Quem nunca ouviu a frase “menina brinca de boneca e menino brinca carrinho”? Se algum leitor ainda não a tenha escutado, posso supor que este viva em alguma sociedade alternativa, bem diferente da que eu faço parte. Observando a forma como as crianças são criadas por seus pais e responsáveis é possível entender as razões de vivermos em um mundo machista, que gera indivíduos que lotam os consultórios de psicologia em busca de alivio para traumas emocionais, carências afetivas, cujas queixas centrais, não raramente, concentra-se no vazio gerado pela falta da figura paterna na vida dos filhos. Não teria medo de afirmar que estamos vivenciando a “geração de filhos sem pai”, um século de “filhos órfãos de pais vivos”.
Suponho que a frase citada no inicio deste texto tenha algo a ver com esta realidade. Desde pequenos os homens são ensinados que não devem expor seus sentimentos, afinal, homem que é homem não chora, assim, mesmo que se machuquem, sintam dor, devem engolir as lágrimas e dizer que não foi nada, pois são fortes o suficiente para suportar tudo o que lhes faça sofrer, aliás, macho que é macho nem sofre, sofrimento é coisa de menina, do sexo frágil. Será que o prezado leitor é capaz de relacionar este fato, aparentemente banal, com as incansáveis reclamações das mulheres sobre o fato de seus parceiros serem frios, indiferentes, não expressarem seus sentimentos, não saberem dar afeto da forma como elas necessitam?
O mais instigante de tudo isso é que as mesmas mulheres que apresentam uma lista infindável de queixas sobre o comportamento “frio” dos homens, que dizem estar sobrecarregadas com a criação dos filhos, uma vez que seus parceiros não contribuem nesta tarefa são as que modelam este mesmo comportamento em seus lindos filhinhos desde tenra idade, ou não seria elas, na maioria das vezes, que os ensinam que boneca é coisa de menina? Creio que chegou o momento de pensarmos que as bonecas que as meninas fazem de filhinhas ao brincarem de casinha também precisam de pai, e ser pai é coisa de homem, sendo assim, não estamos gerando com isso homens com questionamentos referentes à sua sexualidade se os ensinarmos desde pequenos através de recursos lúdicos qual o papel do pai no contexto familiar. Afinal, todo comportamento humano é aprendido e sem aprendizagem não há comportamento.