Frente a medidas políticas bastante diferentes das prometidas nas campanhas da última eleição, muito pouco ou praticamente de nada adianta apontar o dedo em tom de acusação para quem votou em fulano, sicrano ou beltrano. Precisamos ter em mente que o país vive uma realidade na qual, a grande massa eleitora responsável por colocar no poder nossos representantes, ainda pouco faz idéia dos resultados do processo eleitoral. Antes de qualquer tipo de ataque contra o eleitor de "A" ou de "B", é preciso repensar a forma como se pratica a cidadania no regime de democracia.
Resumidamente, entendemos que aqueles que conseguem refletir ao ponto de se criticar negativamente o "vizinho eleitor", também deveriam ser capazes de auxiliarem no processo de educação política dos menos favorecidos. Até porque, o que os despreparados para votar fazem, reflete diretamente na vida de todos os cidadãos.
Sobre os candidatos, sejam os que assumem o poder ou aqueles que dele já fizeram uso, é relevante saber que nossos representantes não são pessoas de outros países que vieram para o Brasil com o único intuito de sugar as riquezas. Os políticos brasileiros são brasileiros. Até podemos, o que não acho muito assertivo, criticar, zombar ou mesmo fazer piadas com Portugueses, já que, de acordo com a história, estes, ao pisarem pela primeira vez na terra tupiniquim, não deixaram boas marcas. Com vistas no atual regime de democracia, é da mesma forma, incoerente ficar criticando o coronelismo Sarney que se instalou por meio século no Maranhão.
A família Sarney só esteve lá (e ainda estão) por todo esse tempo por vontade do povo maranhense e porque as instituições de controle da mesma forma consentiram. Hipoteticamente, se algum político da família Sarney for questionado sobre os malefícios deixados ao longo do tempo, poderia ele falar o seguinte: "Só estivemos (estamos) no poder por todo esse tempo porque o povo assim quis". Falar o que?
No fim das contas, governança política é: "gente cuidando de gente". Isso pode nos levar a pensar que está difícil confiar no brasileiro. Quem sabe se alterarmos a Constituição e permitir estrangeiros concorrerem a mandatos políticos o país melhora. É preciso remodelar o Brasil não só no que versa a governança política, mas até mesmo nas mais simples atitudes que tomamos no dia-a-dia. Do contrário, caímos nas citações do antropólogo Roberto DaMatta, que remonta o Brasil como sendo o país dos "carnavais, malandros e heróis". É possível pensar que carregar a insígnia do "jeitinho" traduzido por DaMatta não é algo que se possa destacar orgulho, principalmente quando o assunto é educação e desenvolvimento.
Sobre a obra referenciada de Roberto DaMatta, você encontra em:
DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. 350 p. ISBN: 8532507603.