Pautas sociais são muito complexas para serem resolvidas com uma única ação, mas precisamos começar de algum lugar.
No mês em que dedicamos um dia - 18 de Maio - para promover campanhas, ações e debates sobre o Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, se faz necessário lembrar que essa deve ser uma luta diária e coletiva. A segurança de crianças e adolescentes é uma responsabilidade de toda a sociedade.
É desanimador olhar ao redor e sentir que caminhamos pouco ou quase nada nesse assunto.
Só se alcança a maioridade no Brasil aos 18 anos, só se pode dirigir e ingerir bebidas alcoólicas com essa idade, e votar só aos 16, e eu acho que deve ser assim mesmo, especialmente quando os jovens parecem amadurecer cada vez mais devagar. No entanto, acho de uma covardia e hipocrisia gritante que a idade de consentimento para relações sexuais seja 14 anos.
Em um país historicamente pautado por e para homens, não me choca que esse público seja o menos indignado com esse assunto, mas muito me entristece que a voz dos decentes seja tão abafada. Não creio que somos poucos, mas sei que jamais colocarão um microfone para ecoar nossa voz, jamais nos darão destaque.
Não é que não tenhamos políticas e ações voltadas para este assunto, temos, mas não é o suficiente. Não é, porque as estatísticas ainda são alarmantes.
Se a política é o retrato da sociedade, então devemos nos assustar e lamentar, pois há grupos políticos conservadores e progressistas dizendo que lutam pelas crianças, enquanto membros dos seus partidos se casam com adolescentes, são investigados por abusos sexuais contra menores, e eles pouco fazem em propostas e ações para combater este cenário de violência.
E não se engane: ambos os grupos são bons em prometer, e melhores ainda em se omitir. Em um mês onde dedicamos um dia para tratar de um assunto tão importante, em qualquer democracia saudável deveria haver um grito uníssono, uma indignação real e sem ideologias, uma luta que é de todos. Mas o que temos no Brasil - que é um país democrata, mas está longe de ser saudável - é uma caça às bruxas, uma guerra de narrativas.
Os políticos "que representam o povo" estão mais preocupados em jogar a culpa no colo uns dos outros, como se jogassem batata quente, sem jamais encontrar e punir culpados, sem jamais tocar em assuntos reais e problemáticos, como a idade de consentimento e os relacionamentos entre adultos e adolescentes (como o caso do médico de 29 anos que matou - acidentalmente, segundo ele - a namorada de 15).
Abusos e violência apresentam muitas características sutis, e se não estivermos atentos, as coisas "passam batido". Um clássico são os homens adultos que se aproximam de adolescentes afirmando que elas são mais maduras do que as meninas da mesma idade, que elas são diferentes, especiais. Outros dizem que hoje em dia as meninas não aparentam mais ter a idade que têm, seus corpos parecem de mulheres maduras e isso justifica a atração de homens adultos por garotas adolescentes. Há ainda aqueles que se envolvem em lutas sociais para mascararem seus crimes, como o caso do pastor que abusava de adolescentes, mas era envolvido com ONGs que visam proteger esse público desse tipo de situação. São lobos em peles de cordeiro, são criminosos de palavras gentis. Enquanto sociedade devemos nos atentar aos sinais, desconfiar e nos dispor a ouvir. Enquanto cidadãos devemos nos indignar. Com um corpo politico tão caro aos cofres públicos, defender a segurança das crianças e adolescentes deveria ser o mínimo. E se o mínimo tem faltado - E TEM! - usemos da democracia para dispor aqueles que trocaram a espada da justiça pelos anéis do poder.
Maio chegou, dia 18 passou e o cansaço seguiu.
Pautas sociais são complexas, há muitas camadas para descascar e resolver. Vamos acelerar o passo?
18 de maio
-
Redação -
