Todos os dias sou lembrada, com propagandas e reportagens, sobre a tolerância zero ao álcool no trânsito. Sei que bebida e direção não combinam. Sofro na pele a dor de ter um familiar tetraplégico por causa de um motorista irresponsável bêbado ao volante.

Estou vendo também as reações do povo à nova lei. Recentemente vi uma reportagem mostrando que alguns padres estão usando vinho sem álcool em suas celebrações, quebrando a tradição do vinho canônico por causa da nova lei. Na minha vida nunca ouvi falar que um padre tenha causado um acidente após celebrar uma missa por causa de um gole de vinho. Alguns motoristas, aterrorizados, estão com medo até de usar enxaguante bucal já que o mesmo compromete o exame de bafômetro. Hoje o foco dos acidentes de trânsito está voltado para o álcool.

Estou cansada! Se numa blitz, além do álcool, medissem o meu nível de estresse por tentar desviar de tantos buracos no tráfego que faço diariamente para trabalhar – digo “tentar” porque muitas vezes é inevitável cair em um – veriam que realmente eu sou um perigo ao volante, capaz de causar mais acidentes do que se tivesse alcoolizada.

Atualmente minha tolerância é zero! Zero para a indústria da multa, zero para a falta de atitude de quem deveria nos proteger mantendo estradas trafegáveis, zero para toda essa hipocrisia. Só que minha tolerância zero não multa ninguém e é ignorada pelas autoridades. Porque, afinal, quem sou eu? Apenas uma cidadã que paga todos seus impostos em dia e que teve a ousadia de fazer este desabafo.