Nos dias de hoje estar conectado à Rede Mundial de Computadores passou a ser uma condição sine qua non para a interação entre os indivíduos, isto é, um ingrediente indispensável e essencial para a existência do Homem no século XXI. A tradução deste termo proveniente do latim, significa "sem o qual não pode ser", sendo justamente essa a compreensão que temos dessa modalidade de conexão que tantos nos atrai, ou quem nunca ouviu a expressão ou até mesmo pronunciou a seguinte frase "não sei como seria a minha vida sem internet"?. Posso dizer, sem medo de cometer algum exagero, que é quase uma questão de sobrevivência estar conectado à rede e ter pelo menos uma página pessoal onde o seu perfil será veiculado publicamente e mundialmente.
Logicamente, não podemos desconsiderar os benefícios que a internet trouxe para o desenvolvimento humano, econômico, político e social da humanidade. Por meio da Web temos acesso a infinitas informações, podemos realizar todo tipo de transferência de dados, temos uma gama incalculável de recursos e serviços, comunicação instantânea, compartilhamento de arquivos, correio eletrônico, tudo isso mediado por uma infra-estrutura gigantesca que nos permite estar sempre no "ar". De acordo com a Internet World Stats, 1,96 bilhão de pessoas tinham acesso à Internet em junho de 2010, o que representa 28,7% da população mundial, sendo assim, não há como negar o fato de que estamos vivendo a era da democratização da informação, hoje muito do que era restrito a uma pequena minoria está ao alcance de todos os indivíduos conectados em rede bastando apenas um clique no mouse.
Apesar de toda a evolução que a Era da Internet tem proporcionado a todos aqueles que dela se apropriam, existe algo que não pode ser desconsiderado e que precisa ser trazido com máxima urgência para nossas discussões. Trata-se do fenômeno da perda da noção de intimidade que acomete os internautas da contemporaneidade, uma vez que a internet trouxe a possibilidade de tornar público tudo aquilo que outrora era privado, trazendo um conflito generalizado entre o próprio conceito de intimidade e mundo privado.
Estamos saturados de informações e a vida privada tornou-se mais um objeto de entretenimento e especulação, sem que haja uma regulação entre aquilo que é saudável e o que caminha para o patológico. A grande questão é: com a expansão das possibilidades de interação virtual as relações humanas aumentaram a qualidade da mesma forma como aumentou-se o conhecimento que temos do outro? Que intimidade é essa que tem sido escancarada na net por meio de fotos, depoimentos, frases, vídeos, textos, salas de bate-papo e tantas outras formas de exposição? Podemos chamar este fenômeno de intimidade? Estamos por meio da Web nos expondo como em vitrines e depois nos queixamos quando somos vistos como meros objetos pelo outro, seria isso?
Tenho as minhas dúvidas se a imagem que é transmitida nas páginas virtuais coaduna com aquilo que de fato o indivíduo é, caso a minha hipótese de que o que existe, na maioria dos casos, é uma veiculação em massa de fantasias, uma vez que diante da tela o indivíduo pode ser o que bem desejar, e mentiras, qual tipo de relacionamento esse veículo tem proporcionado? Que pessoas são essas que chamamos de "amigos", o que sabemos sobre elas e elas sabem sobre nós que as fazem merecer este título? Podemos chamar essa modalidade de interação entre as pessoas de relacionamento?
Certamente estamos cercados de pessoas, mas isso nem de longe significa que estamos nos relacionando com elas, relação significa troca mútua, intimidade, e só somos íntimos daqueles com quem partilhamos os conteúdos mais secretos de nossas vidas, com liberdade, autenticidade e confiança.
Relacionar-se não é em nenhum aspecto uma tarefa fácil, pois traz consigo muitas possibilidades de sofrimento e os indivíduos da contemporaneidade têm verdadeiro horror a esta palavra, e é justamente por isso que provoco você, prezado leitor, a pensar se o uso que você tem feito desta poderosa ferramenta virtual não tem sido uma forma de fugir do sofrimento proveniente das relações legítimas? Ressalto que não há aqui nenhum julgamento de valor e sim vivências de uma época que traz, sim, a dificuldade de viver a intimidade e por isso se refugia em outros abrigos. Que tal pensar sobre isso?