, correm para os braços do pai e mãe que, mais uma vez, lhe negará o “não”, o basta tão necessário, e deixará por dizê-los às autoridades, justiça e sociedade, negando ter criado um monstro.