Diversas podem ser as respostas para que uma pessoa passe a planejar ou tentar o suicídio: perda do emprego, violência, fim de um relacionamento, sensação de vazio, menos valia, baixa autoestima, gravidez indesejada, podemos pensar em uma infinidade de motivos. Todas essas possibilidades vividas em intenso sofrimento.
O tema suicídio é bastante complexo por envolver diversos fatores como família, sociedade, política, trabalho, entre outros. Todos esses aspectos têm um ponto em comum: interagem entre si.
Falar do fato apenas não abarca o todo envolvido. Enquanto profissional da saúde e psicoterapeuta sistêmica, direciono o meu olhar com mais realce à questão da dinâmica familiar e a constituição dos relacionamentos.
Antes de nascermos, existe uma expectativa muito grande em torno do nosso futuro. Diversos planos são projetados em nós no intuito de estender uma vontade que não é nossa. Um exemplo: pais que planejam o futuro do filho dentro da medicina, pois é tradição e faz parte dos valores e crenças da família de que todo novo integrante seja médico(a).
Esse exemplo nos mostra que com o passar dos anos, essa criança será educada e ensinada que ser médico é o melhor caminho a ser seguido. Serão contadas histórias fantásticas sobre os membros da família de gerações passadas que foram doutores, mestres e especialistas no assunto, bem como as dificuldades e alegrias para se alcançar o tão sonhado objetivo.
Suponhamos que a família do exemplo, seja uma família rígida, que não aceita novas propostas de mudança e que desencoraja qualquer membro que queira seguir em uma outra direção que não seja a que a família esteja acostumada...
Começa, no exemplo acima, uma série de desconfortos emocionais para aquele que quer escolher entre seguir outro caminho (possibilidade de mudar o padrão relacional familiar) ou continuar leal (reproduzir o padrão familiar). A forma de enlace ou relação familiar como o encorajamento, a reciprocidade, a abertura para mudanças, o apoio, confiança mútua são fatores que desenvolvem indivíduos autônomos que têm capacidade em se diferenciar de seus outros membros, sem perder de vista seus valores enquanto grupo.
Quando o contrário acontece, ou seja, existe um ambiente opressor, onde existe uma fusão muito grande entre os membros, em que um não se diferencia do outro, não existe limite e há muito apego, é difícil esse sujeito estabelecer um sistema emocional equilibrado, o que pode culminar na retirada de sua própria vida, pois foi a via encontrada por ele para dar um basta diante do isolamento, cansaço, invasão e falta de habilidade em lidar com a situação.
Torna-se, dessa forma, necessário resgatar novas maneiras de se relacionar dentro de nosso convívio familiar para que não seja reproduzido padrões que não possibilitem maior flexibilidade, consciência e responsabilidade em novos repertórios relacionais como família, trabalho ou vida social. Precisamos do outro para nos diferenciar.
É importante destacar que há indivíduos que tem pouca diferenciação de suas famílias, mas que em uma situação estressora consegue ter um comportamento flexível e resiliente. O contrário também é verdadeiro.
Dialogar sobre o sofrimento, a tristeza sentida, a perda vivida é de suma importância para dar sentido e novo significado àquilo que envolve os aspectos do cotidiano. Todos nós estamos sujeitos a isso. A forma de expressar essa relação é que será o fator diferencial para a possibilidade de uma vazão funcional e preventiva.