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Ribeirão das “trevas” ou Ribeirão das “luzes”?

A cidade de Ribeirão das Neves não é só presídio, violência e pobreza, lá existe um povo que gosta da cidade e tem sabedoria e simplicidade para apontar os caminhos.

Durante o processo de industrialização do Brasil ouve uma expansão das fronteiras agrícolas e a modernização do campo. Nesse contexto as correntes migratórias direcionadas a Belo Horizonte, esbarraram no alto custo dos terrenos, no processo de retenção especulativa e na ausência de oferta de moradias para a população de baixa renda. Qual a opção encontrada? Ir para Ribeirão das Neves.

Com a instalação dos presídios, o município ficou estigmatizado como a “cidade dos presídios”, como se lá não houvesse mais nada a não ser “cadeias”. Este estigma provocou desvalorização dos imóveis, impedindo o surgimento de empreendimentos imobiliários destinados a uma população de nível de renda mais elevado.

Para piorar a situação não havia normas municipais para controle e regulamentação dos loteamentos e a topografia favorável tornava extremamente barato a abertura de ruas, única benfeitoria prestada pelos loteadores.

Quais as consequências dos fatos narrados acima?

Infraestrutura urbana e serviços públicos precários, oferta de lotes de baixo preço, concentração populacional de baixa renda, com níveis elementares de educação e desqualificada profissionalmente.

Em 40 anos, segundo o IBGE, a população de Neves teve um crescimento assustador da ordem de 3.063%. A cidade saiu de 9.707 habitantes, em 1970, para 297.317, em 2010.

Incapaz de absorver a massa trabalhadora, a cidade exportou mão-de-obra para Belo Horizonte. Essa mão-de-obra ocupou qual emprego? Aquele que não exigia instrução elevada e qualificação, logo o de menor salário ou foram para a atividade informal, desprovida de garantias e benefícios.

Assim se instaurou em Neves as “trevas”. Mas na cidade nem tudo é escuridão, há forte presença de luz.

Nos últimos anos é patente a existência de movimentos que buscam o resgate do sentimento de pertencimento da população e a busca efetiva de soluções para os históricos e profundos problemas presentes na cidade.

Sem a intenção de esgotar o assunto e para efeito de contextualização destacar-se-á um desses movimentos, o da Agenda 21 local.

De forma objetiva e resumida a Agenda 21 é um plano mundial para orientar países, estados e municípios a promover o desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento sustentável entendido aqui como aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Em outras palavras, é o equilíbrio entre o homem e o meio ambiente.

Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, vem promovendo ações para construir no município a Agenda 21.

A partir do ano de 2011, com a chegada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), o município teve mais um aliado na construção da Agenda 21.

Cumprindo uma das suas finalidades que é o de contribuir para o desenvolvimento local e regional, o IFMG, criado pela Lei 11.892 de 29/12/2008, juntamente com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, vem provocando a discussão e a reflexão dos cidadãos a partir do tema “a cidade que temos e a cidade que queremos”.

Para permitir a participação efetiva da população nas discussões e reflexões foram utilizados instrumentos e conhecimentos científicos. Sob a responsabilidade do IFMG, foram realizadas uma pesquisa de opinião e três audiências públicas ao longo do ano de 2011.

Assim, o cidadão comum pôde opinar, sugerir e apontar soluções e caminhos para a cidade. Sobre a experiência de ter participado das audiências públicas a moradora da região Central, Flávia Carvalho, relatou que “a experiência vivida naquela manhã me ajudou a enxergar o município com outros olhos, proporcionando esperança quanto ao futuro da cidade”. Já o morador da região de Veneza, Jurandir de Souza, relatou que “a audiência foi muito positiva para a região e que as expectativas estão cada vez maior”. Por último, a moradora da região de Justinópolis, Aída Reis, disse “foi interessante à presença de jovens de diversas idades e educadores presentes na reunião, pois segundo ela eles serão os multiplicadores das informações passadas nos temas propostos e com certeza irão divulgar dentro das comunidades o que foi discutido na audiência”.

Os cidadãos sinalizaram com clareza e propriedade que as soluções para os problemas da cidade passam pela educação, pelo meio ambiente, pela promoção humana e inclusão social, pelo desenvolvimento econômico, pela saúde e pelo transporte.

Como consequências dos problemas foram apontadas: o elevado número de óbitos, o agravamento das condições de saúde, o deslocamento para outra cidade e a insatisfação da população, os atrasos nas viagens, a superlotação dos ônibus, a baixa qualidade do ensino, a evasão escolar e a reprovação, a desigualdade social, a falta de oportunidades, o desemprego, a falta de investimentos e a condição de cidade "dormitório".

Continuando, os cidadãos sinalizaram que as prováveis soluções para se criar um cenário futuro desejado passaria pela presença do poder público local na efetiva resolução dos problemas apontados, bem como a efetivação de parcerias entre as três esferas de poder público (municipal, estadual e federal) juntamente com os empresários e as instituições de ensino superior.

Por fim, apontaram como potencialidades do município a própria população, a localização geográfica e o espaço físico e como pontos positivos da cidade o mercado consumidor local, o potencial de pessoas a serem qualificadas e os espaços para a instalação de empresas.

Dessa forma, o poder público não precisa inventar, basta seguir as orientações do povo. Como dizem, o povo é sábio. Nós sabemos o quanto os governantes gostam de inventar ou inverter as prioridades. Elegem prioridades de grupos de interesses e dizem que são do povo.

Para encerrar destaco um paradoxo. A mesma Ribeirão das Neves que ironicamente ainda é tratada como cidade das “trevas” é na verdade a cidade da “luz”. A cidade e seu povo são capazes de apontar as fraquezas e as virtudes e principalmente apresentar os caminhos, as soluções.

Agora é preciso vontade e compromisso político na execução.

 

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