Durante 13 anos, o ex-vice-presidente José Alencar enfrentou com coragem a luta contra o câncer, sendo que diversas cirurgias foram realizadas e também tratamento alternativo nos EUA. O ex-vice-presidente da República José Alencar (79), faleceu às 14hs41min dessa terça-feira (29), no hospital Sírio-Libanês em São Paulo.
Segundo informou o hospital, houve falência múltipla dos órgãos. O ex-presidente se internou várias vezes e estava desde segunda-feira (28) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sírio Libanês com quadro de suboclusão intestinal. A luta de José de Alencar contra o câncer durou vários anos, mas nos últimos meses, a situação se complicou.
Após ser internado durante 33 dias no Natal e Ano Novo, o ex-vice-presidente deixou o hospital no último dia 25 de janeiro para ser um dos homenageados no aniversário de São Paulo. A internação havia sido motivada pelas sucessivas hemorragias e pela necessidade de tratamento do câncer no abdômen.
No dia 26 de janeiro foi autorizado pela equipe médica do hospital a permanecer em casa, entretanto, acabou voltando ao hospital dias depois. Durante o período de internação, José Alencar demonstrou interesse de ir a Brasília para participar da posse da presidenta Dilma Rousseff, porém, desistiu após a insistência da mulher, Mariza. No hospital vestiu um terno, chamou os jornalistas e concedeu uma entrevista coletiva, onde explicou por que não iria a posse da Dilma e afirmou que sua missão havia sido “cumprida”.
Os últimos dias de José de Alencar foram de várias internações sucessivas e, em 9 de fevereiro, foi hospitalizado devido a uma perfuração no intestino. O vice-presidente José de Alencar já havia estado internado de 23 de novembro a 17 de dezembro para tratar de uma obstrução intestinal provocada por tumores no abdômen. Em 27 de novembro foi submetido a uma nova cirurgia para retirada de parte do tumor e de parte do intestino delgado.
Os fatos marcantes do político mineiro José Alencar
O empresário bem-sucedido de José Alencar, começou a trabalhar muito novo vendendo tecidos e iniciou a carreira política em 1994. Nasceu no dia 17 de outubro de 1931, em Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira. Era o 11º filho de um comerciante e uma dona de casa, e conseguiu o primeiro emprego aos 14 anos numa loja em Muriaé. Sem dinheiro para alugar um quarto, dormiu no corredor de um pensionato.
Através de um empréstimo do irmão, abriu a sua primeira loja de tecidos, em Caratinga, batizada de “A Queimadeira”, pois vendia de tudo a preços populares. A seguir, vendeu a loja e virou vendedor atacadista de tecidos. Trabalharia ainda como comerciante de grãos e sócio de uma fábrica de macarrão.
Em 1957, obteve um empréstimo da extinta Sudene e apoio do Bando de Desenvolvimento de Minas Gerais, e fundou, em Montes Claros, a Coteminas, que se tornou uma das maiores empresas do setor têxtil do país.
Entra para a Federação das Indústrias de Minas Gerais em 1989, tornando-se presidente durante 15 anos (1989-1994). O empresário dirigiu também a Associação Comercial de Minas e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte.
Após 1993, o filho Josué Christiano Gomes da Silva, assumiu o comando da Coteminas para que o pai dedicasse à carreira política. O filho Christiano assume a vice-presidência e a superintendência geral do grupo têxtil.
Resolve candidatar-se em 1994 pelo PMDB ao governo de Minas e obtém 10,71% dos votos válidos, ficando em terceiro lugar na disputa. Em 1997 realiza uma cirurgia para retirada de tumores nos rins e no estômago. É eleito senador com quase 3 milhões de votos, cuja campanha foi uma das mais caras do país, que segundo o TRE-MG, foram gastos R$ 6,4 milhões.
O senador volta à mesa de operações em 2000 e desta vez para retirada de um tumor na próstata. Desfilia-se do PMDB em 2001 e, um mês depois, entra para o PL após, porém, receber convites do PTB e PSB.
Com a aliança entre o PT e o PL, em junho de 2002, torna-se vice na chapa vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Em 2004 passa a acumular o cargo de vice-presidente e de Ministro da Defesa, que exerce até 2006.
A crise do mensalão em 2005, faz com que José Alencar deixe o PL e, junto a outros ex-integrantes da sigla, participa da fundação do PRB (Partido Republicano Brasileiro). Nesse mesmo ano, realiza uma nova internação e, desta vez, é submetido a uma angioplastia.
Apesar dos problemas sérios de saúde, em 2006, Alencar aceita o convite de Lula para integrar novamente a chapa como vice. São reeleitos para o mandato que vai até 2010. No mesmo ano, realiza duas cirurgias para retirada de um turmo no abdômen.
Do abdômen, o câncer se espalha em 2007 e atinge o peritônio, membrana que reveste a região, e é internado no Hospital Sírio-Libanês, onde é novamente operado. Em 2008, entre os dias 3 e 6 de janeiro, o vice-presidente volta ao hospital, após exames apresentarem uma reincidência do turmor abdominal. Em agosto, inicia tratamento com um novo medicamento, a Trabectedina, utilizada para combater novos tumores abdominais detectados durante exames. Em setembro se submete a uma nova cirurgia para a retirada de três tumores, cujo procedimento durou seis horas.
Durante uma visita a Resende (RJ), em 19 de novembro de 2008, sentiu fortes dores abdominais, que levaram o ex-vice-presidente a nova internação. O diagnóstico foi enterite (inflamação intestinal), que segundo os médicos, não tinha relação com o câncer. Após vinte dias, o ex-vice-presidente foi internado novamente e desta vez para tratar de um quadro de insuficiência renal e deixou o hospital no dia 20 de dezembro.
Em janeiro de 2009, exames detectaram novos tumores no abdômen, e uma cirurgia de 18 horas foi realizada. A cirurgia foi a mais delicada realizada no ex-vice-presidente. Em maio exames detectam a recorrência da doença e o vice-presidente é novamente encaminhado para os Estados Unidos para se submeter a um tratamento experimental contra o câncer, cujos remédios ainda estão em fase de testes. Em julho, o vice-presidente volta a ser internado com fortes dores abdominais devido a obstruções nas alças (dobras) do intestino. É realizada uma nova cirurgia no dia 9 para desobstrução do órgão e retirada de novos tumores.
O Hospital Sírio-Libanês informou em 2010, que o tumor do vice-presidente da República, José Alencar, apresentava redução. No início de maio, numa das idas ao hospital para quimioterapia, Alencar apresenta pressão alta e os exames apontam isquemia cardíaca e uma obstrução grave numa das artérias. O vice-presidente passa por um cateterismo e uma angioplastia e recebe um “stent”, um mecanismo que “alarga” a artéria, e fica nove dias internado. No final de maio, queixando-se de fadiga, é internado novamente e após exames, o hospital constata que é anemia e tem um “quadro congestivo pulmonar”, consequência da quimioterapia.
A professora aposentada Rosemary de Morais (55) obtém na Justiça, em julho 2010, o reconhecimento de que é filha de Alencar, após o ex-vice-presidente se recusar a fazer o teste de DNA. No final de agosto, Alencar contrai infecção, tratada com antibióticos, e é novamente internado poucos dias depois, no início de setembro. O diagnóstico é de edema agudo de pulmão, que o deixou mais seis dias no hospital. No dia 25 de outubro volta ao Sírio-Libanês ao apresentar um quadro de suboclusão intestinal, e dias após a internação, ainda no hospital, sofre um infarto no fim da tarde do dia 11 de novembro. De 23 de novembro a 17 de dezembro, Alencar fica internado para tratar de uma obstrução intestinal decorrente dos tumores no abdômen e no dia 27 de novembro, é submetido a uma cirurgia para retirada de parte do tumor e de parte do intestino delgado.
A nova internação de Alencar é por causa de um quadro de hemorragia digestiva grave, e os médicos tentam uma cirurgia de emergência, porém, foi impossível chegar ao ponto do sangramento, o que leva a equipe a usar medicamentos para conter a hemorragia, que é volta a ser verificada no dia 24. Um novo procedimento é realizado quatro dias depois, com sucesso na tentativa de localizar o ponto da hemorragia.
No dia 25 de janeiro é um dos homenageados no aniversário de São Paulo, após 33 dias de internação e, em 9 de fevereiro, Alencar volta a ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após uma perfuração no intestino. O ex-vice-presidente volta a ser internado no Hospital Sírio-Libanês, no dia 28 de março, com quadro de “suboclusão intestinal, em condições críticas”.
Fotos: Divulgação