O diretor e criador Eliseu Gomez, morador de Ribeirão das Neves, está rompendo barreiras com seu desenho animado independente, "A Liga do Atol", primeiro desenho animado produzido na cidade. O projeto, que une aventura infantil e a urgente causa ambiental, acaba de entrar em fase de licenciamento para exibição na TV, prometendo levar a criatividade mineira da periferia para a tela nacional.
A ideia de "A Liga do Atol" nasceu da sensibilidade de Eliseu ao se deparar com a poluição marinha. Inspirado por uma reportagem sobre um caranguejo usando lixo como abrigo, o diretor uniu sua paixão pela animação com a conscientização ambiental, criando um universo onde quatro amigos improváveis lutam para proteger o ecossistema ameaçado.
"Uni minhas duas grandes paixões: a animação e a causa ambiental. Olhei para a temática da poluição dos oceanos e pensei em como torná-la acessível e envolvente para o público infantil," explica Eliseu, que já contribuiu para canais de sucesso como 3 Palavrinhas e Sheepelitos.
Resiliência e Identidade Local
Apesar da inspiração em clássicos como Capitão Planeta e Free Willy, a produção de "A Liga do Atol" enfrentou o principal desafio do audiovisual fora dos grandes centros: a produção independente com recursos limitados.
"Fazer animação independente no Brasil hoje é sinônimo de resiliência. Fora dos grandes centros, o desafio se multiplica," afirma Gomez.
Contudo, a origem em Ribeirão das Neves é vista como uma força motriz. Eliseu ressalta que "a força, a criatividade e a resiliência do povo nevense" inspiram a coragem de seus personagens. Ele defende maior investimento contínuo e descentralizado em editais e Espaços de Formação e Exibição para que o potencial audiovisual da cidade possa florescer.
Com a iminente chegada à TV e planos de novos projetos que misturam 2D e live action, Eliseu Gomez se consolida como um nome a ser acompanhado, provando que é possível transformar histórias da periferia em conteúdo de impacto nacional. Hoje “A Liga do Atol” está no Minas Play, um canal de streaming gratuito da EMC (Empresa Mineira de Comunicação) e na BOX KIDS TV (Nossa TV – Canal 39 e Vivo Fibra – IPTV: 561) e também está disponível no YouTube: https://www.youtube.com/@aligadoatol
Confira a entrevista completa abaixo:
1. Como nasceu a ideia de A Liga do Atol?
A ideia de "A Liga do Atol" veio depois que assisti uma matéria na TV que falava de um caranguejo que devido a poluição estava usando lixo ao invés de uma concha. Então, uni minhas duas grandes paixões: a animação e a causa ambiental. Eu sempre quis criar um universo onde a aventura e a diversão pudessem caminhar lado a lado com uma mensagem importante. Olhei para a temática da poluição dos oceanos, que é um problema global urgente, e pensei em como torná-la acessível e envolvente para o público infantil. A figura do atol, como um pequeno ecossistema ameaçado, virou o palco perfeito para a nossa história, onde quatro amigos improváveis se unem para proteger o seu lar. Foi uma maneira de transformar a preocupação em ação criativa.
2. Quais foram as principais inspirações para criar o universo e os personagens do desenho?
As inspirações são diversas! Do ponto de vista estético e narrativo, temos referências clássicas de desenhos animados dos anos 90 e 2000 como Free Willy, Capitão Planeta que trabalham com equipes e superação de desafios, como as animações de aventura e super-heróis.
Para os personagens, a inspiração veio da observação da diversidade da vida marinha e da criação de personalidades que se complementam, refletindo a importância do trabalho em equipe.
3. Quais desafios você enfrentou durante a produção da animação?
O principal desafio, sem dúvida, foi a produção independente com recursos limitados. Fazer animação no Brasil já é um desafio, e fazer de forma independente exige muita resiliência. Tivemos que ser extremamente criativos e eficientes em todas as etapas, desde o roteiro e o storyboard até a finalização.
4. Como é fazer animação independente no Brasil hoje, especialmente fora dos grandes centros?
É uma jornada de paixão e muita luta. Fazer animação independente no Brasil hoje é sinônimo de resiliência. Fora dos grandes centros, o desafio se multiplica. Há menos acesso a editais, a infraestrutura e a formação especializada são mais raras.
No entanto, estar em um lugar como Ribeirão das Neves nos dá uma perspectiva única, uma voz que ecoa as realidades e a criatividade da periferia. Isso enriquece a obra. A tecnologia democratizou um pouco as ferramentas, mas a captação de recursos e a visibilidade ainda exigem um esforço extra e muita articulação com coletivos e festivais locais.
5. Qual mensagem A Liga do Atol quer passar para o público?
Preservação Ambiental: O mar é nosso, e a responsabilidade de cuidar dele é de todos.
O Poder da Amizade e do Trabalho em Equipe: Juntos, mesmo sendo pequenos, podemos enfrentar grandes vilões e resolver problemas gigantescos.
6. Como você começou no audiovisual e na animação?
Desde pequeno sempre fui fascinado com os desenhos da TV e tudo começou quando eu entendi que poderia escrever minhas próprias histórias, criar meus personagens e mundos mágicos. Comecei no audiovisual de forma autodidata, criando conteúdo para internet e vídeos para mídia indoor e TV. E foi justamente A Liga do Atol que me motivou a escrever ainda mais e buscar formas de produzir a animação.
7. Quais foram os principais aprendizados da sua caminhada como diretor e criador?
O maior aprendizado é que a perseverança supera a falta de recursos. Entendi que o criador precisa ser, antes de tudo, um articulador e um líder de equipe. Aprender a valorizar cada etapa do processo, desde o design de som até a distribuição, e a manter a visão original do projeto, mesmo diante das dificuldades. Além disso, aprendi a importância de ouvir o público e as pessoas que me apoiam, pois são eles que dão sentido ao trabalho.
8. Você já trabalhou em outros projetos? Pode contar um pouco sobre eles?
Sim, antes e em paralelo a "A Liga do Atol", estive envolvido em projetos do 3 Palavrinhas e Sheepelitos, ambos canais de muito sucesso no Youtube.
9. Como Ribeirão das Neves influenciou sua trajetória artística?
Em um local onde o acesso à cultura e ao entretenimento é mais restrito, o audiovisual surge como uma ferramenta poderosa de transformação. A força, a criatividade e a resiliência do povo nevense me inspiram a cada dia. Embora "A Liga do Atol" se passe no mar, a coragem dos personagens e a importância de defender o seu lar refletem o espírito de quem luta por seu espaço.
10. Você vê potencial para o audiovisual crescer em Neves? O que falta para isso acontecer com mais força?
Vejo um potencial enorme! A criatividade e a sede por contar histórias estão aqui, nas ruas, nas escolas, nos talentos escondidos. O que falta para o audiovisual crescer com mais força em Neves é o Investimento Contínuo e Descentralizado. Mais editais municipais e estaduais que olhem especificamente para a produção fora dos centros e que fomentem a cadeia produtiva local. Também de Espaços de Formação e Exibição com oficinas técnicas, laboratórios de criação e cineclubes/espaços de exibição regulares que criem uma cultura cinematográfica contínua. E também fortalecer a rede entre os artistas locais, produtores e gestores culturais, como o que acontece em iniciativas como o Festival de Cinema de Ribeirão das Neves, para que a gente se una e se fortaleça.
11. Você tem novos projetos em mente?
Com certeza! A mente de um criador nunca para. Meu foco principal agora é continuar desenvolvendo a história de "A Liga do Atol", explorando novos episódios e aprofundando o universo dos personagens. Além disso, tenho a ideia de um novo projeto que busca unir a animação 2D com o live action, contando histórias de dois irmãos que viajam pelo espaço a bordo de um foguete movido por um combustível muito especial.
12. Qual conselho daria para jovens criadores de periferia que sonham em trabalhar com cinema ou animação?
Meu conselho principal seria: Comece com o que você tem, onde você está, e conte a sua história. Ouvi uma frase uma certa vez, e desde então ela tem sido o meu mantra: Faça o melhor com aquilo que tem, enquanto não tem condições melhores para fazer melhor ainda.
