Durante a década de 1970, o cartunista nevense Henfil, ao visitar o filho Ivan, tinha o hábito de ir até o quarto dele, contar histórias e desenhar personagens. O material resultante desses encontros chega agora ao público em três livros, com desenhos do artista e textos recriados pelo filho: "O sapo que queria beber leite!", "Sapo Ivan e Ananias" e "Sapo Ivan e Olavo".
Nessas situações amalucadas e de grande comicidade está a mais surpreendente obra surgida do material inédito de Henfil. A série terá 12 títulos e deverá ser concluída até o fim do ano, quando chegará às lojas caixa com todos os volumes.
Sapo quer beber leite, o primeiro livro, é do início da década de 1970 – o único já publicado devido à insistência da ex-mulher, que sugeriu ao filho recuperar outras histórias. O material chegou pelo correio, pois Henfil morava nos Estados Unidos. Os outros dois títulos são resultado de encontros do pai com o menino de 7 anos em contexto doméstico. “Era tudo brincadeira, só diversão”, recorda Ivan. “Por mim, teria feito muitas outras histórias”, afirma, contando que, às vezes, ficava com raiva quando o pai não ia vê-lo. “Todo filho de artista vive menos tempo com os pais do que gostaria”.
A nova edição transformou o antigo bloco de desenhos em livro. “Tenho procurado incorporar a emoção e o suspense que meu pai acrescentava às histórias”, revela Ivan. Ele não sabe se Henfil criava as tramas na hora, mas ainda se lembra dos personagens que iam surgindo, aos poucos, nas folhas em branco. Em alguns casos, só apareciam completos na quinta página.
“Henfil sabia fazer render a conversa com seu desenho simples e complexo. Parece fácil, mas não é”, explica o filho do cartunista. Ziraldo disse, certa vez, que o colega, com meia dúzia de traços, criava expressões de atores shakespearianos. Um exemplo disso é Graúna. “O desenho é o mesmo, mas passa vários sentimentos”.
Henrique de Souza Filho nasceu em 1944, em Ribeirão das Neves, e morreu em 1988, no Rio de Janeiro. Hemofílico – assim como os irmãos, o músico Francisco Mário e o sociólogo Betinho –, o cartunista contraiu Aids em transfusão de sangue.