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Ribeirão das Neves e as cidades inteligentes

Os mecanismos que podem ser utilizados para melhorar a qualidade de vida da população nevense atendendo também aos anseios da juventude

Nos anos 60, mais especificamente em 1968, em território francês, iniciou-se uma discussão acerca do que se denominou "Direito à Cidade", onde sob a liderança do renomado autor Henri Lefebvre os movimentos populares da Grande Paris destruída pelo processo de industrialização indiscriminada no pós-guerra começaram a levantar a necessidade de se pensar o espaço urbano para além das fábricas e da servidão ao processo industrial, gerando um "acesso renovado e transformado à vida urbana", ou seja, que as pessoas fossem o centro do debate da urbanização, em que se pense o contexto social municipal a partir das populações que ali habitam e suas questões culturais, sociais, econômicas e políticas, e não somente pela produção do capital.

Ribeirão das Neves é um município que atravessa três problemas graves relacionados à gestão do espaço urbano: falta de planejamento adequado, falta de indústrias que gerem empregos de qualidade que fornecem rendas mais altas aos habitantes e políticas públicas adequadas de incentivo a Cultura, Participação Política e Social e Inserção econômica de seus habitantes, principalmente da juventude que representa a maior parte da população, sendo segundo o IGBE aproximadamente 84.478 jovens (14 a 29 anos) em Ribeirão das Neves, representando 22,23% das pessoas que habitam o Município.

Tem-se estado em voga dentro dos quadros de Planejamento Urbano um debate que trata sobre o que se denomina "Cidades Inteligentes" como solução da maioria dos problemas apresentados em espaços municipais. Segundo a IESE Business School da Espanha, são nove às variáveis que permeiam uma CI para que esta se enquadre nesse conceito: Valorização do Capital Humano como centro da Cidade e o porquê dela ser planejada deste ou daquele jeito, Coesão Social entre seus membros para atender o requisito de Coletividade, Economia centrada na valorização do Ser Humano e acesso aos produtos por todos (Economia Solidária e Colaborativa), Respeito ao Meio Ambiente, Governança no Setor Público, Planejamento Urbano adequado, que a cidade consiga ser interconectada com qualquer país (seja politicamente, economicamente ou administrativamente), alta Tecnologia nos espaços públicos e privados e por fim, uma mobilidade urbana que atenda as pessoas em todas as suas necessidades de locomoção, e não só na que tange ao trabalho.

Uma Cidade Inteligente tem como norteador os princípios de gerar qualidade de vida em conjunto com a sustentabilidade, se utilizando de Sensores que realizam duas tarefas: coleta de dados, tanto nos espaços públicos quanto privados, e gerenciamento automático de recursos por meio da Internet das Coisas (rede de objetos físicos capaz de reunir e de transmitir dados) de modo a controlar o trafego urbano, o transporte público, a quantidade de energia gasta e desperdiçada, a quantidade de água efetivamente aproveitada e a quantidade que não atendeu a nenhum fim social, a disponibilidade de saneamento básico e, por fim, o mapeamento de crimes de modo a gerar dadas as forças de segurança pública para atuar especificamente naquela área. Existe uma alta interação com os serviços públicos, onde ao unificar sustentabilidade, geração de dados em tempo real e gerenciamento automático de recursos, reduzem-se os custos com desperdício aumentando a disponibilidade de receita para investimento em políticas públicas de incentivo a Cultura, Emprego, Esporte e demais necessidade elencadas pela população a partir da constituição de um orçamento participativo.

Ribeirão das Neves demanda um planejamento público que transite por este caminho, em que se alia participação popular, acesso a tecnologia nos espaços públicos, valorização da juventude local e incentivo a políticas que assistam a estes como trabalhadores, estudantes e sujeitos de direito, e por fim a constituição de uma cidade que consiga se gerenciar de modo sustentável e efetivo a partir dos recursos disponíveis, mas é preciso se tomar certos cuidados.

Gentrificação é um processo de mudança dentro de determinado espaço urbano em que se ao melhorar a qualidade de vida da população local, gerando empregos de qualidade, aumentando o acesso a tecnologia, melhorando a mobilidade urbana e acesso a cultura ocorre uma substituição em que as populações históricas do local vão sendo retiradas e lançadas novamente a locais de baixa salubridade para dar espaço a populações mais ricas, vide os casos ocorridos no Complexo do Vidigal (RJ) que sofreu alta intervenção pública para realização das Olimpíadas de 2016, e de Itaquera que sofreu o mesmo processo para a Copa do Mundo FIFA de 2014, em que as populações locais não tiveram condições socioeconômicas de permanecerem em seu espaço histórico devida a atração por parte de populações mais ricas para o local devido a melhora efetiva na qualidade de vida.

Este é o ponto para Ribeirão das Neves quando se vai discutir uma política pública a sua população no geral, mas principalmente a jovem que é quem vai conviver com este processo de forma mais densa, onde é necessário que se planeje um modelo que se assemelhe ao proposto pelas "Cidades Inteligentes", que atenda as necessidades econômicas, socais, culturais e políticas, mas que também crie mecanismos que protejam as populações locais de perderem condições de aqui permanecer após verem seus anseios históricos sendo atendidos.

 

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