Uma simples ocorrência policial transformou-se em pesadelo para o comerciante Aniversino Jacinto dos Reis, de 74 anos. Absolvido pela Justiça em 1992, ele foi preso esta semana por policiais civis com base num mandado de prisão extinto há 17 anos. Pela lei, cidadãos com mais de 70 anos não podem ser presos em cela comum, mas, mesmo de posse da documentação que comprovava sua inocência, os agentes da 10ª Delegacia Regional de Ribeirão das Neves, na Grande Belo Horizonte, negaram-se a verificar a papelada e o submeteram a constrangimento por cinco horas. O advogado de Aniversino, Otacílio Ferreira da Costa afirmou que vai processar o Poder Judiciário e a Polícia Civil pelo incidente.
O comerciante conta que perdeu a carteira de identidade e, na segunda-feira, foi à delegacia registrar o boletim de ocorrência. “Cheguei às 12h30 e, meia hora depois, a atendente começou a digitar meus dados no computador. Pouco tempo depois, disse que estava preso. Em seguida, o inspetor mandou que fosse para uma sala e repetiu que estava preso. Liguei para meu advogado e minha mulher e pedi que levassem a sentença do juiz. Mesmo com tudo na mão, o inspetor disse que não queria saber dos documentos e rejeitou todas as informações”, lembra o comerciante.
Aniversino explicou ainda que, por volta das 14h, outro agente entrou na sala e mandou que fosse para a cela. “Disse que lugar de criminoso era atrás das grades e me colocou numa cela fedorenta sem água e sem banheiro. Estava com fome e fiquei lá até as 17h”, conta Aniversino, acrescentando que os policiais disseram que ele seria conduzido até o Departamento de Investigação, em Belo Horizonte, e, depois, levado para Inhapim, no Vale do Rio Doce, onde Aniversino morava há 28 anos, à época do crime.
"Fiquei na cela com uma mulher, também detida. Um quarto detetive precisou verificar informações com ela e percebeu que, até aquele momento, eu permanecia preso. O agente, então, pegou os documentos na minha mão e teve o cuidado de ler. Levou para o inspetor e, assim que perceberam o erro que tinham cometido, me soltaram", afirmou o comerciante. “Isso é um absurdo. Fui absolvido há mais de 15 anos e, mesmo assim, fui vítima dessa falta de respeito. Senti muita vergonha”, acrescenta Aniversino.
Mandado cumprido
O delegado regional de Neves, Hamilton Figueiredo, disse que Aniversino refutou o relato de violência. “Quando ele foi tirar a identidade, havia um mandado em aberto. Porém, não foi dada baixa no sistema. Quando a mulher dele chegou com a sentença, nós o soltamos. Mesmo com a sentença, não precisávamos tê-lo liberado, pois poderíamos exigir o alvará de soltura. Fizemos ofício ao juiz de Inhapim, informando que o mandado foi cumprido e que ele foi colocado em liberdade. Solicitamos ao magistrado para que expedisse mulher detida lá há bastante tempo.”
Ele acrescentou que trabalha com três policiais sérios: “O inspetor já tem tempo para aposentadoria. A um agente faltam três anos para se aposentar. O outro, dois anos. O tempo do pau-de-arara acabou. Acho pouco provável que tudo isso tenha ocorrido.”
Idoso permanece preso por engano em Neves
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