Há cinquenta anos atrás, meu pai saiu da cidade de Vargem Alegre em busca de oportunidade em Belo Horizonte. Arrumou trabalho, constituiu família e trabalhou trinta anos no Estado. Sempre voltou a sua cidade para ver seus parentes e nunca perdeu o amor pela Vargem Alegre, cidade que tem nome de felicidade.
Cinquenta anos depois, logo após o falecimento do meu pai, fui a essa cidade tão celebrada por ele. Fiz grandes descobertas: o povo é hospitaleiro, o centro da cidade é bem cuidado. Para minha tristeza, cinquenta anos correspondem à meio seculo e são doze gestões politicas com ciclos de quatro anos, ou seja, foram doze mandatos de prefeitos e vereadores, confesso que fiquei curioso para saber o que foi legislado e aprovado nesses cinquenta anos de politica daquela cidade. Mas desisti quando me lembrei da cidade onde mora minha mãe, a nossa Ribeirão das Neves, há sessenta anos está no mesmo patamar, na mesma situação de cidade dormitório.
Para o meu espanto, ao visitar todos os parentes que moram na roça de Vargem Alegre e também os que moram no centro e nasceram com o arraial que virou cidade, disseram-me que após cinquenta anos o problema da cidade é o mesmo: desemprego e serviços temporários pagos a dia para maioria das pessoas, ou seja, tem serviço na roça tem dia ganho, não tem entregam para Deus... E como ficam as latinhas de mantimentos? Confesso que não sei não tive coragem de perguntar. Ao pesquisar uma única família de cem pessoas contamos no total de vinte delas já mudaram da cidade, assim como o meu pai, em busca de oportunidade na certeza de que ali jamais encontrariam. Imagine vinte pessoas de uma só família em uma cidade de cinquenta mil habitantes aproximadamente... Já imaginou se fizéssemos uma pesquisa na cidade para vermos quantos já foram embora desse cidade?!
Refletindo percebo que inúmeros municípios mineiros sofrem do mesmo problema: população com baixa escolaridade, vistas grossas aos direitos trabalhistas, ajuda de custo ao invés de salario minimo etc... o êxodo rural existe porque os gestores das pequenas cidades não estão encontrando caminho para o progresso intelectual e crescimento da qualidade de vida de sua população, não estão preparados para gerir o dinheiro público ou estamos sofrendo de nanismo moral? Quem deveria fazer não faz e quem deveria cobrar vive de pequenos favores mesmo que isso lhe custe um sofrimento eterno?