Convidado pelo portal RIBEIRAODASNEVES.NET, a conceder uma entrevista, o ex-prefeito municipal, Sr. Creso Vilas Boas, falou um pouco e com exclusividade, sobre a família e de vários fatos históricos importantes de Ribeirão das Neves, repletos de boas lembranças.
Nascido em 5 de janeiro de 1919, em Tebas, município de Leopoldina-MG, é filho do casal Osvaldo Vilas Boas (Bombeiro Militar) e Marinha Ávila Vilas Boas. É irmão de Edmar Vilas Boas, ex-Coronel da Polícia Militar, que ocupou o cargo de Chefe do Estado Maior. Em 1952 casou-se com Áurea dos Santos e tiveram dez filhos. A seguir, a entrevista completa com o nosso convidado:
RN.net - Com a construção da Penitenciária Agrícola de Neves e sem o quadro de funcionários formado, o governador Benedito Valadares arregimentou vários Bombeiros e Policiais Militares para a inauguração, que ocorreu no dia 24 de julho de 1937. Nessa leva estava o pai do Senhor?
Creso - Sim. O meu pai era Bombeiro Militar e veio com outros amigos bombeiros e PMs ajudarem na inauguração. Não me lembro de todos que vieram, apenas do Sargento Volteri (Bombeiro), do Tarcísio Drumond, também Bombeiro e do José Monteiro.
RN.net - Sabemos que o Senhor é um grande conhecedor da história de Ribeirão das Neves. Seria possível falar a respeito da inauguração da Penitenciária Agrícola de Neves e quais eram os políticos de destaque naquele momento político nacional?
Creso - A festa de inauguração da PAN foi belíssima e contou com a presença do então presidente da república, Getúlio Dorneles Vargas, do governador Benedito Valadares e do Dr. José Maria Alkmim. Eu e todos os alunos das escolas aguardamos a chegada do presidente próximo ao portão de entrada da PAN. Assim que o presidente Getúlio se aproximou, agitamos as bandeirinhas. Os políticos de destaque daquele período eram: o governador Benedito Valadares, o prefeito de Belo Horizonte, Dr. Juscelino Kubistcheck e Dr. José Maria de Alkmim. É importante registrar que o primeiro diretor da Penitenciária Agrícola de Neves foi o Walter Euler e não o Dr. José Maria de Alkmim como muitos pensam.
RN.net - Assim que a penitenciária formou o quadro de funcionários, vários militares voltaram as funções anteriores em Belo Horizonte, inclusive o seu pai Osvaldo, que partiu em 1938. Quando é que o Senhor voltou para Neves?
Creso - Já morando em Belo Horizonte, resolvi mudar para o Rio de Janeiro e em 4 de agosto de 1951 retornei para Neves para trabalhar na penitenciária como eletricista, posteriormente como ecônomo, e me aposentei como professor do Ensino Básico. Assumi também a direção da antiga Colonia Agrícola, atual Antônio Dutra Ladeira.
RN.net - Sem a preocupação de citar com exatidão a disposição de chegada de cada diretor, poderia mencionar alguns nomes?
Creso - O primeiro foi o Walter Euler esposo da Dona Lalita. Depois vieram o Dr. José Maria de Alkmim, o Dr. Floriano Francisco de Paula, Expedito Perdigão, Dr. Alberto Teixeira, Dr. Itamar de Barros, Cel.Lauro Pires de Carvalho, Major Walter Viana, Des. Agostinho Oliveira Jr., Dr. Jésus Trindade Barreto, General Osmar Soares Dutra, General Elzébio Cunha Mendes (Sub-diretor), delegado José Alencar Rogedo, Dr. Jason Albergaria, Cel. Celso Sérgio Ferreira, entre outros.
RN.net - O Dr. José Maria de Alkmim quando diretor, fornecia parte da produção de alimentos produzidos pela Penitenciária Agrícola de Neves para a Santa Casa, onde era o Provedor. Ainda em Minas foi secretário de Finanças do governador Juscelino Kubistcheck, assumiu o Ministério da Fazenda no governo JK e acabou indicado para ser o vice-presidente do Marechal Castelo Branco. Que lembranças o tem do Dr. José Maria aqui em Neves?
Creso - Nenhuma, pois quando o Dr. José Maria de Alkmim assumiu a direção da penitenciária estava apenas com oito anos. O Dr. José Maria era um político com um grande número de correligionários aqui em Neves e, após afastar-se do cargo de diretor, visitou Neves durante muitos anos, inclusive, a Fazenda dos Pilões, onde gostava muito de pescar.
RN.net - Qual foi o diretor responsável por ocupar profissionalmente os internos na produção de móveis de vime, sapatos, chuteiras, bolas e brinquedos, que eram vendidos numa loja localizada à Rua Paulo de Frontin, próximo à Rodoviária?
Creso - No meu entendimento foi o Dr. Alberto Teixeira. As vinte e duas oficinas de manutenção e as fábricas de sapatos, móveis de vime, colchões, chuteiras, bolas e brinquedos produziram até 1983, data que coincidiu com a minha aposentadoria.
RN.net - Poderia citar alguns nomes de amigos e amigas daquela época na PAN?
Creso - Eram muitos e não conseguiria lembrar de todos. É natural ter na memória os nomes daqueles com quem mantinha contato diário: o Sr. João Carvalho, Edelberto Silveira do Espírito Santo, Heitor Clementino Rocha, Aprígio Mariani de Matos, Efigênia Neves Araújo, Inês da Glória Campos, Lucília Andrade Glória, Francisco de Paula Diniz, Eliseu Pereira da Silva, Antônio Pereira da Silva, Otto Nunes Leite, José Aurélio de Melo, João Gonçalves Neto, Clóvis Perdigão, Tarcísio Drumond, Valdemiro Custódio Campos, Jacinto Bernardes Souza, Eduardo Munhoz, Ireno Guimarães, José Acorsi, José Fábio Piazza e muitos outros.
RN.net - Era comum alguns funcionários pescarem numa fazenda em Jequitibá, onde havia grande plantação de manga. O Senhor se lembra da localização da fazenda?
Creso - A fazenda Jequitibá pertencia ao município de Sete Lagoas e com a emancipação se tornou cidade de Jequitibá. Por volta de 1957 havia na fazenda, que pertencia ao Estado, uma grande plantação de capim taboa. É uma planta aquática que possui um pendão na ponta e muito utilizada em artesanato. Aqui na penitenciária se utilizava o taboa na fabricação dos móveis de vime. Sempre que necessário os caminhões buscavam a taboa na fazenda em Jequitibá. Aqui em Neves existia uma grande quantidade do capim taboa no antigo açude.
RN.net - Quando e como o Senhor entrou para a vida política?
Creso - O ex-prefeito municipal, Sr. Antônio Rigueira da Fonseca, foi eleito tendo-me como vice, e com o afastamento do Rigueira por licença médica por 90 dias, assumi a Prefeitura no dia 10 de agosto de 1965, porém, fiquei no poder Executivo municipal por exatos sete meses.
RN.net - Nesses sete meses foi possível realizar alguma obra?
Creso - Sim e com muita dificuldade, pois a Prefeitura não tinha recursos. Não obstante, foi possível construir a ponte do Misongue, o primeiro Posto de Saúde da cidade, o atual Posto de Saúde Joanico Cirilo de Abreu, canalizar parte do córrego da Av. dos Nogueira e construir uma ponte próximo à fazenda do ex-prefeito José Ramos Gomes em Justinópolis.
RN.net - Além da grandeza de ser um ex-prefeito, o Senhor já foi homenageado com um Cartão de Prata pelo ex-prefeito, Washington Modesto, e agraciado com o Título de Cidadão Honorário de Ribeirão das Neves. O Senhor se sente reconhecido por sua participação na história de Neves?
Creso - Sim, e deixo aqui, o meu abraço sincero a todos os amigos dessa cidade e, principalmente, a todas as famílias tradicionais de Neves que acolheu de forma carinhosa a todos nós que chegamos de outras cidades para trabalhar na penitenciária. Agradeço a todos que de alguma forma reconheceram meu trabalho e me homenagearam. Um abraço a todos.
Legenda: O ex-prefeito Creso Vilas boas inaugurando a ponte do Misougue; Creso e a esposa D. Áurea na inauguração do I Posto de Saúde da cidade, atual Posto de Saúde Joanico Cirilo Abreu; Creso recebendo, em 26.01.1988, do ex-prefeito, Washington Modesto, o Cartão de Prata e, em 1996, recebendo do ex-vereador Simeão Correia, o Título de Cidadão Honorário de Ribeirão das Neves