No dia 5 de outubro do próximo ano a Constituição Brasileira, promulgada em 1988, irá comemorar suas bodas de prata. Nesses 25 anos de vigência, a "Cidadã", como a batizou Ulysses Guimarães, foi saudada como democrática, redentora, inclusiva.... e tome adjetivos! Porém as coisas precisam ser chamadas pelo nome certo. A Constituição deste país, deste malfadado Brasil, merece apenas um nome: O CÂNCER NACIONAL.
Ao ser escrito e engendrado, o documento seguiu um planejamento maquiavélico e coorporativo. Não elegemos uma Assembleia Nacional Constituinte com a finalidade EXCLUSIVA de editar tão importante documento. Quem o escreveu foram as ratazanas de um Congresso para lá de suspeito. E assim, com o aplauso de uma nação em que 70% mal sabiam soletrar o próprio nome, o câncer foi promulgado.
Lendo-a, com calma e atenção, você percebe o mecanismo torpe ali contido: "Nós somos parlamentares e nós só podemos ser julgados pelos juízes da corte suprema". Parágrafo único: "Só serve para ser juiz da corte suprema o jurista que for aprovado por nós, parlamentares"...
Basta este parágrafo, aliás esta piada, para mostrar como o câncer foi plantado na nação rastaquera que a tudo assistiu com pompa e aplausos. E após a promulgação, meses após, iniciou-se no parlamento o butim memorável. Desencadeou-se o maior processo de jogo de interesses, ligando empresários e congressistas, de uma forma jamais vista em qualquer país democrático.
As justificativas para o enriquecimento ilícito de políticos, eram cobradas diuturnamente pelos bandidos de toga, juízes que aceitavam a roubalheira, mas que pediam um mínimo de recato.... de cuidado. A coisa foi a um tal ponto que houve até parlamentar que justificou sua fortuna alegando haver ganhado na loteria. Ganhado, diga-se de passagem, 36 vezes no espaço de quatro meses...
O surgimento dos novos barões brasileiros, os congressistas, causou danos e lesou profundamente o país. Porém, imenso e produtivo como é, até que o Brasil ia suportando bem. Era questão de se acomodar, de conviver com a situação gerada pela Constituição de 88. O que poucos imaginavam é que, como todo câncer, este também iria apresentar em breve as suas metástases.
Vendo o sucesso financeiro dos párias do Congresso, logo, logo os gabinetes do Executivo foram contaminados. Negociatas, lobbies, uma bandalheira geral com os recursos públicos. Os exemplos a partir de Brasília ganharam os gabinetes de governadores, Assembleias Legislativas, prefeitos e hoje até vereadores se constituem em pequenos larápios que tudo fazem para mamar na mesma teta. Há exceções? Sim! Pena que são raríssimas....
As garras do câncer foram levando de roldão todo um sistema que se queria democrático, ético e libertário. Até chegarmos a presenciar, à luz do dia, ministros do Supremo, desembargadores e mesmo juízes de primeira instância, vendendo sentenças, lucrando com processos. O contágio se espraiou por toda a pátria e dominou a consciência tupiniquim. Ao ponto de uma famosa marca de cigarros ter orientado sua publicidade para uma frase que ficou famosa: "É preciso levar vantagem em tudo"...
Para você que me leu até aqui, termino chegando às duas únicas infelizmente possíveis conclusões. A primeira é que nem você, nem eu e nem nossos netos veremos esta situação ser consertada. E a segunda – e talvez mais amarga -é que não há nada que possamos fazer a respeito.
Afinal, ainda não se descobriu a cura do câncer....