Na sociedade do conhecimento a cultura empreendedora é valorizada porque promove soluções inovativas, utiliza a tecnologia para solucionar os problemas e diminui a burocracia
Como ocorre em diversas periferias metropolitanas, Ribeirão das Neves possui problemas nas áreas de saneamento, infraestrutura viária, mobilidade, lazer, saúde, criminalidade, violência, locais de baixa qualidade urbanística, oportunidades de emprego, dentre outros. A cidade é considerada um município dormitório, pois a maior parte de seus moradores trabalham na capital mineira ou nos municípios vizinhos. Além disso, existem presídios localizados no município, o que gera um impacto psicossocial, criando assim um estigma de “cidade carcerária”. Este estigma, gera um certo preconceito dentro da região metropolitana de Belo Horizonte, causando, inclusive, na sua população, uma baixa autoestima.
O comércio e o serviço lideram a atividade econômica no município, fincando a indústria com uma pequena parcela de representatividade. Nesse cenário, falar em crescimento econômico sem mencionar o empreendedorismo, em seu atual cenário global, voltado para inovação e startups, é algo difícil. Pois, os empreendedores estão em todo lugar e trabalham em prol do sucesso de instituições designadas a inovar frente a condições de extrema incerteza, bem como a realidade encontrada dentro das startups e em seu habitat.
Fenômeno recente na história, as startups estão renovando mercados e hoje no Brasil existem mais de 6 mil delas registradas. Segundo dados da Associação Brasileira de Startups – ABStartups, uma startup tem como objetivo criar e oferecer soluções para um problema ou melhorias com ferramentas inovadoras, tecnológicas e de baixo custo. Em tese, é tudo que a sociedade brasileira precisa, ou seja, de mais inovação e soluções e menos burocracia e problemas.
Em busca de competitividade do setor industrial, as empresas têm feito cada vez mais uso das tecnologias desenvolvidas pelas startups. Com a chegada da Quarta Revolução Industrial, o que as organizações e a sociedade precisam, atualmente, é de tecnologia e sistemas inteligentes. Neste sentido, são as startups que resolvem isso. Elas trazem a inovação, otimizando processos e tornando-os mais eficientes, dando mais qualidade aos produtos e serviços, além de aumentar a produtividade e o mesmo tem acontecido com todo setor empresarial, gestões públicas e terceiro setor.
O empreendedorismo com foco no setor público vem chamando a atenção das pessoas que pretendem deixar a relação entre cidadãos e governantes menos burocrática. Temos observado o surgimento de “hubs” que trabalham próximo à administração pública, capazes de apresentar soluções tecnológicas para problemas enfrentados pelas prefeituras ou governos, como a burocracia, tornando as operações mais rápidas e fáceis. No âmbito do Governo Federal, por exemplo, conforme a página inova.gov, parcerias vêm sendo construídas entre o setor público com 66 órgãos participantes; 18 facilitadoras de startups; 9 instituições do terceiro setor e 4 universidades.
Diante do exposto, é imprescindível disseminar a educação empreendedora nas bases curriculares brasileiras, visando a formação de jovens focados nas demandas da sociedade por soluções para os seus problemas. Para isso, acredita-se firmemente que o despertar dos jovens brasileiros para atitudes empreendedoras só se dará de forma consistente, contínua e relativamente rápida, se for utilizado o sistema educacional. Temas como Empreendedorismo, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável devem ser mais explorados pelas instituições de ensino básico e superior. O crescimento e o desenvolvimento de uma região podem ser potencializados pelo trabalho dos empreendedores. Dessa forma, torna-se importante o incentivo ao empreendedorismo nas instituições de ensino, fomentando empreendimentos inovadores que possam contribuir com a alavancagem da economia da região.
Nesse contexto, vale citar o exemplo da cidade de Medellín, na Colômbia. Em 2013, a cidade foi eleita a mais inovadora do mundo pelo concurso City Of The Year, realizado pelo Wall Street Journal, em parceria com o Citigroup . Mas um detalhe chama atenção: ela também já foi considerada a mais violenta do mundo. Nos anos 90, os habitantes de Medellín viveram um período marcado pela violência, narcotráfico, corrupção, desaceleração econômica entre outros problemas sociais. Porém, a partir de 2004 se pensou em uma transformação baseada na inovação e no empreendedorismo. Carlos Jaramillo, que está à frente Centro de Inovação e Negócios de Medellín afirmou, "Começamos a pensar em uma cidade inovadora, com uma economia baseada no conhecimento. Tínhamos que formar as pessoas e criar uma cultura empreendedora". Ele também destaca que envolver os cidadãos nos processos de criação de novas iniciativas foi essencial para o sucesso.
Com o passar dos anos, o cenário se transformou e atualmente, Medellín é referência mundial. Hoje, abriga um Distrito de Inovação com mais de 172 hectares que permitiu a chegada de 154 novas empresas à cidade e a geração de mais de 2.900 empregos. A ideia é que esse território se torne cada vez mais inteligente e que as empresas possam encontrar o que precisam. Segundo Jaramillo, a criação de novas políticas públicas, aliada à um trabalho estruturado, foram fundamentais neste processo.
Ribeirão das Neves possui potencial para o fomento dessa cultura empreendedora baseada em soluções inovativas e tecnológicas que tanto o município necessita para o seu desenvolvimento. O município de Ribeirão das Neves, possui 35 (trinta e cinco) escolas de ensino médio, sendo 33 (trinta e três) estaduais, 1 (uma) privada e 1 (uma) federal. No ensino superior, existem, além do IFMG, outras 5 (cinco) Instituições de Ensino.
Precisamos construir políticas públicas municipais que incentivem programas que possam desenvolver competências e fomentar o empreendedorismo tecnológico e o ecossistema de inovação no município, por meio da aceleração de propostas de startups que apresentem soluções tecnológicas inovadoras viáveis para: 1) o setor empresarial; 2) a gestão pública municipal; e 3) as organizações do terceiro setor.
Dessa forma, os programas poderão viabilizar aceleradoras de startups que, além de proporcionar a infraestrutura adequada, serão responsáveis por reunir uma equipe de pessoas qualificadas para auxiliar os futuros empreendedores na proposição de novas startups, em um ambiente interativo, de disseminação da inovação e orientação nas áreas do conhecimento aplicadas às práticas gerenciais, produtos e processos, existentes no mundo dos negócios, bem como a troca efetiva de experiências entre integrantes dos agentes de inovação: academia, empresa, governo e sociedade, buscando, juntos, o fortalecimento da cultura empreendedora, voltada para a inovação tecnológica, e o crescimento e desenvolvimento da cidade.
Referência:
INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS. Campus Ribeirão das Neves. Projeto Acelera Neves: aceleradora de startups: empreendedorismo e inovação tecnológica para o desenvolvimento do município de Ribeirão das Neves, uma parceria entre Instituto Federal de Minas Gerais e Cidade dos Meninos. Ribeirão das Neves: IFMG, 2019, 25p.