Por Vanessa Camila da Silva
Não se trata de direita ou esquerda. O Brasil já conheceu governos de diferentes matizes ideológicos, com avanços, retrocessos, acertos e erros. O que se viveu — e ainda ecoa — ultrapassa qualquer debate partidário: é a tentativa de subverter o Estado de Direito, de transformar o país em palco de desinformação e caos.
Palavras e atos de líderes e aliados revelam desprezo pela vida, normalização da violência e negação da dignidade humana. Minimizar sofrimentos, reduzir pessoas a números ou estereótipos, legitimar agressões: tudo isso se tornou política. O respeito à vida passou a ser opcional.
A pandemia de COVID-19 mostrou o preço desse delírio. Enquanto o mundo chorava suas mortes e buscava respostas, medidas de proteção eram ridicularizadas, vidas subestimadas, luto transformado em estatística.
A democracia não sobrevive quando o certo e o errado se confundem. Quando ética e humanidade se tornam relativas. Nesse cenário, instituições como o Supremo Tribunal Federal assumiram papel vital. Entre ataques, desinformação e tentativas de ruptura, mantiveram os pilares da Constituição, defendendo o Estado de Direito.
O oito de janeiro escancarou o perigo. Prédios institucionais invadidos. Tentativa explícita de abolir leis e substituir instituições por interesses pessoais. Cidadãos transformados em espectadores de sua própria história.
Em paralelo, o país acompanhou julgamentos e investigações de ex-presidentes. Processos que lembram que ninguém está acima da lei. Mais do que punição, eles reforçam a importância da transparência, da responsabilização e da justiça na construção de uma democracia sólida.
Mas há um problema ainda maior: a cegueira de quem não se informa. Aqueles que escolhem acreditar em versões convenientes da realidade, ignorando fatos e abraçando falsidades. Enquanto isso acontece, o delírio cresce, as instituições se enfraquecem e a democracia se torna vulnerável.
O Congresso, em grande parte, reflete essa fragilidade. Muitos representantes defendem interesses próprios ou de grupos específicos, deixando em segundo plano o bem-estar da população. Entre eles, forças conhecidas por sua flexibilidade política — que se ajustam conforme o poder ou a conveniência do momento — reforçam a ideia de que o jogo político prioriza acordos internos, negociações de vantagens e manutenção de poder, e não a defesa do povo. Esse comportamento oportunista mina a confiança pública e perpetua a sensação de abandono.
A informação correta é a base da resistência. Pressões internacionais, atenção da sociedade civil e atuação firme das instituições reforçam a necessidade de defender a democracia, resistir a manipulações e garantir que a verdade prevaleça.
Política deveria ser espaço de debate e construção coletiva. Mas quando representantes não servem ao povo, e cidadãos se curvam diante de discursos inflamados, a democracia se fragiliza. Idolatria e desinformação transformam pessoas em súditos.
O delírio não desapareceu com eleições. Vive nas redes, nos discursos inflamados, nas tentativas de intimidar instituições. A sombra do caos insiste em pairar sobre o país.
O Brasil precisa se curar. Não é sobre esquerda ou direita. É sobre confiança, verdade, respeito e protagonismo cidadão. É sobre fortalecer instituições, proteger o Estado de Direito e reconhecer que sem justiça, a sociedade se fragmenta. É sobre fechar as portas do delírio e devolver ao país a sanidade política que lhe foi roubada. Mais do que nunca, a verdade é o alicerce da democracia.