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Neves e a - urgente - questão racial

"O rotineiro holocausto urbano.
O sistema é racista, cruel...
Racistas otários nos deixem em paz."

Em tempos difíceis, como os atualmente vividos, vemos as diferenciações sociais cada vez mais agravadas. A questão racial aprofunda as desigualdades raciais, com isso, vemos nos últimos dias, protestos contra o racismo, ainda presente e evidente em nosso cotidiano. O racismo é um sistema de valores, definitivamente estruturado e conectado profundamente nas raízes da nossa sociedade, assim, a partir da perversa ideia de que há a necessidade dominação e submissão de indivíduos a outros detentores do poder, gerando por consequência, “peles alvas e peles alvo”. Ter consciência da presença desses mecanismos sociais racistas, nos ajuda a entender como revertê-los. Dessa forma, trazemos alguns dados referentes a população negra em Neves.

Segundo o censo do IBGE de 2010, Ribeirão das Neves contava com 296.317 habitantes, sendo que 171.887 se consideravam pardos e outros 41.092 se consideravam pretos, ou seja, mais de 70% da população nevense é composta por pardos e pretos - o que demonstra a necessidade dessa reflexão.

Em levantamento elaborado a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, identifica-se uma série histórica que mostra o aumento dos índices de óbito no município, entre os anos de 1999 até 2013, e que tem se mantido bem mais alta que a média nacional. Ainda, comparando com a média nacional que é de 68%, as mortes de pretos ou pardos representam 76% do total de óbitos em Ribeirão das Neves no ano de 2013.

Fontes: Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2013 / Portal Deepask/ Censo IBGE 2010

Assim, como pesquisas mostram, o cenário da cidade é de grande criminalidade violenta e que atinge principalmente a população jovem e negra da cidade, marcada ainda pelo uso de arma de fogo.

Analisando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, que relaciona indicadores de renda, longevidade e escolaridade, e que consiste em uma escala de vai de 0 a 1, onde quanto mais próxima de 1 mais desenvolvida será a localidade; no ano de 2010, Ribeirão das Neves tem o IDHM 0,684 considerado como médio (entre 0,600 e 0,699). Desagregando esse índice por cor, o IDHM da população negra no mesmo ano, é de 0,680, já o IDHM da população branca é maior, com 0,701 que indica IDHM alto (entre 0,700 e 0,799). Os negros têm menor nível de escolaridade, longevidade e principalmente renda menor que os brancos na cidade.

A sequência de dados é preocupante. Em Ribeirão das Neves, os negros apresentam menor esperança de vida ao nascer, com média de 74,2 de anos de vida e brancos 74,7. Negros apresentam maiores níveis de mortalidade infantil (negros 16,9 e brancos 14,5) e maior nível de mortalidade até os 5 anos de idade (negros 19,7 e brancos 16,9).

Com relação aos níveis de escolaridade a taxa de analfabetismo entre os nevenses negros é maior que os brancos (negros 7.08 e brancos 5,82) e os níveis de escolaridade são mais altos entre os brancos em todos os níveis de ensino.

Quanto à renda, brancos têm maior nível de renda per capta (brancos 532,04 e negros 461,23). Na medição do rendimento médio de pessoas ocupadas, brancos apresentam maiores níveis (brancos 899,50 e negros 793,15). Avaliando as pessoas em situação de pobreza (negros 9,36 e brancos 8,81) e extrema pobreza, (2,39 negros e 1,71 brancos) os negros compõem o maior grupo. A taxa de ocupados no ano da pesquisa era maior entre os brancos (negros 69,38 e brancos 71,34) e a taxa de desocupados era maior entre os negros (7,17 brancos e 7,31 negros), sendo que os brancos tinham empregos mais formais que os negros (72,57 brancos e 71,25 negros).

Com relação a condições de habitação, brancos apresentavam melhores condições, relacionadas à moradias com acessos à serviços com água encanada ( 94,85 brancos e 94,24 negros), energia elétrica (99,96 brancos e 99,78 negros) e (97,16 brancos e 96,97 negros) coleta de lixo.

Esses dados nos ajudam a entender um contexto onde os negros são a maioria dos habitantes do município e tem os piores indicadores de qualidade de vida, deixando claro a necessidade e a urgência de políticas públicas com ênfase nas questões raciais, ou seja, o poder público intervir na realidade social com ações específicas para essa população, objetivando a busca por igualdade racial em Ribeirão das Neves. Nos últimos anos, há uma tendência de avanços nos indicadores socioeconômicos da população negra no país, o que atesta o impacto positivo das políticas inclusivas, e que a cidade precisa acompanhar.

Texto colaborativo com o sociólogo Tharcio Elízio.

 

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