O presidente da Câmara Municipal de Ribeirão das Neves, Juarez Carvalho (PSB), concedeu entrevista à nossa reportagem nessa segunda-feira (21), logo após a reunião da Casa Legislativa e falou sobre os assuntos que estão em pauta no momento, como a possível CPI para investigar a Prefeitura, o projeto do aterro sanitário para a cidade, e a questão da transparência no site da Casa, nas reuniões itinerantes e nos horários das sessões. Confira em áudio ou na transcrição da entrevista.
RN.net: CPI
Carvalho: A questão da CPI se dá por necessário levando em consideração ao caos que a cidade se encontra. Eu vou te dar um exemplo de um montante maior de dinheiro que foi anunciado no PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento), de Justinópolis, quando foi dada ordem de serviço, onde a empreiteira Previsan, que venceu o processo, e foi anunciado um prazo de 18 meses (para o fim das obras), e esse prazo findou-se no mês de agosto (de 2015). Todas as vezes que a gente questiona a chefe do executivo, até para dar uma informação para a comunidade, ela nos alega uma questão de greve branca por parte do (Governo do) Estado, na questão da falta do licenciamento ambiental. Resumindo, eu não concordo com isso, porque quando o Governo do Estado era do PSDB e o governo municipal do PT, essa divergência de partido, eu até entenderia. Mas hoje, levando em consideração que o Estado é (governado pelo) PT, o secretário que está lá pode resolver isso, então isso pra mim não cola mais. O que a gente vê é que o pouco que foi feito dessas obras, desse montante de 113 milhões de reais, foi feito um percentual muito pequeno, acredito eu que menos de 10% do que foi anunciado. E a gente fica sem ter informação real para passar para a comunidade. A gente sabe que trouxe prejuízo à comunidade, só para você ter uma ideia, foi destruído uma rua lá e essa rua foi a população que fez (o calçamento) através de parceria com o governo anterior (do ex-prefeito Walace Ventura). Essa CPI tem que existir e a gente está convencendo, ou seja, conquistando o voto dos colegas, levando em consideração que a gente vai ter que fazer uma busca a fundo para que a gente possa levar informação à comunidade, que nos cobra isso, e parece que o executivo não está muito preocupado com isso não. A gente está vendo findar o mandato, faltam 16 meses apenas, e eu não estou vendo qualquer tipo de movimento para que essas obras voltem e retomem seu percurso normal. Sem levar em consideração que a própria prefeita foi na (rádio) Itatiaia e disse que está deixando um déficit de R$ 6 milhões mensal, e a gente fica sem entender o que está sendo feito com o dinheiro do município, levando em consideração que não se pagou a (empresa) Santa Fé, não se pagou a (empresa) Conservo, não se paga o asfalto, o pessoal das empresas alegam pagamentos atrasados, então a gente tem que fazer uma busca para ver o que está acontecendo com o dinheiro do município. E a CPI, eu acredito, não é nada contra a prefeita, nem contra ninguém, mas buscar as informações para que a cidade possa estar a parte.
RN.net: Projeto do aterro sanitário
Carvalho: Na realidade a questão do lixão, primeiro que não é projeto de lixão. Eu sou morador de Justinópolis e eu nunca concordei e não concordo com o verdadeiro lixão que tem em Justinópolis hoje. Eu estava passando por volta das 8 horas da manhã, vindo para a Câmara, quando eu deparei com aquele monte de caminhão na beira da LMG-806, jogando lixo lá, ou seja, pararam de jogar na parte de cima e começaram a jogar na parte de baixo. Eu fui direto para o gabinete da prefeita Daniela cobrar uma justificativa para aquilo, porque a Câmara não foi comunicada, a sociedade não foi comunicada, e a gente sabe que sofremos muito com aquele lixão de Justinópolis, principalmente os bairros São Miguel, Felixlândia e Viena. Eu estava almoçando na casa de um senhor há um tempo atrás, quando ele me disse que todas as vezes que ele almoçava ou comia alguma coisa, tinha ânsia de vômito. Quando eu fui pego de surpresa com essa mudança de local, ou seja, trazendo o lixão para as margens da LMG-806, eu fui direto para o gabinete da prefeita. Eles não queriam me atender, estavam lá naquele momento os vereadores Irineu (Resende, PSDB) e Sidmar Caetano (PR), quando eu pedi para pegar a agenda deles e entrar. Quando eu contei a situação para a prefeita, ela simplesmente não teve muito o que me falar, mas ela me alegou que tinha enviado para a Câmara um projeto para resolver o problema e, no entanto, a Câmara não tinha votado. Eu desci para a Câmara e fiz questão de pegar o meu diretor jurídico e fui até o aterro sanitário na BR-040, e vi que lá realmente era adequado. No projeto da prefeita, que ela tinha nos enviado antes (em 2014), era um projeto que, primeiro, se aterro sanitário particular viesse a receber resíduos de outras cidades, não apontava as vias por onde passar. Então eu fiz questão, junto com o (departamento) jurídico da Casa, é um projeto da minha autoria, eu quero abertamente dizer que eu votei contra o veto da Daniela, sensibilizei os vereadores, principalmente os vereadores de Justinópolis, chamei-os para assumir essa responsabilidade juntamente comigo, e nós acabamos votando o projeto, mas um projeto autorizativo, ele não obriga que a prefeita tinha que receber resíduos de outras cidades, até porque quem dá o licenciamento, o alvará de funcionamento, é o chefe do executivo. Então o chefe do executivo, através do alvará de funcionamento, ia dizer se ele queria receber resíduos de uma cidade, se ele queria receber de 10, resumindo, era com ele. Mas a minha preocupação, o projeto da minha autoria, foi para resolver o problema do lixão, da falta de respeito do chefe do executivo para com Justinópolis.
RN.net: Tramitação pouco transparente do projeto
Carvalho: Na realidade, eu não considero assim não. O problema é o seguinte. Principalmente na oposição, as pessoas que não têm propostas para disputar um mandato, eles se aproveitam de uma situação para jogar a população contra a Câmara. Quero deixar muito claro que eu não sou mais candidato a vereador, já anunciei isso aqui na Câmara, já anunciei para a população, de repente a gente dispute alguma coisa lá na ponta, no executivo, mas isso é para o ano que vem. De qualquer forma, eu quero deixar o meu mandato, ou seja, eu ainda tenho 16 meses de mandato, com toda a responsabilidade. O que aconteceu é que, como eu fui pego de surpresa com a realidade lá de Justinópolis, no mesmo dia eu chamei o pessoal para uma reunião, salvo engano foi no início de junho, e comecei a debater sobre a questão do lixão de Justinópolis. Tanto que nós passamos pelo recesso e eu vim votar esse projeto em setembro. Então não teve nada de "intransparente", só que as pessoas veem na Câmara e só escuta aquilo que é interessante para elas. Até porque no dia que foi votado o projeto, eu dei entrevista para o Acorda Neves, eu dei entrevista para a Web TV, e eu achei interessante que só 10 dias depois é que a coisa explodiu nas redes sociais. Não foi nada escondido, foi uma coisa tranquila, fiquei meio sentido quando o pessoal do Acorda Neves colocou na entrevista com a Daniela que a Câmara fez uma reunião de forma sorrateira, que eu não entendo esse palavreado, não sei qual o significado dele bem, mas parece que é uma coisa escondida, que a Câmara fez uma reunião escondida para votar o veto da prefeita. Não, muito pelo contrário. Na segunda-feira, eu peguei o microfone, chamei os vereadores num acordo pra ver se a gente jogava a reunião na terça-feira, dia 8 de setembro, porque dia 7 era feriado, ou trazia para sexta-feira, e então houve uma decisão que seria na sexta-feira. Foi aberto o microfone, não teve nada de escondido, só que as pessoas as vezes, infelizmente, participam da reunião e tudo, mas tem algumas que só escutam aquilo que é interessante para elas. Não teve nada de escondido, o projeto não teve nada de pressa, comecei a discutir e a chamar a Câmara desde junho. Entendi os vereadores que votaram pela manutenção do veto, eu estou à frente da Casa, mas a minha condução é muito democrática. Respeito o voto dos colegas e foi mantido o veto. Só que nós vamos chamar a população, principalmente de Justinópolis, para que obrigue a prefeita a dar destino àquele verdadeiro lixão que está lá em Justinópolis. Queria aproveitar esta gravação com você e lhe pedir para visitar também o caminho de Areias, aonde eles estão fazendo outro lixão aos poucos, e ninguém fala nada. Resumindo, estou vendo muita gente criticar, principalmente as pessoas que têm intenção de disputar eleição ano que vem, que querem tirar proveito da situação jogando as pessoas contra a Câmara sem conhecer o teor verdadeiro do projeto, simplesmente para tirar proveito da coisa, mas eu não estou vendo ninguém apontar uma solução pr'aquela pouca vergonha que existe hoje em Justinópolis.
RN.net: Site da Câmara desatualizado
Carvalho: Eu até fiquei surpreso, porque por mais que eu já estou há 8 meses a frente da Câmara, eu fui pego de surpresa pelo Fabiano (Diniz, vereaador que apresentou requerimento pedindo atualização do site), porque pra mim tava tudo tranquilo. Nós fizemos um apanhado de preço e eu vi que valeria a pena investir numa profissional concursada de carreira que nós temos na Casa. Então ela está fazendo o curso, eu acredito que nos próximos 15 dias essa questão do site da Câmara estará ok.
RN.net: Reunião itinerante
Carvalho: No mês de julho, até 10 de agosto, estávamos de recesso, eu comi mosca mesmo. Era pra eu ter chamado os vereadores novamente hoje neste assunto para que a gente volte com a Câmara Itinerante.
RN.net: Horários das reuniões
Carvalho: Não sei se você tem acompanhado as reuniões passadas, eu venho chamando os vereadores na discussão porque eu também não concordo com o horário de segunda-feira, às 15 horas. Se dependesse de mim, o meu voto seria para que essa reunião fosse para sexta-feira, às 20 horas, porque o pessoal que está vindo do trabalho, que não trabalha sábado, que gostaria de participar. Eu vou trazer essa discussão, talvez na próxima reunião, para que a gente possa buscar um dia mais tranquilo, ou seja, que dê oportunidade para a população participar.
RN.net: Redução de salários
Carvalho: Eu tenho acompanhado de perto, eu tô vendo que eles estão querendo baixar o salário mesmo é dos vereadores, é o ponto mais forte. Eu concordo, mas desde que não baixe só o (salário) dos vereadores. Eu acho que tem que baixar o salário do William Bonner (âncora da TV Globo), que ganha R$ 3,5 milhões, tem que baixar o do Alexandre Garcia (apresentador da TV Globo), que ganha R$ 2 milhões, tinha que baixar o do Datena (apresentador da Band), o do Marcelo (Resende, apresentador da Record), tinha que baixar dos jogadores de futebol. Ai você fala "mas o cargo deles não tem nada a ver com dinheiro do povo". Acaba que isso é tudo dinheiro do povo, se você não vai lá comprar um ingresso para ir ao Mineirão, se você não compra uma camisa e tudo, não tem salário para pagar os jogadores. Se você não vai lá na Globo assistir a propaganda de um shampoo, não paga o salário do Alexandre Garcia. Eu acho que tinha que haver uma mobilização geral no país para abaixar o salário de muita gente. Primeiro, vereador não é profissão. Eu sou comerciante. Segundo, eu acho um exagero, principalmente diante dos problemas que temos hoje com saúde, educação e segurança, o ser humano ganhar mais de R$ 25 mil. Eu vou responder por aquilo que eu represento que é a questão da vereança. Se tiver consenso com os colegas aqui, não tem dificuldade nenhuma. Não é porque eu não serei candidato a vereador mais não, até porque o salário do político de cargo eletivo é votado de um mandato para o outro. Para você ter uma ideia, nós votamos o salário desta Câmara, salvo engano em setembro de 2012, antes das eleições, e você não sabe quem vai ganhar. Nós podíamos chegar a um teto de até 15 mil reais, mas entramos num consenso de ficar em R$ 10.700. É uma discussão que deve ser amadurecida, mas se for consenso, você pode ter certeza que eu sou o primeiro a assinar.
RN.net: Considerações finais
Carvalho: A respeito do projeto do aterro sanitário, a gente viu que tem muitas pessoas que, talvez por má fé, tentaram induzir as pessoas contra a Câmara, dizer que, primeiro, o que a gente faz aqui não tem nada de escondido. Eu quero chamar Justinópolis para que a gente resolva o problema do lixão de Justinópolis. E no mais agradecer a você que está me dando essa oportunidade, você falou que vai publicar aquilo que a gente está depondo aqui, porque ao contrário de algumas redes sociais, e aí eu chamo a atenção do Acorda Neves, da própria Web (TV), da própria Itatiaia, que eu tentei através da minha assessoria, através até de deputados que trabalham na Itatiaia, para que a gente tivesse a oportunidade de falar do projeto. Aquilo que pra eles foi de interesse da população, eles publicaram, mas essa entrevista que foi dada por mim, nem o Acorda Neves nem a Web (TV) publicou. Eu estou à disposição do seu programa e de qualquer um outro, eu só gostaria de quando for publicar, que fosse publicado com justiça. Publicam uma coisa que é maldosa e a população acha que é verdade, e na realidade a verdade não é essa.