O cineasta Rodrigo Beetz dirige seu segundo filme, todo gravado no bairro Veneza em Ribeirão das Neves. Estrelado pelo também nevense Brayan Pinto de Oliveira, "Cê lá faz ideia" tem o mesmo nome da música do rapper Emicida. O filme conta a história de um jovem da cidade de Ribeirão das Neves, que apesar da vida dura segue contrariando as estatísticas. Veja abaixo uma entrevista com o cineasta sobre a sua mais nova obra.
RN.net: Beetz, "Cê lá faz ideia", conta pra gente sobre o que fala esse filme?
Esse filme é uma pequeno de vários relatos que temos aqui na quebrada, história de vida que pode servir de inspiração pra alguns. Um filme que se torna a partir de um relato espontâneo onde eu não tinha roteiro. E que o depoente no final das gravações sentou naquela pedra e começou a falar aquelas coisas naturalmente, esses relatos me deram esse projeto.
RN.net: O nome do filme é de uma música do rapper Emicida que fala de preconceito e lugar onde a pessoa mora, a ideia do filme é essa também dar representatividade para quem mora na periferia?
A gente que reside em Neves já sofre preconceito por falar onde moramos entende, queremos mostrar em nossos trabalhos que aqui tem gente de bem, honesta e trabalhadora. Aqui tem cultura, tem pessoas incríveis que infelizmente não são vistas por esse preconceito. Essa música diz bem isso por isso se tornou referência pro filme.
RN.net: Os seus filmes tem sempre a temática do hip hop, do local de fala da periferia, do racismo, fala da importância desses temas no cinema? Ainda você que vivencia isso na pele?
Meus filmes são de preto, preto nao pela cor mas pelo que vive saca , o hip hop me proporcionou muitas coisas boas uma delas foi não entrar no crime e faço dele a minha arma pra alcançar vidas. O racismo eu já vivi de perto e não foi só uma vez, já chorei pra bastante por não poder entrar em um estabelecimento no centro mano. Tem coisas que me deixam revoltado, depois que entrei na faculdade minha raiva só aumentou, vejo ali o tão grande é o desnível entre o pobre e o classe média. Essas coisas me inspiram a fazer meus filmes saca, me fez bem essa raiva. Usei ela pro lado positivo e me inspiro em um verso do facção central “...estuda, escuta o professor... Usa teu ódio pra conseguir um diploma, morô”.
RN.net: O cinema é um produto que não tinha muita essa questão do ator negro estar sempre representado, temos inúmeros exemplos atuais. Recentemente vi uma entrevista com o personagem Buscapé do filme Cidade de Deus que hoje está trabalhando de Uber porque não conseguiu emprego de ator. Talvez isso seja um processo também que esteja mudando, como no caso de filmes como Corra, do diretor Jordan Peele. Pantera negra que tinha sua maioria de atores negros. Como é essa discussão dentro do cinema, principalmente o brasileiro?
O povo preto tem consquistado o mundo, talentos incríveis tem sido descobertos e Jordan Peele é um deles, o cara tem colocado os boy no bolso lá fora mano, mas isso ainda não é uma realidade no cinema brasileiro. Além de lutarmos contra o racismo e condições sociais , temos leis pra fazer filmes que só contribuem pros senhores do engenho. Pouca verba pra fazer as coisas acontecerem e consequentemente os talentos ficam encobertos. É uma parada tensa que infelizmente só vai mudar se tiverem leis audiovisuais justas que tratem todos como iguais. Não basta apenas conseguir fazer um filme , temos que conseguir distribuir eles também, pra que ele possa circular e gerar renda para continuar a fazer outros e não cairmos no anonimato.
RN.net: Quais são seus projetos para o futuro?
Tenho estudado pra assumir a direção de fotografia, meus projetos estão mais voltados pra trabalhar em filmes de publicidade, é um caminho bom pra se seguir também. Continuaremos e fazer nosso corre dos filmes na guerrinha também. Pretos no topo é o foco!
Quem quiser conferir, o filme está disponível no Youtube.