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A intervenção humana e os recursos naturais

Esta matéria foi elaborada através de um Happy Hour Mineral, patrocinado pela William Freire Advogados Associados.
Minha busca neste encontro na verdade, não tinha há ver com Mineração, pois o que eu queria verdade era buscar dos especialistas desta área, entender o real valor da intervenção humana e o uso do conhecimento como forma de entender e explorar os recursos naturais.

Embora o foco principal fosse falar de “conhecimento e a intervenção humana” em vários ambitos, acabei tendo uma aula também sobre Mineração e concomitantemente sobre os valores das pessoas e seus conhecimentos na exploração dos bens naturais existentes, que os entrego a seguir e que vale a pena ser lido.

Procurei retratar o que me disseram “João Furtado economista,  professor da Poli (USP)”  e  **Eduardo Urias economista,  mestre em Política Científica e Tecnológica e doutorando na Universidade de Maastricht. da forma mais explicita possível, pois na verdade eu digitei a entrevista que foi gravada em áudio.
São as terras que fazem possível a agricultura ou é o contrário?
A contribuição mais rica da ciência econômica à compreensão das atividades primárias e do papel dos recursos naturais prende-se à seguinte proposição: recursos naturais não existem; eles precisam ser criados. O conteúdo dessa afirmação não é autoevidente e pode mesmo causar estranheza. Vamos torná-lo mais claro.

Qual é a relação da agricultura com as terras? São as terras que fazem possível a agricultura ou é a agricultura que torna as terras agriculturáveis? É claro que a agricultura depende de terras, mas é a dedicação à agricultura que cria terras adequadas, ao lado de outros recursos.

Assim tem sido desde a antiguidade, mundo afora e no Brasil. O aproveitamento das terras às margens do Nilo, no Egito Antigo, dependeu do conhecimento sobre o regime de águas e levou ao estudo dos astros. O desenvolvimento sustentável da agricultura demanda esforços, investimentos.

São evidências disso o desenvolvimento de técnicas de domínio dos ciclos das águas, de proteção do solo e das culturas, de limpeza e fertilização do solo, de adequação das sementes e das variedades de plantas a cada tipo de condição de solo e clima, e tantos outros.

A terra estava longe de ser um recurso, era um recurso em porvir, e nunca viria a ser sem a ação deliberada do homem. Foi a pesquisa agrícola que criou as terras agrícolas adequadas do centro-oeste; foi a ferrovia que criou os eixos que moldaram a geografia de São Paulo (Araraquarense, Mogiana, Paulista, Sorocabana), tornou terras aptas ao cultivo, depois levou à indústria.

"A riqueza do minério está muito menos nele do que nos esforços que têm que ser mobilizados para a sua exploração."

A mineração suscita uma reflexão análoga. Para que os recursos naturais tenham valor econômico e social, é preciso criá-los. É necessário, primeiro, identificar a jazida. Isso ocorre com prospecção, um trabalho não trivial. De atividade de homens práticos tornou-se o negócio de pessoas preparadas científica e tecnicamente no século XIX, quando os EUA criaram diversas escolas superiores e formaram profissionais em geologia. Entre a identificação do minério e seu uso industrial existe um longo percurso, envolvendo planejamento e execução. É ele que cria o recurso (dito) natural, por intervenção humana.

Os EUA exploraram intensamente seus recursos minerais no século XIX. A exploração das reservas aumentou-as - um paradoxo aparente que ajuda a entender o conceito de recursos naturais. A exploração mineral não resultou em esgotamento, mas ampliou a disponibilidade desses recursos e a riqueza associada. Cada ciclo de descoberta e de valorização dos recursos estimulou mais esforços e descobertas. O desenvolvimento de soluções em uma exploração permitiu o seu uso em outras oportunidades, gerou novas soluções. A exploração de uma mina com certo teor permitiu, depois, desenvolver minas com teores inferiores. A exploração cria recursos.

Para explorar um recurso é necessário mobilizar antes outros recursos. A inteligência e o conhecimento dos geólogos, a informação computacional e os modelos complexos e sofisticados que auxiliam na interpretação dos "dados" (aliás, que também não são dados, nem achados, são coletados, processados, interpretados), os equipamentos e os indivíduos que se deslocam para o campo, as amostras coletadas, os projetos para viabilizar o empreendimento, os recursos financeiros mobilizados para permitir os investimentos são atos econômicos criadores de riqueza antes que a mina possa produzir o primeiro resultado material próprio. São apostas privadas com resultados sociais; e eles precedem qualquer resultado que possa ser apropriado pelo empreendedor, pela empresa, pelos investidores.

A riqueza do recurso natural está muito menos nele próprio do que nos recursos produtivos que têm que ser mobilizados para sua exploração. É ela que incita a criação de conhecimentos, competências, capacidades, equipamentos, instalações, insumos, energia, combinações de todos esses elementos e capacidades de coordenação para explorar o recurso mineral. Para o empreendedor, o recurso só será rentável quando a venda do resultado da exploração superar os investimentos realizados; mas para a sociedade, a riqueza foi criada desde que o primeiro investimento foi realizado, desde a prospecção até o momento em que os minérios começam a ser produzidos.

Uma exploração bem sucedida suscita novos investimentos, novas mobilizações de recursos, novas prospecções, e com isso vão aumentando os resultados e as reservas. É por isso que os recursos não são, eles tornam-se, vêm a ser: se o ambiente favorece a atividade, se uma exploração produz resultados consistentes com o investimento realizado, o ânimo dos investidores é reforçado e com isso as atividades de prospecção crescem e as reservas podem ver-se ampliadas.

Foi assim que os EUA, que Benjamin Franklin e seus contemporâneos viam como pobre em recursos minerais e fadados a ser um país agrícola, se tornaram um país mineral e industrial.

A atividade primária (e a mineração, especificamente) é dinâmica. Para que a mineração possa cumprir um papel relevante no desenvolvimento de um país é necessário criar vínculos entre cada exploração e as explorações posteriores. Numa economia cada vez mais integrada no plano internacional, a possibilidade de selecionar alguns projetos (e não outros) torna a competitividade de uma determinada exploração um elemento chave para a decisão sobre as próximas explorações. Se o empreendimento, a empresa e os investidores, zelosos dos seus recursos financeiros, são levados a quebrar o ciclo virtuoso da exploração que multiplica os recursos, então a redução da exploração pode conduzir à redução das reservas.

O país que alimenta o seu ciclo virtuoso aumenta a sua produção e as suas reservas, enquanto o país que reduz a sua produção reduz  também as suas reservas. Recursos não são, recursos tornam-se: pelos esforços e pela aplicação sistemática do principal recurso criado pela ação humana - o conhecimento. É o conhecimento que produz todos os recursos, inclusive os que chamamos naturais.
Espero que tenham tido uma boa leitura.

 

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