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A nova economia

Artigo escrito a quatro mãos entre Márcio Rosa Portes e Michael Souza Soares1

Uma visão mundial

As novas tecnologias e o comércio eletrônico obtiveram atenção especial nos últimos anos e estabeleceram uma “Nova Economia”. Diferentemente da “Economia Tradicional”, essa “Nova Economia” é fundamentada em um novo modelo de negócios que se baseia no uso da tecnologia para facilitar a comunicação, a transferência de dados e as transações comerciais. Pode ser definida, também, como o conjunto de regras que definem o novo conceito de fazer negócios na era digital.

Conforme o relatório de investimentos da ONU  revelou entre 2010 e 2015, o ativo das empresas de base tecnológica cresceu 11%, enquanto o das empresas tradicionais cresceu 1%. Em um estudo divulgado em 2016 pela consultora Accenture Strategy, intitulado Digital Disruption: the Growth Multiplier , mais de um quinto do PIB (Produto Interno Bruto) mundial já deriva de algum contributo digital, seja de capacidades de capital e/ou bens e serviços. O relatório oferece uma visão sobre a escala da economia digital em 11 grandes economias mundiais, como Alemanha, Austrália, Brasil, China, Espanha, Estados Unidos da América, França, Holanda, Itália Japão e Reino Unido. Os Estados Unidos lideram o ranking, com uma economia digital avaliada em cerca de US $ 5,9 trilhões, o que representa 33% do seu PIB. 43% da força de trabalho e 26% de seu capital acumulado suportam atividades relacionadas com competências digitais. A economia digital noutros mercados varia entre 30% no Reino Unido e Austrália e 13% na China.

Essa “Nova Economia” tem provocado no mundo transformações amplas e profundas na sociedade, ocasionando um desenvolvimento acelerado do empreendedorismo tecnológico, alavancado principalmente, por empresas conhecidas como Startups. Para o especialista em Startup Gitahy (2011) , esse é um modelo de empresa jovem em fase de construção de seus projetos. Está vinculada fortemente à pesquisa, à investigação e até desenvolvimento de ideias inovadoras. Nessas empresas encontra-se um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. Gitahy (2011) afirma que em 1990 começou a se popularizar o conceito “startup” em empreendedorismo, quando surgiu a “bolha” da internet nos Estados Unidos.

O Vale do Silício, que está situado na Califórnia, Estados Unidos, é o local onde se concentram diversas empresas de tecnologia da informação e computação, entre outras. O local começou a se desenvolver no ano de 1950, com o objetivo de gerar e fomentar inovações no campo científico e tecnológico. Aos poucos, vários negócios foram se instalando na região. Como resultado, universidades e instituições de ensino se juntaram a essas organizações corporativas a fim de contribuir com o conhecimento de empresários e profissionais. Formou-se assim um elo entre educação, pesquisa e tecnologia que se expandiu por cidades e pequenas regiões dentro do Vale. O resultado foi o surgimento de grandes empresas no mercado que iniciaram seus negócios como startups, como a Google, empresa mais inovadora do mundo, a Intel que em 2016, foi considerada a 14ª empresa mais valiosa do mundo, sendo avaliada em aproximadamente 36,9 bilhões de dólares, a Apple, Twitter, Netflix, Facebook entre outras. Conforme o estudo The Global Startup Ecosystem, a região, atualmente, abriga entre 12,7 e 15,6 mil startups em atividade, empregando mais de 2 (dois) milhões de pessoas. Seu ecossistema, o mais consistente do mundo, foi avaliado em US$ 264 bilhões, sendo considerado o berço mundial das novas tecnologias. Além do Vale do Silício há diversas cidades ao redor do mundo que têm aperfeiçoado seus ecossistemas de startup, oferecendo ótimas oportunidades para abrir um negócio e desenvolver inovação. Nova York (EUA), Londres (Inglaterra) e Pequim (China) destacam-se como referências em grandes inovações.

Um importante estudo de abrangência mundial, feito pela StartupBlink - Startup Ecosystem Rankings Report , elaborou o mapeamento e classificação dos ecossistemas de inicialização de startups (Tabela 1). Os trabalhos foram iniciados em 2014 e o resultado foi publicado em outubro de 2017, mapeando 954 cidades e 125 países. Em termos de dimensão e abrangência o estudo é único. Em vez de focar em ecossistemas tradicionais e bem conhecidos, destacou-se centenas de ecossistemas de inicialização. O estudo constata que os países mais atrasados em desenvolvimento de ecossistemas de startups são os da América Latina. Porém, estão em franco crescimento devido aos grandes incentivos governamentais. Uma vantagem desses ecossistemas consiste no foco das startups. Nesses locais, as startups estão concentrando as suas propostas de negócios em resolução de problemas locais. Problemas esses que atormentam a sociedade há décadas, nas áreas da agricultura, educação, comércio, mudanças climáticas entre outros. Nesse sentido, essas startups estão contribuindo para o desenvolvimento regional.

Um bom exemplo para o Brasil é o Chile que, desde 2010, desenvolveu o Startup Chile, iniciativa pública que investe em startups locais e internacionais e que tem transformado a economia e o ecossistema empreendedor chileno. O Chile ocupa a 33ª posição geral (ver figura abaixo) e a 2ª dentre os países da América Latina e Central, logo atrás do México. É o primeiro entre os vizinhos sul-americanos no ranking da “StartupBlink” e o primeiro no ranking de competitividade do “The Global Competitiveness Report 2017–2018”.

TABELA 1: Classificação dos ecossistemas de inicialização de startups

 

Fonte: StartupBlink - Global Map of Startups & Ecosystem Rankings. www.startupblink.com

Já entre as cidades, o estudo apontou São Paulo como a primeira colocada entre todas as cidades da América Latina, ocupando a 31ª posição. Na sequência, temos Santiago, capital do Chile em 53ª e Buenos Aires capital da Argentina em 60ª posição.  As outras duas cidades brasileiras mais bem colocadas são o Rio de Janeiro em 172ª e Belo Horizonte 174º lugar. A lista ainda conta com mais 3 (três) cidades mineiras; Itajubá na 907º, Juiz de Fora na 912° e Uberlândia na 1048º posição.

Uma visão nacional

No Brasil o conceito de startup começou a ser difundido no princípio dos anos 2000. Com o aumento substancial da classe média e a melhoria da infraestrutura de tecnologia e telecomunicações, houve um crescimento considerável de internautas brasileiros, passando de um milhão em 2000 para quase 80 milhões em 2011. Ao se tornar um dos 5 maiores mercados digitais do mundo, o Brasil passou a ser observado por investidores internacionais e esse mercado se confirmou em 2009 com o sucesso do BuscaPé que foi vendido ao grupo sul-africano Naspers  por US$ 342 milhões, ficando comprovado que jovens com uma ideia criativa e inovadora, qualificação e dedicação podem gerar um empreendimento de alto impacto, com o apoio de investidores de capital de risco.
O mercado de investimentos em startups e iniciativas empreendedoras tem crescido fortemente no Brasil. Entre 2011 e 2015, o Brasil abrigou 63% dos investimentos da América Latina. Em um estudo recente, realizado pela LAVCA  (Associação Latino Americana de Fundos de Capital de Risco), revela que o investimento em startups brasileiras, por fundos de venture capital , bateu recorde em 2017 crescendo 207% atingindo US$ 860 milhões (cerca de R$ 2,86 bilhões de Reais). O País conta hoje com mais de 150 empresas de private equity  e de venture capital, que investiram em mais de 1.500 empresas nascentes.

O segmento de empresas em estágio inicial está avançando rapidamente, com mais de 4.500 startups, 300 incubadoras e 25 programas de aceleração no País, além de 40 aceleradoras, que investiram R$ 51 milhões em 865 startups. O surgimento de comunidades de startups ao redor do mundo, isto é, grupos que promovem a colaboração e a troca de conhecimento, e que trabalham por necessidades e desafios comuns, vem se fortalecendo e tem se mostrado uma alavanca importante para o sucesso das startups. Conforme levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups , foram mapeadas mais de 60 comunidades. No Brasil, esse número tende a crescer. Historicamente, o movimento de startups mais forte concentrou-se em grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis. Uma das primeiras comunidades brasileiras a ficar famosa foi o San Pedro Valley em Belo Horizonte, mas em sequência outras foram ganhando destaque como o Startup SC (Florianópolis) ZeroOnze (São Paulo), Startup Mt (Cuiabá), Red Foot (Londrina), Cariocas (Rio de Janeiro) entre outras. Mas isso tem mudado como demostrado no mapeamento feito pela Associação Brasileira de Startups, que já são várias as comunidades de destaque nas cidades do interior do Brasil. Um bom exemplo é a Zero40 em Juiz de Fora. Essa comunidade se destaca por ser localizada na Zona da Mata mineira, em Juiz de Fora, uma das cidades mais importantes do Estado de Minas Gerais e ancorada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).  

As políticas públicas para inovação, mostraram-se fundamentais para o desenvolvimento das startups em alguns países ao redor do mundo. Já existe uma série de iniciativas, conjuntos de programas e aparatos legais fomentados em âmbito federal, estadual e municipal para assegurar direitos e apoiar o iniciante no universo do empreendedorismo digital. “Temos uma série de políticas públicas e público-privadas que dão suporte ao empreendedor, mas muitos jovens não têm acesso a essa informação”, afirma Diego Silva, porta-voz da Secretaria Nacional de Juventude e Coordenador do Plano Nacional de Empreendedorismo e Startups para Juventude . “Nosso objetivo é fortalecer e difundir esses programas, fazendo a articulação para que essas informações cheguem a todas as partes”. No âmbito federal nos anos de 2012 e 2013 o governo brasileiro criou dois programas nacionais de aceleração de startups: o Start-Up Brasil e o Inovativa Brasil.

O Start-Up Brasil, Programa Nacional de Aceleração de Startups, foi uma iniciativa do governo federal, criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com gestão da Softex, em parceria com aceleradoras, para apoiar as empresas nascentes de base tecnológica – as startups .

O Inovativa Brasil foi um programa gratuito de aceleração em larga escala para negócios inovadores de qualquer setor e lugar do Brasil, realizado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), com execução da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI) .

Outros três programas de abrangência nacional que merecem destaque são: StartOut, fruto de mais uma parceria entre o MDIC e o Sebrae, opera como um programa voltado para a inserção de até 15 startups brasileiras em ecossistemas de inovação promissores em todo o mundo. A FINEP StartUp, programa lançado pelo instituto FINEP (Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa) que propõe o financiamento para novas empresas. A recém-criada Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO). A estratégia visa promover o engajamento de órgãos do governo, setor privado e sociedade civil na consolidação de uma articulação entre diferentes atores para o fortalecimento de um ambiente favorável ao desenvolvimento de empreendimentos que gerem transformação social.

O ano de 2018 foi histórico para o mercado de startup no Brasil. Segundo levantamento da ABStartups, há atualmente no País 10.200 startups ativas - um número 20% maior quando comparado a 2017. Foi um ano marcado por investimentos no setor e aquele que será lembrado como o ano dos unicórnios  brasileiros. Cinco startups brasileiras entraram para o seleto clube de jovens empresas digitais que atingiram o valor de mercado de 1 bilhão de dólares. São elas 99, PagSeguros, Nubank, Stone e iFood. Para 2019, a expectativa é que esse número aumente. (IDG Now!, 2018)

Seguindo a tendência mundial e nacional de crescimento da economia digital e do conhecimento, Minas Gerais é o segundo maior estado em número de startups do Brasil, ficando atrás de São Paulo. O estado concentra 12% das empresas do segmento, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Em um estudo realizado pela Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (SEDECTES), em 2018, por meio do seu programa HUB Minas Digital, uma iniciativa pública para apoiar as startups, foi realizado o “Censo Mineiro de Startups e de demais Empresas de Base Tecnológica” . Neste censo, verificou-se que Minas Gerais possuia mais de 1.000 empresas de base tecnológica, distribuídas em 4 parques tecnológicos, 21 incubadoras de empresas, 13 aceleradoras, 31 comunidades e dezenas de espaços de coworking e outros ambientes.

O destaque do ecossistema mineiro vai para capital Belo Horizonte que possui a concentração de 87% das startups do estado. Em Belo Horizonte, destaca-se o San Pedro Valley, uma das mais famosas e premiadas comunidades do país com mais de 300 startups. Esta comunidade foi eleita por duas vezes consecutivas como melhor comunidade de startups do Brasil pelo Startup Awards, premiação organizada pela Microsoft  em 2014 e 2015 e em 2016, 2017 e 2018 foi novamente finalista, ficando entre as três melhores do país.

A capital mineira, em quantidade de startups, é destaque nacional, fica atrás de São Paulo, com números muito próximos. A capital paulista teve 25 empresas incluídas no ranking de 2017 da 100 Open Startups , apenas três a mais que Belo Horizonte. É importante ressaltar que, São Paulo é uma das maiores cidades do mundo e tem o 36º PIB do planeta. Já o PIB de Belo Horizonte é quase 10 vezes menor que o de São Paulo. Mesmo assim, os empreendedores belo-horizontinos estão conseguindo superar as adversidades e se consolidar em um mercado competitivo e em constante transformação.

Como forma de expandir e interiorizar o já destacado ambiente de inovação de Belo Horizonte para todo estado, o Governo de Minas Gerais criou, em 2015, o programa Minas Digital, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SEDECTES, que teve como objetivo gerar o desenvolvimento econômico e social do estado e do país a partir da inovação e da economia digital e criativa. O programa buscou capacitar novos empreendedores, desenvolver projetos tecnológicos de ponta e ampliar a competitividade global das startups mineiras.

Neste contexto, pode-se destacar: 1) o projeto SEED – Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development – que atua como agente de fomento do ecossistema de empreendedorismo e inovação. Sua principal iniciativa é o programa de aceleração de startups para empreendedores do mundo que queiram desenvolver seus negócios em Minas Gerais; e 2) o projeto do Núcleo de Empreendedorismo e Inovação (NEI), desenvolvido em outubro de 2018 com o intuito de atender as demandas das pessoas que desejam alavancar o negócio. Em parceria com a FAPEMIG, o projeto visou estimular a educação empreendedora e potencializar o desenvolvimento de startups.

Por fim, destaca-se, também, o projeto Lemonade que é um programa de pré-aceleração de startups de destaque no Estado de Minas Gerais, promovido pela Fundep – Fundação de Apoio à Pesquisa – e pela Fundepar – empresa de investimentos da Fundep. O programa é apoiado, também, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), SEDECTES, FAPEMIG e Sebrae-MG. Nessa linha, a PUC Minas apresentou no final de 2018 o Programa de Indução de Negócios - PUCTec. A proposta da Universidade pretendeu unir startups, que já experimentaram programas de incubação e aceleração a grandes empresas, promovendo a inovação de alto impacto, que leve soluções para problemas significativos da sociedade. Desta forma, três programas distintos foram delineados: indução de negócios, geração de densidade e formação do empreendedor venture .

Referência:

INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS. Campus Ribeirão das Neves. Acelera Neves: aceleradora de startups: empreendedorismo e inovação tecnológica para o desenvolvimento do município de Ribeirão das Neves, uma parceria entre Instituto Federal de Minas Gerais e Cidade dos Meninos. Ribeirão das Neves: IFMG, 2019, 25p.

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1 Michael Souza Soares é Desenvolvedor de Comunidade de Inovação, Ciência e Tecnologia da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais e Graduado em Processos Gerencias pelo Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Ribeirão das Neves.

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