Na década de 1950 foi inaugurado um espaço cultural para exibição de filmes: o Cinema dos Funcionários da Penitenciária Agrícola de Neves, cujos fundadores são os saudosos Sr. João Carvalho Filho e o ex-diretor da penitenciária, Dr. Alberto Teixeira Santos. Os filmes eram exibidos primeiro dentro da penitenciária e, posteriormente, aos funcionários e seus familiares no cinema instalado no prédio da antiga Cooperativa de Consumo dos Servidores da Penitenciária Agrícola de Neves Ltda. A cooperativa possuía três portas na frente e uma delas foi retirada, criando-se um corredor de entrada na lateral. Com o passar dos anos, o cinema foi aberto também para os moradores da área central de Ribeirão das Neves. Os filmes eram exibidos nas quartas-feiras, sábados e domingos.
O trabalho dedicado do Sr. João Carvalho
O Sr. João Carvalho sempre operou gratuitamente a máquina de 16mm, que projetava as imagens na tela. Hoje esse profissional é chamado de projecionista. O Sr. João Carvalho contratava os filmes em Belo Horizonte das seguintes empresas: Fox Filmes do Brasil, Warner Bros, Paramount Pictures, Columbia Pictures, Metro Golden Mayer e outras.
Márcio Carvalho, o substituto eventual
O substituto casual do Sr. João Carvalho era o filho Márcio Hely Carvalho, que enfrentou vários problemas ao exibir alguns filmes muito velhos e defeituosos nas matinês aos domingos. Com certa frequência, a película quebrava e com a interrupção do filme, vaiavam o inexperiente operador, que antes de acender a luz da sala para exigir silêncio a todos, aproveitava o escuro e a luz projetada no telão para enviar uma mensagem proibitiva de se dizer aqui. Após adquirir segurança e conhecimentos sobre arte de compor e realizar filmes, o projecionista Márcio Carvalho passou a ser funcionário e fiscal da Paramount, empresa situada na Rua Aarão Reis, próximo à Praça da Estação Ferroviária.
O novo emprego exigia viagens constantes para Sete Lagoas e Diamantina. Segundo Márcio, "os aluguéis dos filmes contratados pela Paramount havia distinção: um filme de menor cartaz e que atraía poucos cinéfilos tinha o preço fixo. Já os de grande bilheteria era pago um aluguel de acordo com a bilheteria".
Os bilheteiros e porteiros do cinema
O bilheteiro do cinema nevense era o José Dias, que tinha como substituto fortuito, o filho escritor e poeta nevense, Danilo Horta. O porteiro era o Sr. José Acorsi, que quando necessário era substituto pelo filho Artur Acorsi. Nas matinês, que eram exibidas aos domingos a tarde, o operador era o Márcio Carvalho, o bilheteiro, o José de Deca e o porteiro, Artur Acorsi. Com a aposentadoria projecionista, Sr. João Carvalho Filho, assumiu primeiramente o Sr. Creso Vilas Boas e, a seguir, o Sr. Antônio Correia.
O cinema era simples, limpo, as cadeiras rústicas e havia até um espaço na parte superior para acomodar, no máximo, dez pessoas, e que deveria ser chamado de camarote, porém, o mesmo era chamado pelos frequentadores de poleiro. O cinema, da mesma forma, recebeu um apelido carinhoso: pulgueiro.
Do alto do poleiro, o Divino "Chamou o Juca" em muita gente, após fumar um cigarro "mata rato". Os presentes se agitaram e gritaram palavrões, levando o operador a paralisar o filme. Assim que ligaram as luzes viram que era macarrão com muita cebola, tomate, pimentão e outros alimentos. Sem nenhuma condição de continuar a exibição do filme, a sessão foi cancelada e todos deixaram o cinema.
A grande inventividade popular lançou na mesma semana, a música e a letra, que sintelizavam a repugnância de todos: Vomitaram em mim / foi macarrão / tinha cebola, tinha tomate, tinha pimentão / e dois baquinhos de feijão. O sucesso foi grande durante muitos anos e nunca esqueceram desse caso.
Um outro acontecimento rotineiro e pitoresco no cinema, que provocava e gera risos até os dias de hoje, é que alguns frequentadores da primeira fila se abaixavam rapidamente com medo dos carros, locomotivas, cavalos e carroças, que se aproximavam em alta velocidade em direção ao público ou ao verem as armas apontadas em direção à plateia e ouvirem o estrondo dos tiros.
Alguns filmes exibidos
Nas encruzilhadas dos Facínoras - (The Jayhawkers)
Sinopse: Às vésperas da Guerra Civil, a população do estado do Kansas é vilipendiada por salteadores favoráveis ao Sul e ao Norte. Surge então um grupo de vigilantes, os Jayhawkers, que devem proteger fazendeiros e cidadãos.
Elenco: Jeff Chandler, Fess Parker, Nicole Maurey, Henry Silva, Herbert Silva, Hebert Rudley.
Tempo de Duração: 100 minutos - Gênero: Faroeste Americano - Ano: 1959. Duração: 100min. - Diretor: Melvin Frank.
A Última Carroça - The Last Wagon
Sinopse: Um grupo de colonos sobrevive num vagão de trem a um ataque de apaches graças ao Comanche Tod. A partir deste momento deverão colocar as suas vidas nas mãos deste personagem, um homem branco que passou grande parte de sua vida com os Comanches e que agora é um fugitivo por ter cometido três assassinatos. Um faroeste denso e absorvente. Wildmark é um condenado a morte que deverá salvar uma caravana do ataque indígena. Excelente western, fundamental aos amantes do gênero (faroeste).
Elenco: Richard Widmark, Felicia Farr, Susan Kohner, Tommy Rettig, Stephanie Griffin, Ray Stricklyn, Nick Adams, Carl Benton Reid, Douglas Kennedy, George Mathews, James Drury, Ken Clark, Timothy Carey, Juney Ellis, Abel Fernandez, George Ross.
Tempo de Duração: 99 minutos - Ano: 1956 - Distribuição Continental - Direção: Delmer Daves.
E o Vento Levou (Gone With Wind)
Sinopse: Vento Levou, de Margaret Mitchell, é "a produção mais bem-sucedida de Hollywood," disse Leonard Maltin, do Entertainment Tonight. Sob seu ponto de vista, "parece melhor com o passar dos anos." Este romance ambientado durante a Guerra Civil Americana ganhou o impressionante número de 10 Oscar® (incluindo Melhor Filme) e seus imortais personagens, Scarlett (Vivien Leigh), Rhett (Clark Gable), Ashley (Leslie Howard), Melanie (Olivia de Havilland), Mammy (Hattie McDaniel) e Prissy (Butterfly McQueen), popularizam esse épico de apelo permanente a todas as gerações. Tido por muitos como o maior filme de todos os tempos.
Elenco: Clark Gable, Barbara O'Neil, Evelyn Keyes, Thomas Mitchell, Ann Rutherford, Hattie McDaniel, Howard C. Hickman, Oscar Polk, Alicia Rhett, Everett Brown, Leslie Howard, Olivia de Havilland, George Reeves, Rand Brooks, Fred Crane, Carroll Nye, Victor Jory, Laura Hope Crews, Eddie 'Rochester' Anderson, Leona Roberts, Jane Darwell, Ona Munson, Paul Hurst, Isabel Jewell, Cammie King, Eric Linden, J.M. Kerrigan, Ward Bond
Tempo de Duração: 241 minutos - Ano de Lançamento: 1939 - Estúdio/Distrib.: Warner Home Video - Direção: Victor Fleming / George Cukor / Sam Wood.
Seriado - A Marca do Zorro
Antes do filme principal, que se iniciava às 13 horas, passava um "Seriado" (filme cinematográfico que se exibe por partes, formando uma série). Um desses seriados era "A Marca do Zorro (The Mark of Zorro).
Sinopse: Essa fabulosa refilmagem do clássico do cinema mudo estrelado por Tyrone Power no papel do destemido vingador mascarado que, sozinho, salva Los Angeles dos déspotas espanhóis. Don Diego Vega (Power)é chamado de volta de seu treinamento com os oficiais de elite na Espanha para a Califórnia, onde encontra seu pai, o Alcaide, deposto e o povo vivendo sob o jugo tirano dos espanhóis. Disfarçado como Zorro, um espadachim misterioso vestido de preto, ele luta para recolocar seu pai no poder e devolver o dinheiro dos impostos roubado pelos vilões (J. Edward Broberg, Basil Rathbone). Mesmo assim ele ainda encontra tempo para cortejar a bela sobrinha do tirano (Linda Darnell).
Elenco: Tyrone Power, Linda Darnell, Basil Rathbone, Gale Sondergaard, Eugene Pallette, J. Edward Bromberg, Montagu Love, Janet Beecher, George Regas, Chris-Pin Martin, Robert Lowery, Belle Mitchell, John Bleifer, Frank Puglia, Eugene Borden, Pedro de Cordoba, Guy D'Ennery, Stanley Andrews, Fortunio Bonanova, Ralph Byrd, Robert Cauterio, Gino Corrado, Franco Corsaro, Jean Del Val, Art Dupuis, William Edmunds, Victor Kilian, Fred Malatesta, Francisco Marán, Ted North, Hector Sarno, George Sorel, Charles Stevens, Rafael Storm, Paul Sutton, Lucio Villegas, Harry Worth.
Tempo de Duração: 93 minutos - Classificação etária: 12 anos - Ano de Lançamento: 1940 - Estúdio/Distrib.: Classic Line - Direção: Rouben Mamolian.
A sala de exibição do passado faz falta no presente
Uma parte da história de Neves é o cinema e, naturalmente, os filmes exibidos, que ficaram na memória dos saudosos frequentadores daquele espaço, onde atores de sucesso como Mazzaropi, Clark Gable, Vivien Leigh, Elvis Presley e os filmes de faroestes, valsas, épicos e do Império Romano, alegraram a pacata cidade.
O cinema da década de 1950 deixou lembranças nostálgicas em várias gerações. Já os jovens de hoje, sequer sentem falta de um cinema, e muito menos indignação, porque não viveram essa época maravilhosa, desconhecendo a importância da cultura como instrumento educativo, informativo, transformador e transmissor de conhecimentos à criação intelectual e artística.