Vivemos um momento decisivo para a humanidade e para o nosso planeta. A questão ambiental, antes tratada como algo distante ou secundário, hoje se impõe como uma urgência que atinge a vida de cada pessoa, em qualquer cidade ou bairro.
Em Ribeirão das Neves, essa realidade se manifesta de forma clara e preocupante. O descarte irregular de lixo em lotes vagos, calçadas e ruas — mesmo com a oferta da coleta seletiva — revela uma desconexão entre o cuidado com o meio ambiente e a solidariedade com o próximo.
Em alguns bairros, como o Viena, a situação tem gerado conflitos graves: brigas entre moradores, ameaças com armas de fogo por conta da disputa em torno dos locais de descarte, queima de resíduos para reduzir o volume de lixo, além do acúmulo de sofás, colchões e outros materiais de grande porte. Esses episódios evidenciam não só a falta de infraestrutura adequada, mas também a urgência de promover uma consciência coletiva sobre o impacto dessas ações no cotidiano e no futuro da cidade.
O acúmulo de lixo em terrenos abandonados vai muito além de um problema estético ou sanitário: revela um desafio mais profundo, relacionado à forma como nos relacionamos com o espaço onde vivemos, com nossos vizinhos e com as gerações futuras. Esse problema está diretamente ligado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU, especialmente o ODS 11 — que convoca à construção de cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis — e o ODS 12 — que promove padrões de produção e consumo responsáveis.
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, somos chamados a olhar para essa e outras questões ambientais com seriedade e compromisso. O descarte inadequado de resíduos é apenas uma das faces da crise ecológica que enfrentamos. Desmatamento, poluição das águas, escassez hídrica, queimadas e mudanças climáticas fazem parte de um cenário preocupante, que exige ações coordenadas entre governos, empresas, instituições e cidadãos.
Neste ano, durante o período da Quaresma, a Campanha da Fraternidade — promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) — trouxe como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. Embora a campanha já tenha se encerrado, sua mensagem permanece viva e necessária: cuidar do meio ambiente é cuidar da vida. Esse chamado, que ultrapassa fronteiras religiosas, convida toda a sociedade a refletir sobre o impacto direto que nossas ações — como o descarte de lixo em espaços públicos ou privados — têm na saúde, no bem-estar e na dignidade coletiva.
Em Ribeirão das Neves, a responsabilidade da gestão pública quanto à organização, fiscalização e promoção da destinação adequada dos resíduos sólidos está prevista na legislação municipal (Lei nº 3.291, de 30 de abril de 2010, que dispõe sobre a Política de Proteção, Conservação e Controle do Meio Ambiente e da Melhoria da Qualidade de Vida no município de Ribeirão das Neves, Minas Gerais).
Essa legislação atribui ao poder público o dever de garantir infraestrutura adequada, serviços eficientes de coleta e destinação, além de promover ações educativas contínuas que contribuam para o fortalecimento da consciência ambiental da população.
No entanto, como em diversos municípios brasileiros, a implementação plena dessas ações ainda enfrenta desafios estruturais e operacionais, o que exige esforços contínuos, investimentos e articulação entre poder público, sociedade civil e demais atores envolvidos.
Diante disso, é fundamental reconhecer que esse esforço não depende exclusivamente do poder público — ele começa também com cada cidadão.
É preciso entender que o cuidado com a cidade é uma construção coletiva. Moradores, lideranças comunitárias e instituições devem assumir sua parte, adotando práticas de descarte consciente — como colocar o lixo em sacos resistentes para evitar que cavalos, cachorros ou vento espalhem os resíduos — participar da coleta seletiva e denunciar o descarte irregular, enquanto a Prefeitura implementa e executa os mecanismos necessários para resolver a questão. O desafio do lixo, assim, é uma responsabilidade compartilhada, na qual governo e sociedade civil precisam caminhar juntos.
Cada saco, garrafa, entulho ou papel descartado em lugar impróprio carrega uma pergunta silenciosa: qual é a cidade que estamos ajudando a construir — e que futuro estamos deixando para quem vem depois de nós? A responsabilidade não cabe apenas aos governantes — ela é, também, de cada um de nós, enquanto agentes transformadores da realidade.
Assumir esse papel é um ato de fraternidade — um gesto que une respeito, cuidado e compromisso com a vida.
Diante da complexidade e gravidade do problema do lixo em Ribeirão das Neves, fica evidente que não basta apenas apontar responsabilidades ou lamentar a situação atual. É imprescindível avançar para a ação concreta, estabelecendo compromissos claros e integrados entre cidadãos, Prefeitura e Câmara Municipal. Somente por meio dessa cooperação efetiva poderemos reverter o quadro preocupante e construir uma cidade mais limpa, saudável e sustentável para todos.
Por isso, este artigo propõe um conjunto de atitudes e responsabilidades que cada segmento da sociedade pode assumir para enfrentar, de forma conjunta e eficaz, a questão do lixo e do descarte irregular em nossa cidade.
Propostas concretas para enfrentar a questão do lixo em Ribeirão das Neves
Para os cidadãos:
* Praticar o descarte consciente e correto dos resíduos, acondicionando-os adequadamente para evitar o espalhamento e a proliferação de vetores de doenças;
* Participar e incentivar a coleta seletiva e as ações de reciclagem em suas comunidades;
* Não descartar lixo em locais impróprios;
* Promover a educação ambiental em seus círculos de convivência, incentivando uma cultura de responsabilidade ambiental.
Para a Prefeitura:
* Implementar e ampliar políticas eficazes de gestão de resíduos sólidos, garantindo coleta regular e seletiva em todos os bairros, inclusive os mais periféricos;
* Assegurar infraestrutura adequada para a correta destinação e tratamento dos resíduos, com pontos de coleta acessíveis e manutenção constante;
* Desenvolver e manter campanhas educativas permanentes, que dialoguem diretamente com as comunidades, utilizando meios tradicionais e digitais para ampliar o alcance;
* Criar e divulgar canais de denúncia simples e acessíveis, com retorno rápido e acompanhamento das demandas da população;
* Organizar mutirões regulares de limpeza urbana em áreas críticas, envolvendo a comunidade para fortalecer o sentimento de pertencimento e responsabilidade.
Para a Câmara Municipal:
* Elaborar, aprovar e fiscalizar leis que promovam a gestão eficiente dos resíduos sólidos e a proteção ambiental, com instrumentos claros para a aplicação e acompanhamento;
* Monitorar e cobrar a execução das políticas públicas ambientais pela Prefeitura, garantindo transparência e participação social;
* Destinar recursos orçamentários adequados para a gestão de resíduos, educação ambiental e infraestrutura urbana, priorizando investimentos que resultem em melhorias visíveis e duradouras;
* Promover audiências públicas e fóruns de debate para fortalecer o engajamento da sociedade civil, criando espaços onde cidadãos, técnicos e gestores possam construir soluções coletivas;
* Incentivar parcerias entre os setores público, privado e organizações da sociedade civil, buscando inovação, eficiência e responsabilidade social nas ações ambientais.
O desafio do lixo nos mostra que a sustentabilidade vai muito além de metas ambientais: trata-se de um compromisso com a justiça social, com a dignidade coletiva e com a construção de um futuro comum. Em Ribeirão das Neves, essa responsabilidade deve ser compartilhada por todos — cuidar do meio ambiente é também cuidar das relações e dos espaços que dividimos: ruas, praças, lotes e bairros que contam a história da nossa convivência.
Que este 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, seja um marco simbólico, mas que o compromisso com a cidade se renove a cada dia. Porque uma Ribeirão das Neves mais limpa, justa e sustentável começa com atitudes cotidianas — de cada morador e, sobretudo, de cada gestor público. Cada gesto conta. E é juntos que cuidamos da cidade em que vivemos e que também queremos preservar para as futuras gerações.