Não faltam teorias conspiratórias sobre os ataques às torres do World Trade Center em Manhattan. Tais teorias vão da atribuição das explosões a organizações ligadas aos próprios EUA, à suposição de que foram orquestradas por entidades obscuras como os Iluminatti. Alardeia-se que os atentados de 11 de setembro de 2001 são os maiores de toda a humanidade, como se a humanidade fosse sinônimo de Estados Unidos da América.
O fato é que com os atentados às Torres Gêmeas, os Estados Unidos obtiveram a desculpa que necessitavam para ampliar sua escalada imperialista. Com o fim da União Soviética no início dos anos 90, o mundo, de bipolar, passou a ser unipolar, ou seja, passou a estar sob a hegemonia inconteste dos EUA. Aproveitando essa unipolaridade, os EUA decidem pela vocação de polícia do mundo, intensificando suas intervenções diretas e indiretas no contexto de uma geopolítica que lhe seja favorável.
Contrariando as resoluções da ONU, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em outubro de 2001, declarando que o objetivo era encontrar Osama Bin Laden e outros líderes da Al-Qaeda. Foi assim que, sob o pretexto de uma suposta ligação da Al-Qaeda com o regime de Saddam Hussein, e da também suposta existência de armas de destruição em massa nas mãos do ditador iraquiano, os Estados Unidos decidiram invadir o Iraque em 2003.
Por trás das supostas intenções de libertar o Iraque do jugo de Saddam Hussein ou de capturar Osama Bin Laden e desmantelar a Al-Qaeda, escondem-se os mais execráveis interesses econômicos. Não é necessário discorrer aqui sobre o interesse norte-americano nas fontes de petróleo iraquianas, da mesma forma que são desnecessárias elucubrações para concluir que a invasão da Líbia e a deposição de Gadaffi é uma campanha pela apropriação do ouro negro líbio. É mais que notório, também, que a invasão do Iraque tem sido um grande negócio para empresas norte-americanas do ramo da logística de guerra.
O fato é que desde que o presidente Dwight Eisenhower denunciou a existência de um complexo industrial-militar a ditar os rumos político-econômicos dos Estados Unidos, as guerras e intervenções são uma constante na história norte-americana. Infelizmente, a economia estadunidense está umbilicalmente ligada a tal complexo industrial e militar.
O saldo de tais intervenções e invasões é uma macabra contabilidade de mortos, mutilados e desabrigados. O número de mortos no Afeganistão já ultrapassa a cifra de 38 mil. Artigo recente de Marco Aurélio Weissheimer aponta que para “vingar” as 2.900 vítimas dos ataques ao World Trade Center, os EUA já teriam feito mais de 900.000 vítimas nas guerras do Afeganistão e Iraque.
Não são recentes as intervenções imperialistas dos EUA, assim sendo, nesta data não poderia ser esquecido outro 11 de setembro, o de 1973, quando um violento golpe de Estado patrocinado por Washington sepultou a via pacífica para o socialismo no Chile. Naquela data, a democracia chilena morria juntamente com seu presidente Salvador Allende, acuado dentro do Palácio de La Moneda pelas tropas golpistas lideradas pelo general Augusto Pinochet.
Em seu livro As Veias Abertas da América Latina o jornalista Eduardo Galeano diz que do subsolo de nosso continente é que brotam os golpes de Estado. No caso do Chile, o mote era a nacionalização das minas de cobre.
Desde o início de seu governo, Allende era persona non grata para os políticos norte-americanos, a ponto de o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, dizer o seguinte: “Não temos porque aceitar que um país se faça marxista pela irresponsabilidade do seu povo". Era o sinal verde para que os Estados Unidos usassem de todos os meios para desestabilizar a economia e a política chilena. As intervenções norte-americanas no Chile foram do apoio a assassinatos de políticos apoiadores do governo Allende, passando pelo fomento a greves desestabilizadoras, até o apoio militar direto aos golpistas, como ocorreu nas vésperas e durante o golpe de setembro de 1973.
Nos últimos 70 anos, os Estados Unidos se acostumaram a serem caçadores, fazendo vítimas em todo o globo terrestre. No dia 11 de setembro de 2001, no entanto, eles foram a caça.
As perguntas que ficam são as seguintes: até quando os EUA terão fôlego econômico para manter sua política imperialista mundo afora? Até quando os cidadãos estadunidenses terão paciência para ver bilhões de dólares sendo investidos em guerras no exterior, enquanto o país padece de males típicos do capitalismo periférico como desemprego e falência do sistema público de saúde?
Se a guerra é o terrorismo dos países ricos contra os pobres, o terrorismo é a guerra destes contra os países ricos. Esta máxima é bem ilustrada pela história recente dos Estados Unidos; uma história marcada por um expansionismo que no seu rastro fez surgir figuras como Saddam Hussein, Bin Laden, Pinochet e tantos outros de triste memória.
Enquanto prosseguirem a escalada imperialista e o espírito expansionista, chauvinista e vingativo norte-americano, o mundo, com certeza, não será um lugar tranqüilo para se viver.